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Sistema agroalimentar: produtor de doença, iniquidade social e injustiça ambiental

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Publicado em:06/12/2018
O atual sistema agroalimentar é produtor de doença, iniquidade social e injustiça ambiental. As evidências disso se acumulam: da contaminação de alimentos e intoxicação de trabalhadores rurais por agrotóxicos, passando pela poluição do ar, dos rios e dos solos pelos resíduos de um sistema dependente dos combustíveis fósseis, chegando aos problemas gerados pelos hábitos alimentares nada saudáveis fomentados pela indústria alimentícia - com seus produtos processados, ricos em gorduras e conservantes e pobres em nutrientes.

Sistema agroalimentar: produtor de doença, iniquidade social e injustiça ambiental

Segundo estimativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mais de 800 milhões de pessoas passam fome hoje no planeta. Dois bilhões têm uma dieta pobre em micronutrientes, ao mesmo tempo em que a obesidade é uma epidemia em escala global. A diabetes, as doenças cardiovasculares e o câncer - muitos dos quais relacionados direta ou indiretamente ao sistema agroalimentar - causam milhões de mortes todos os anos, e representam um enorme fardo para sistemas de saúde de todo o mundo: para citar um exemplo, em 2010 estimou-se que 12% das despesas globais com saúde foram gastos somente com o tratamento da diabetes.

Este cenário sinaliza a urgência de uma mudança de paradigma no modo como a humanidade produz, distribui, comercializa e também consome seus alimentos. Para muita gente - seja no movimento social, em organizações internacionais ou no âmbito acadêmico - a alternativa já existe, e responde pelo nome de agroecologia.

Ciência, prática e movimento social

Mas o que é agroecologia? No Dicionário da Educação do Campo, publicado em 2012 pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e pela Expressão Popular, os agrônomos Dominique Guhur e Nilciney Toná definem a agroecologia como "um conjunto de conhecimentos sistematizados, baseados em técnicas e saberes tradicionais (dos povos originários e camponeses) que incorporam princípios ecológicos e valores culturais às práticas agrícolas" descaracterizadas pela chamada ‘Revolução Verde’. Este foi o nome dado ao processo que, a partir da década de 1950, introduziu em larga escala no meio rural um pacote tecnológico que inclui, além dos agrotóxicos, insumos químicos, sementes transgênicas, bem como irrigação intensiva e mecanização em massa da produção agrícola.

Seus defensores argumentavam que assim seria possível produzir alimentos suficientes para uma população crescente. Paulo Petersen, do núcleo executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), argumenta que isso se mostrou falso, e que os impactos negativos deste processo não demoraram a ficar evidentes. No Brasil, diz ele, é no enfrentamento aos agrotóxicos e à espoliação produzida pelo agronegócio que a chamada agricultura alternativa, que forneceu as bases para o que depois viria a ser chamado de agroecologia, se consolidou também como um movimento político.

"A industrialização gerou uma desconexão entre a agricultura e a natureza, entre a produção e o consumo, que está na raiz dos impactos negativos do ponto de vista da degradação do solo, perda de diversidade, deterioração da qualidade dos alimentos, empobrecimento da população. A agroecologia faz a crítica a esse modelo, ao mesmo tempo em que aponta caminhos para reconectar agricultura e natureza, produção e consumo”, afirma Petersen. Produção científica em diálogo com saberes populares, práticas agrícolas sustentáveis praticadas pelos povos do campo e movimento de reivindicação de mudanças sociais estruturais: tudo isso junto é agroecologia.

Agenda prioritária em um contexto de desmonte

Representante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Inês Rugani relata que o órgão, instrumental para a construção de medidas consideradas avanços em políticas públicas de apoio à agroecologia nos últimos 15 anos, como a Política Nacional de Produção Orgânica e Agroecologia (PNAPO), de 2012, tem procurado resistir contra o que chama de “sistemático desmonte” no contexto de crise política. Inês cita o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), de 2003, que estimula a compra, pelo governo federal, de alimentos produzidos pela agricultura familiar .

“O desmonte em curso é avassalador. Várias metas do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional 2016-2019 não foram para frente ou retrocederam”, revela. Um programa que tem conseguido se manter relativamente estável, segundo ela, é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), similar ao PAA, mas voltado especificamente para a compra de alimentos pelas escolas públicas de educação básica.

Neste cenário a Saúde Coletiva tem um papel cada vez mais importante, tanto na denúncia dos impactos negativos para a saúde e o meio ambiente da ‘Revolução Verde’ quanto no apoio ao avanço da agroecologia, defende o assessor da vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), da Fiocruz para agroecologia, André Búrigo. “A Saúde Coletiva vem reunindo dados para subsidiar o diagnóstico de que a agricultura industrial causa um grande impacto sobre a saúde das pessoas e sobre o SUS, sem que a promessa de alimentar a população mundial tenha sido sequer cumprida em 70 anos de ‘Revolução Verde’”, argumenta Búrigo. E completa: “É na perspectiva da Promoção da Saúde que a Saúde Coletiva é convocada a contribuir com o avanço da agroecologia e a participar da sua produção”.

Por isso, essa agenda tem se tornado cada vez mais prioritária para a Fiocruz. “Ela dialoga com uma série de outras agendas importantes para o enfrentamento da fome, entre outras regressões sociais que estão acontecendo no nosso país. A Fiocruz tem de se colocar como uma instituição estratégica, de Estado, na condução desta agenda”, afirma o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Marco Menezes.

Clique e leia a matéria na íntegra

*Por André Antunes, jornalista da Escola Poletécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).
Crédito foto: André Antunes. 

 


Fonte: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)

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