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Pesquisadores debatem governança e redes sociais

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Publicado em:25/04/2019

Campos seculares de análises conceituais, ativismo digital, participação social e o papel das mídias sociais foram discutidos no Centro de Estudo Miguel Murat de Vasconcelos (Ceensp/ENSP) sobre Redes sociais e governança em saúde. O encontro reuniu pesquisadores nacionais e internacionais, que debateram conceitos e falaram sobre os novos desafios mundiais.

 

Pesquisadores debatem governança e redes sociais

 

A convidada europeia, que é pesquisadora da Universidade de Coimbra, Silvia Portugal, discorreu sobre a tendência generalizada de implantação de modelos globais, em especial no sistema nacional de saúde de Portugal. Ela comentou que o conceito da governança não a deixa muito confortável, e isso tem a ver com o modo como ele foi introduzido na área da Saúde em seu país. “Ele resulta da implantação de um modelo muito tecnocrático, burocratizado e com linguagem centrada nas dimensões organizacionais do SUS português (o Sistema Nacional de Saúde (SNS). O que tenho observado é que essas linguagens, conceitos e modelos se relacionam com uma tendência de implementação de modelos globais, que acontecem pela dominação das políticas públicas para uma globalização neoliberal. Tais modelos ratificam dimensões como organização e gestão e obscurecem outras”, disse a pesquisadora. 

 
Silvia ressaltou sua preocupação com o que é tornado invisível nesse tipo de abordagem. “O que temos observado em Portugal, e na Europa de um modo mais geral, é uma forte retração das políticas públicas e do estado social (estado de bem-estar). Isso tem a ver com a expansão do modelo centrado na dimensão econômica e da gestão, o que obscurece dimensões fundamentais que dizem respeito às subjetividades dos atores, com as formas de resistência e outras. Observamos, cada vez mais, a generalização do modelos globais que são hegemônicos  e tentam responder  - e já digo que não respondem - problemas locais e muitas vezes individuais”, salientou ela, dizendo ainda que esses modelos obscurecem o contextual.
 
Preocupada, ela falou, também, sobre a tendência geral de esvaziamento das dimensões socioeconômicas, sociopolíticas, sociocultural dos fenômenos sociais. “Na verdade, eu diria, dos problemas sociais, estruturais... O que estão fazendo é transforma-los em questões e responsabilizações individuais. É a transferência do que é estrutural para a dimensão individual. Na área do trabalho, por exemplo, fale-se muito sobre a ansiedade, o estresse. Querem que o indivíduo acredite que o problema não é ter que trabalhar 10h por dia, mas sim ele não conseguir se adaptar a isso. É o que estamos enfrentando atualmente”, lamentou Silvia. 
 
Confira sua apresentação na íntegra:
 

 
”O que significa governabilidade e redes?”, questionou Breno Augusto no início de sua apresentação. Para o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), temos um problema muito sério do ponto de vista conceitual, pois redes e governabilidade são dois conceitos seculares, mas que nunca se cruzam. “Somente a partir da crise das análises da sociologia das organizações mais clássicas e também da introdução dos processos produtivos flexíveis é que esses conceitos vão ser pensados na dimensão plástica dos campos de gestão”, disse ele. 
 
Breno Augusto fez um grande apanhado através dos tempos sobre a ideia de redes e governança. Segundo ele, as duas áreas se aproximaram somente a partir de pouco tempo. “A ideia de governança que orienta as análises de políticas públicas e de saúde são acompanhadas pela sociologia das organizações. Quando se faz uma rápida leitura sobre governança, falamos sobre eficiência, eficácia, centralização x descentralização, modelos organizacionais, modelos de saúde, financiamento X distribuição universal etc. Até a década de 1960...1970, o conceito de governança ainda era muito ligado à ideia de governabilidade de território. Uma dimensão voltada à ideia de sociedade disciplinar”, comentou, dizendo ainda que outro conceito que surgiu ainda na década de 1970 foi a ideia da sociedade do controle, de Jacques Derrida, que se opunha exatamente à ideia de disciplina de Michel Foucault. Para Derrida, o controle não significa estruturação em campos disciplinares específicos. Mas, sim, o que se exerce a partir de multicentralidades. 
 
O professor falou, ainda, a respeito da guinada teórica da sociologia. Segundo Breno Augusto, o desafio de compreender a sociedade com base nos indivíduos e nas estruturas deve ser abandonado. “A nova incitação do campo da sociologia é compreender como se dão as complexas interações entre os indivíduos, considerando-se que quanto mais estruturações complexas, menor a capacidade resolutiva de clareamento analítico”. Uma linha quase enigmática. Ainda assim, Breno ressaltou que toda a contribuição da sociologia até aqui deve ser levada em conta. No entanto, “a realidade, aparentemente, é maior do que a camisa de força da teoria”, encerrou ele.
 
Confira sua apresentação na íntegra:
 

 
Suely Deslandes, pesquisadora da Fiocruz, apostou na discussão sobre o papel das mídias sociais em torno da ideia de ativismo e participação social. Ela trouxe questionamentos e inquietações em relação a esse ativismo social digital. Segundo ela, não é fácil falar brevemente sobre o tema, pois cada descoberta abre novas janelas e a sensação é de que a tarefa continua.
 
Para discutir esse tema, afirmou ela, é preciso que se faça conexão com um marco de reflexão. Para tanto, Suely fez um grande histórico da introdução da internet no Brasil e no mundo, seus objetivos e usos. “Vale lembrar que, em determinada época, pensar os espaços digitais ainda era pensá-los apartados do mundo off-line. O conceito de cybercultura começa numa perspectiva dicotômica entre real e virtual, mas, hoje em dia, essas fronteiras estão completamente borradas”, comentou. 
 
“Qual seria a potencialidade do ativismo digital produzido na e pelas redes sociais digitais? Qual a potência disso para o debate político? Qual a potência da participação social nessa ambiência digital para a descentralização política e para a influência nas agendas? Que ativismo é esse e que agenda é essa? Como as redes sociais podem contribuir e quais são as armadilhas ou falácias dessas contribuições? Em que medida as redes sociais continuem um espaço de empoderamento no cenário político e como que tais espaços digitais se constituem em potência de controle social, de reflexão crítica e de participação na gestão pública?”, questionou Suely. 
 
 Confira sua apresentação na íntegra:



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