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Avanço dos fungos no Brasil: Radis alerta sobre infecções fúngicas que deixam sequelas e podem levar à morte

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Publicado em:16/01/2019
*Por Liseane Morosini

Avanço dos fungos no Brasil: Radis alerta sobre infecções fúngicas que deixam sequelas e podem levar à morteA imagem é de um exército de micro-organismos que marcham em várias frentes e promovem uma invasão constante e silenciosa no corpo humano e, também, no território: os fungos ocupam cada vez mais espaço e se alastram de Norte a Sul. No Brasil, estimativas do Ministério da Saúde, de 2016, sugerem que mais de 3,8 milhões de indivíduos sofram de alguma infecção fúngica séria. Só em 2017, houve 390 mil casos de aspergilose alérgica bronco-pulmonar; quase 600 mil de asma severa afetada por fungos, principalmente Aspergillus sp; 28 mil casos de candidemia, causada pela presença de fungos do gênero Candida no sangue; e 6,8 mil casos de meningite por Cryptococcus. A reportargem 'Avanço dos Fungos' compõem a edição 196, de janeiro de 2019, da Revista Radis. Confira!

O custo estimado por paciente com uma micose disseminada, durante todo o tratamento, pode superar 250 mil reais por paciente. Estima-se que há cerca de 300 espécies de fungos que podem prejudicar a saúde. Em todo o mundo, quase um bilhão de pessoas têm micoses superficiais, que atingem pele e cabelo, sendo esta a quarta causa geral de infecção, segundo informações divulgadas pelo Fundo Global de Ações contra Infecções Fúngicas (Gaffi, na sigla em inglês). Se os fungos já foram considerados pouco agressivos, hoje essas infecções são graves, deixam sequelas permanentes e podem até levar à morte. A Organização Mundial da Saúde divulgou que, em 2016, as mortes relatadas por infecções fúngicas foram a quinta causa de mortalidade no mundo, ficando atrás apenas de tuberculose, diarreia, acidentes de trânsito e diabetes. As micoses mais severas, chamadas de sistêmicas, causam cerca de 1,6 milhão de mortes por ano, informou a OMS.

Contaminação Ambiental 

Micose é o nome genérico que é dado às infecções causadas por fungos. “Os fungos estão espalhados pela natureza inteira”, explica Marcio Lourenço Rodrigues, pesquisador do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz). “Estão no solo, nas árvores, em fezes de animais como pombos. Temos contato contínuo com esses organismos”. Muitas vezes é o homem que adentra o habitat dos micro-organismos, por meio do desmatamento de áreas, do trabalho desprotegido na terra ou pelo contato com fezes e animais.

Segundo Marcio, as micoses superficiais que atingem pele, unhas e couro cabeludo, como a frieira (conhecida como pé de atleta) e a micose de unha (onicomicose), causam problemas estéticos e menos graves à saúde humana. O pesquisador explica, no entanto, que um ferimento pode ser a porta de entrada para um grupo de fungos atingir tecidos um pouco mais profundos e provocar sérios problemas. Nesse segundo grupo, estão as micoses subcutâneas, quando os esporos dos fungos são inoculados e causam doenças como esporotricose, lobocomicose e cromoblastomicose. “Casos como esses são comuns em pessoas que mexem com terra e têm contato com animais contaminados e suas fezes”, observa.

São as micoses sistêmicas, as que levam a infecção para todo o organismo humano, que mais chamam a atenção do pesquisador. Elas afetam o sistema respiratório, nervoso, digestivo, circulatório ou osteoarticular, englobando algumas doenças como paracoccidioidomicose, aspergilose, criptococose e histoplasmose (ver quadro). De acordo com Marcio, em geral, o desenvolvimento dessas micoses está associado à baixa imunidade. “É como se o fungo se aproveitasse de defeitos no sistema imunológico para colonizar diferentes órgãos”, salienta. Ele indica que essas infecções são comuns em pessoas transplantadas, com aids e câncer ou que estejam internadas em unidades intensivas fazendo uso de cateter. “Quando a pessoa tem alguma deficiência imunológica, os fungos são capazes de causar doenças bastante sérias e com tratamento muito longo, difícil e caro”. Algumas delas são resistentes aos próprios antifúngicos.

Na região metropolitana do Rio de Janeiro, de Pernambuco e da Bahia, a epidemia de esporotricose é realidade. Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, encontrado no solo, em vegetais ou madeiras, essa é uma doença fúngica que acomete a pele. A transmissão se dá por meio do contato com materiais contaminados, como farpas ou espinhos, e por mordidas ou arranhões de animais infectados, especialmente de gatos. De acordo com informações da Secretaria Estadual de Saúde, entre 2010 e 2017 foram registrados 3.878 casos de esporotricose humana na capital. A infecção afeta predominantemente mulheres de 20 a 59 anos, podendo refletir um comportamento feminino de maior proximidade com os gatos e, portanto, maior risco de exposição à doença.

Os números oficiais mostram a amplitude do problema: no Rio, o aumento dos casos fez com que a doença passasse a integrar a lista de notificação compulsória, a partir de julho de 2013; em Camaçari, região metropolitana de Salvador, houve aumento de 475% nos registros de esporotricose humana, de 2015 a 2017. Desde 1998, o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/ Fiocruz), referência para o estado fluminense, atendeu quase cinco mil pacientes humanos com a doença. Os pacientes felinos chegaram a 4,9 mil diagnósticos até 2017, e os caninos, a 278. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, no Brasil, além da incapacidade de fazer diagnósticos em larga escala, falta acesso a remédios para tratar a doença - dependendo do caso, o tratamento supera doze meses. O animal também deve ser tratado e, se morrer, deve ser cremado.

No campo da comunicação e saúde, também há muito a ser feito para popularizar o conhecimento sobre essa infecção. A jornalista Helen Massote pesquisa a doença há dois anos, e observa que a demanda por informações sobre esporotricose no Portal Fiocruz, fonte para o assunto, é crescente e contínua. Segundo ela, mesmo em épocas em que há epidemias, as perguntas sobre esporotricose superam doenças como zika, dengue e chikungunya.

Clique aqui e leia a reportagem na íntegra.

*Liseane Morosini é jornalista da Revista Radis.

Fonte: Revista Radis

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