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Ex-ministros da Saúde condenam editorial do 'O Globo' sobre o programa de vacinação

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Publicado em:24/08/2018
José Gomes Temporão e José Agenor Alvares
 
Ex-ministros da Saúde condenam editorial do 'O Globo' sobre o programa de vacinaçãoEm seu afã de procurar culpados pelo atual surto de sarampo que afeta alguns estados, o jornal O Globo, em seu editorial de 22 de agosto sob o título "Ativismo e má gestão prejudicam vacinação no país", ataca a credibilidade de um dos pilares da saúde pública brasileira: o Programa Nacional de Imunizações. Causa espécie, no momento em que o grupo Globo faz uma campanha contra fake news, o jornal faça exatamente o contrário, produzindo de modo irresponsável uma grande fake news que ofende os milhares de profissionais que, ao longo de décadas, construíram esse patrimônio da saúde brasileira.
 
Em seus  45 anos, o programa vem, de modo continuado, acumulando êxitos e reconhecimento nacional e internacional. Não se trata de obra de um governo, mas conquista histórica da população brasileira, cuja gestão tem sido de continuidade até os dias de hoje. Os autores do editorial desconhecem a complexidade de um programa dessa natureza, a multiplicidade de investimentos e de processos de trabalho envolvidos. 
 
As vacinas e a vigilância em saúde pública permitiram a erradicação da varíola e a interrupção da transmissão da poliomielite. Há nove anos, o país está livre de casos de rubéola e, há dois, teve reconhecida a eliminação do sarampo, que hoje volta a nos ameaçar.
 
O sucesso de um programa de vacinação pode ser medido pela população alcançada e pelas doenças prevenidas. Nessas duas dimensões, o período de maior crescimento do PNI foi justamente aquele em que Lula e Dilma estiveram na Presidência do Brasil, com incorporação de novas vacinas e ampliação da parcela da população beneficiada.
 
As vacinas oferecidas na Rede de Atenção Básica, que eram 14, em 2002, passaram a 20, nas gestões Lula e Dilma. Foram incorporadas, entre outras, aquelas que protegem contra a meningite C, contra a diarreia causada pelo Rotavírus que evitou a morte de 1.800 crianças por ano no país, contra o pneumococos e a do papilomavírus, que previne o câncer de colo de útero, produzida pelo Instituto Butantan, do Governo do Estado de São Paulo, e sobre cujo processo de aquisição não paira qualquer tipo de suspeita. E, em 2010, foi realizada a vacinação contra a gripe H1N1, com 88 milhões de pessoas protegidas.
 
No período, inúmeras iniciativas aprimoraram a capacidade de gestão do programa, como o Projeto Inovacina, iniciado em 2006, a implantação do monitoramento rápido de coberturas vacinais, do “vacinômetro” e do novo sistema de informações, que permitirá conhecer a situação vacinal das pessoas, e não somente o número de doses aplicadas, como sempre se fez.
 
Nesses governos, começou a construção da nova fábrica de vacinas de Bio-Manguinhos, inaugurada então na gestão Temer, e investiu-se, por meio de parcerias entre laboratórios privados e produtores públicos, na nacionalização de diversos produtos que eram importados, propiciando economia, desenvolvimento tecnológico e assegurando estabilidade no suprimento para o programa público nacional.
 
O programa, no entanto, passa por ameaças. Em situações como a da inclusão da vacina contra a dengue pelo Estado do Paraná, estado do então ministro da Saúde, em 2016, o governo agiu sem suficiente respaldo técnico, e hoje essa vacina só é recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para quem já teve infecção por dengue. Os cortes orçamentários, causados pela Emenda Constitucional 95, comprometem a sustentabilidade da atenção básica e o trabalho das equipes de saúde da família. Por mais que os sistemas de aquisição, suprimento e armazenamento de imunobiológicos funcionem bem, são os profissionais desses serviços que acompanham a situação vacinal das pessoas de suas áreas, convocam, visitam as casas e efetivamente administram as vacinas, trabalho que está sendo prejudicado.
 
O Programa Nacional de Imunizações brasileiro é uma obra coletiva que envolve milhares de serviços e profissionais das três esferas de governo, o apoio dos mais reconhecidos especialistas do país, presentes no Comitê Técnico Assessor, o reconhecimento das sociedades profissionais, dos Conselhos de Secretários Estaduais e Municipais de Saúde e da Organização Mundial de Saúde. A política de vacinação é orgulho da saúde pública brasileira a ser preservada e aperfeiçoada, e não merece ser atacada de modo leviano e sem base em qualquer evidência científica.
 
Assinam: José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde e membro titular da Academia Nacional de Medicina, e José Agenor Alvares da Silva, ex-ministro da Saúde.

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