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Tese da ENSP analisa relação entre agrotóxicos e malformação congênita

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Publicado em:26/02/2019
Tese da ENSP analisa relação entre agrotóxicos e malformação congênitaNos países em desenvolvimento, especialmente aqueles com economias baseadas no agronegócio, como é o caso do Brasil, a extensiva utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos representa um grave problema de saúde pública. Diversos compostos químicos sintéticos usados como agrotóxicos apresentam capacidade de desregulação do sistema endócrino humano. Analisar essa relação em estados brasileiros com grande produção de commodities foi o objetivo da tese da aluna do doutorado em Saúde Pública da ENSP,  Lidiane Silva Dutra, sob orientação do pesquisador Aldo Pacheco Ferreira.
 
De acordo com a tese, os agrotóxicos são compostos naturais ou sintéticos utilizados na agricultura com o objetivo de controlar pragas, como fungos, ervas daninhas e insetos. “Devido à utilização em larga escala, principalmente após a década de 1950, e com grande potencial de dispersão, independentemente do modo de aplicação, os agrotóxicos podem ser detectados no solo, na água e no ar, e estar presentes em todos os ambientes e ecossistemas.” 
 
No Brasil, destaca a tese, a utilização dos agrotóxicos é extremamente relevante no modelo de desenvolvimento do setor agrícola. “No atual cenário mundial de aumento na produção de alimentos, e consequentemente na utilização de agrotóxicos, o país vem se destacando como um dos principais produtores de determinadas culturas como cana-de-açúcar, algodão, soja e outros grãos, já sendo considerado como o maior mercado mundial consumidor de agrotóxicos.”
 
Segundo a tese, como diversos compostos químicos sintéticos usados como agrotóxicos apresentam capacidade de desregulação do sistema endócrino humano, essas ações desreguladoras do sistema endócrino vêm sendo investigadas nas últimas décadas. Para esclarecer, é importante informar que um desregulador endócrino pode ser definido como um agente exógeno que interfere com síntese, secreção, transporte, ligação, ação ou eliminação de hormônio natural no corpo, sendo responsável pela manutenção, reprodução, desenvolvimento e/ou comportamento dos organismos.
 
Para Lidiane, efeitos negativos, principalmente sobre o sistema reprodutivo humano, tais como, câncer de mama, de testículo e próstata, infertilidade, declínio da qualidade seminal e malformações congênitas, estão sendo associados à exposição humana aos agrotóxicos. “Malformações congênitas ou defeitos congênitos são alterações morfológicas e/ou funcionais detectáveis ao nascer. As manifestações clínicas compreendem desde dismorfias leves, altamente prevalentes na população, até complexos defeitos de órgãos ou segmentos corporais extremamente raros.” Esses defeitos, relata a tese, podem apresentar-se isolados ou associados, compondo síndromes de causas genéticas e/ou relacionadas à exposição ambiental. Portanto, alerta a tese, a exposição a agrotóxicos pode ser relacionada a esse problema de saúde pública que atinge cerca de 5% dos recém nascidos vivos.
 
A tese de Lidiane também expõe que alguns estados brasileiros destacam-se no cenário nacional por serem grandes produtores de commodities e isto pode estar diretamente relacionado ao consumo de agrotóxicos, sendo eles: Mato Grosso (MT), São Paulo (SP), Rio Grande do Sul (RS), Paraná (PR), Goiás (GO), Minas Gerais (MG), Mato Grosso do Sul (MS) e Bahia (BA). Em conjunto, estes Estados representam 82,44% do total agrotóxicos consumidos no país.
 
Mediante esse cenário, adverte a tese, torna-se relevante a avaliação da exposição a agrotóxicos sofrida pela população, principalmente a que reside nestes Estados citados que possuem grande produção de commodities. Também é igualmente importante analisar os possíveis impactos desta exposição em desfechos relacionados ao sistema reprodutivo, como a prevalência de malformações congênitas, com o intuito de subsidiar o planejamento da política de utilização destes insumos agropecuários e das ações de prevenção e tratamentos desses problemas reprodutivos.
 
Para a tese foram escolhidos a serem quantificados agrotóxicos sabidamente reconhecidos como desreguladores endócrinos, resultando num total de 27 agrotóxicos. Foram analisadas as bulas dos agrotóxicos com os ingredientes ativos selecionados. As bulas foram obtidas através do sistema online Agrofit do Ministério da Agricultura. Foram calculadas taxas de malformações congênitas (por 1000 nascimentos) para as microrregiões escolhidas e para o restante do estado no período mencionado ou em recortes desse período. A população do estudo foi constituída por nascidos vivos nos anos mencionados. As informações sobre os nascidos vivos foram obtidas do Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SINASC - DATASUS) do Ministério da Saúde.
 
Recentemente, em 21/2/19, foi publicado, no Diário Oficial da União, o Ato n° 10 do Governo Federal, liberando o registro de mais 29 agrotóxicos, que somados aos já concedidos só em 2019, já somam 86 novos agrotóxicos em 57 dias de Governo Bolsonaro. 
 
A tese de doutorado intitulada Malformações congênitas e exposição a agrotóxicos disruptores endócrinos em estados brasileiros foi defendida no dia 20/2/19, na ENSP, por Lidiane Silva Dutra. Graduada em Farmácia com ênfase na área Industrial pela Universidade Federal Fluminense (2010), ela possui mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2012). Possui experiência nas seguintes áreas: desenvolvimento e controle de qualidade de insumos farmacêuticos e correlatos, validação de métodos analíticos (com abordagem quimiométrica), desenvolvimento e otimização de métodos por eletroforese capilar (CE) e cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) com aplicação em produtos naturais. Também possui experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Vigilância em Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde e ambiente, exposição ambiental, saúde do trabalhador, avaliação de riscos e agrotóxicos.
 

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