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Exposição de trabalhadores a poeiras minerais marca último 'Encontros do Cesteh' em 2018

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Publicado em:05/12/2018
Exposição de trabalhadores a poeiras minerais marca último 'Encontros do Cesteh' em 2018A última sessão do projeto 'Encontros de Cesteh' de 2018 recebeu o diretor da ENSP, Hermano Castro, para falar sobre o perfil inflamatório e bioindicadores pulmonares em trabalhadores expostos a poeiras minerais. Hermano é médico pneumologista e pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP). Na ocasião, também esteve presente a médica pneumologista do Cesteh, Patrícia Canto, que apresentou a sessão ao lado de Hermano. O diretor da ENSP destacou em sua fala de abertura a importância da parceria entre os projetos do Cesteh e o laboratório.

Para iniciar o assunto o diretor citou a questão da determinação social da doença e como ela afeta o coletivo, o indivíduo o social e a genética. Em seguida entrou no mérito dos bioindicares na avaliação de risco de exposição ocupacional. São três tipos de marcadores: de efeito, de exposição e de suscetibilidade. “Desenvolvimentos no campo da epidemiologia molecular e toxicologia deram valiosas ferramentas para a detecção precoce do processo de adoecimento. As primeiras respostas inflamatórias como a liberação das células inflamatórias e radicais livres, coletados por métodos não-invasivos podem dar uma indicação da exposição indesejada e a suscetibilidade do indivíduo”, explicou ele.

Hermano citou a suscetibilidade na pneumoconiose e explicou que o polimorfismo genético gera diferenças na suscetibilidade individual. “Interações entre a exposição, predisposição genética, estado nutricional e fatores individuais ajudam a explicar a ocorrência de pneumoconiose em apenas uma parcela de trabalhadores expostos”. Segundo o pneumologista, quanto maior o tempo de trabalho, maior a chance de desenvolver uma doença ocupacional. O médico citou especificamente o caso da sílica. O agente patogênico da silicose é a poeira da sílica livre ou não combinada. Na ocasião foi apresentado um mapa da sílica no Brasil, com a exposição desde 2007. Em 2010 cerca de 6 milhões de trabalhadores estavam expostos.

Estudos sobre o perfil inflamatório e bioindicadores pulmonares em trabalhadores expostos a poeiras minerais

Para exemplificar o perfil inflamatório e bioindicadores pulmonares em trabalhadores expostos a poeiras minerais, a médica pneumologista do Cesteh/ENSP, Patrícia Canto, apresentou alguns estudos. O primeiro, sobre a análise de imunoglobulinas, complementos e autoanticorpos em 58 trabalhadores expostos à sílica. O objetivo do estudo foi analisar o perfil de determinados tipos de imunoglobulinas e alguns autoanticorpos no soro de trabalhadores expostos à sílica, com ou sem silicose, por meio da avaliação laboratorial imunológica, abrangendo tanto a imunidade inespecífica quanto a específica.

Foram examinados 58 pacientes ambulatoriais, do sexo masculino, sendo eles trabalhadores expostos à sílica. Os resultados apontaram que 20 trabalhadores apresentaram radiograma normal e 38 apresentaram alteração compatível com silicose. “O aumento de Imunoglobulina G (IgG) nos doentes com silicose constitui um achado importante pois pode indicar a continuidade da reação granulomatosa, mesmo com o trabalhador afastado da exposição. Entretanto, ainda são necessários estudos que possibilitem a compreensão do processo imunogênico na silicose”, observou Patrícia.

Outro estudo apresentado por Patrícia canto foi sobre a implicação da interleucina 13 (L-13) em portadores de silicose pulmonar. O estudo, que está em andamento, buscou identificar o padrão inflamatório na patogênese da silicose, em especial a expressão da IL-13. Para Patrícia, a compreensão desses processos abre caminhos para pesquisas com drogas que tragam perspectivas reais de tratamento aos milhares de doentes. “Com a realização deste estudo buscamos contribuir no campo da Saúde do Trabalhador e da Saúde Pública para o monitoramento de trabalhadores expostos e desenvolver bioindicadores para diagnóstico precoce”, defendeu ela.

Amianto: não há limites seguros para exposição

Finalizando sua apresentação, Hermano falou sobre o amianto, um vilão antigo da saúde pública. O amianto é cancerígeno em todas as suas variações geológicas e que não há meios de se promover o uso 100% seguro da fibra. Não foram identificados, por exemplo, limites de tolerância para o risco carcinogênico. O diretor da ENSP explicou, ainda, a questão da genotoxicidade, que está relacionada a capacidade de uma determinada substância química alterar a estrutura do DNA celular, tendo como resultado uma ou mais alterações do genoma.

“O monitoramento genético de populações humanas expostas a potenciais carcinógenos é um sistema de ‘aviso prévio’ para doenças genéticas e o câncer”, advertiu Hermano. O diretor da ENSP citou outros estudos relacionados ao amianto, entre eles, a avaliação de trabalhadores expostos ao amianto, que buscou avaliar alterações em parâmetros enzimáticos do estresse oxidativo e os danos genotóxicos decorrentes de exposição ao asbesto, em trabalhadores expostos e não-expostos, atendidos no Ambulatório de Pneumatologia Ocupacional do Cesteh/ENSP.

No estudo foi realizado um ensaio cometa, que mostrou ser um método sensível e confiável na detecção de danos no DNA, causados pela exposição ao amianto. Para o pneumologista, o ensaio cometa deve ser considerado um importante indicador de exposição e uma ferramenta útil em avaliações de mutagenicidade de populações expostas ao amianto.

A última sessão do 'Encontros do Cesteh' aconteceu em 21 de novembro.


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