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Cesteh/ENSP debate o papel do professor com Roda de Conversa

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Publicado em:17/10/2018
Cesteh/ENSP debate o papel do professor com Roda de ConversaO Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP) promoveu uma Roda de Conversa em homenagem ao Dia dos Professores, celebrado em 15 de outubro. Com o tema A dor e a delícia de sermos professoras e professores: relações de gênero, saúde e trabalho docente, a atividade contou com a participação da professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Regina Simões Barbosa. O debate foi coordenado pelo Grupo de Pesquisa Sintheses - uma associação entre Cesteh, UFRJ, Uerj e UFF - e por Kátia Reis, coordenadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador.

A Roda de Conversa foi aberta pela coordenadora do Cesteh/ENSP, Kátia Reis, que fez uma breve leitura de Antonio Gramsci, filósofo marxista, jornalista, crítico literário e político italiano, que foi submetido ao fascismo do ditador Benito Mussolini. Em seguida, a professora Regina Simões Barbosa, que também integra o Grupo de Pesquisa Sintheses, deu início a sua fala com algumas inspirações, entre elas, a música ‘Dom de iludir’, de Caetano Veloso, que cita: “Não me venha falar da malícia de toda mulher. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

Ela citou, também, a tese de doutorado Trabalho e Saúde Mental: A dor e a delícia de ser (tornar-se) professora, de Mary Yale Rodrigues Neves (UFRJ, 1999). O estudo fez uma análise do trabalho docente, e apontou para a presença significativa de mal estar vivenciado pelas professoras e evidenciado por sinais generalizados de sofrimento, sufocamento, estresse, esgotamento, ansiedade, depressão e fadiga no trabalho.

Segundo Regina, a pesquisa apontou que determinados fatores, na maioria dos casos, potencializam o sofrimento das professoras. Entre eles: as relações hierárquicas, a longa e exaustiva jornada de trabalho, a dificuldade de operar o controle-de-turma, o crescente rebaixamento salarial e, principalmente, a progressiva desqualificação e o não reconhecimento social de seu trabalho. O estudo concluiu que a maior fonte de prazer das professoras diz respeito à relação que elas têm com seus alunos.

Outro estudo apresentando por Regina Simões foi a tese de doutorado Trabalho docente, carreira doente: elementos que impactam a saúde mental dos docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Estudo de caso, de Alzira Mitz Bernardes Guarany (UFRJ, 2014). A pesquisa identificou que entre os fatores que afetam a saúde mental do docente, estão não só o novo estilo de gestão, a intensificação do ritmo de trabalho, mas também outros elementos que compõem o cenário institucional, se unindo e produzindo consequências nefastas.

“Dentre eles podemos citar as condições de trabalho, as relações entre os pares e a fragmentação institucional e espacial da UFRJ, por exemplo. Cabe destacar ainda que afeta não só a saúde mental, mas também produz implicações sobre a saúde como um todo. Estes efeitos nem sempre são visíveis pelos gestores da Universidade. A maioria dos relatos não fala apenas do próprio depoente, mas também dos colegas, indicando que talvez muitos deles também sintam as mudanças da mesma forma, e assim, essa tese talvez tenha descortinado a ponta de um iceberg”, expôs ela.

Saúde e trabalho docente nas Instituições Federais de Ensino Superior

O Grupo Sintheses fez uma investigação sobre saúde e trabalho docente nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Segundo Regina, no que concerne aos resultados, sobressaiu o tema alusivo à sobrecarga de trabalho e pressão do tempo para cumprimento de metas. “Na pesquisa foram identificados temas importantes alusivos à atual configuração do trabalho em universidades públicas, que foram problematizados em diálogo com os docentes, em um processo coletivo de coanálise, como, por exemplo, o debate sobre a precariedade das condições de trabalho em universidade pública e o caráter ambíguo do trabalho de professores.
 
Cesteh/ENSP debate o papel do professor com Roda de Conversa

De acordo com Regina, as atividades docentes são reconhecidamente capazes de provocar sofrimento na mesma proporção em que conferem satisfação aos professores, a exemplo da mencionada relação com a pesquisa e a ciência, bem como com o processo de formação dos alunos.

As relações de trabalho e saúde também foram abordadas pela professora. Segundo ela, o feminismo revelou que o trabalho remunerado e o não remunerado são duas dimensões do trabalho social, intimamente ligadas à dialética da produção e da reprodução da sociedade, ou seja, a visibilização do trabalho doméstico das mulheres enquanto trabalho. “Há, também, o conceito de divisão sexual do trabalho, uma ferramenta conceitual crítica que permitiu visibilizar o estreito vínculo entre trabalho remunerado e não remunerado e as consequências sobre a vida e a saúde das mulheres. A divisão técnica e social do trabalho se justapõe à divisão sexual do trabalho”, lamentou Regina.

Por fim, a professora citou que as atividades produtivas relacionadas com serviços e com assistência médica e educacional são redutos femininos e estão associados ao papel reprodutivo que a mulher desempenha na família e na sociedade. “Ser professora ou enfermeira é uma forma de praticar tudo o que foi ensinado às mulheres: cuidar, dar amor, ter paciência e carinho”. Regina pontuou as diferenças entre o que é ser professor e o que é ser professora, além das diferenças do trabalho docente infantil, fundamental e médio, e do trabalho docente no nível superior. Encerrando sua apresentação deixou um questionamento: Diante da possibilidade da barbárie fascista que nos ameaça, como vamos nos posicionar/organizar?


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