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Mapa de enfrentamento aos racismos

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Publicado em:26/07/2018

Por Elisa Batalha

No lugar de nomes de favelas, os rios e maciços que formam o ecossistema e a geografia natural. No lugar de divisões administrativas de bairros e ruas, pontos onde há resistências culturais, luta por moradia e relações agroecológicas tradicionais. Tudo destacado graficamente no mapa do Rio de Janeiro. Trata-se do material on-line Enfrentamentos aos racismos pelos olhares das mulheres - Uma cartografia feminista sobre violações e resistências na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que, além do mapa de violações de direitos, contém verbetes, textos analíticos, trechos da pesquisa e sistematização do percurso de investigação empreendido por mulheres auto-organizadas da Zona Oeste que compõem o Militiva.

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"Somos mulheres de diversas idades, origens e lugares. Moradoras e militantes da Zona Oeste, donde se constrói muitas resistências em resposta às ameaças impostas pelo capital e pelo Estado em nome de um modelo de desenvolvimento que explora e esgota os bens naturais, nossos trabalhos, vidas e corpos". Assim se apresentam as integrantes do coletivo no material impresso que foi produzido ao longo de três anos de conversas e compartilhamentos de uma outra lógica. A população da região sofre os maiores impactos das transformações urbanas recentes que não levaram em consideração os saberes locais.

 

Mapa de enfrentamento aos racismos

Quem são as meninas cotidianamente (des)cuidadas ou que sofrem abusos? Que meninos estão sendo mortos ou em situação de vulnerabilidade? Que lugares são esses que as indústrias mais poluentes e mais agressivas escolhem para se instalar? São algumas das questões postas no mapa, que ao final conclui que a negação de direitos em território carioca atinge, sobretudo, a vida de mulheres negras e empobrecidas - marisqueiras, pescadoras, quilombolas, faveladas, agricultoras. Na região, há quilombos em áreas urbanas e rurais, que são invisibilizados.

"A mídia tenta negar as características dos quilombos. Não é interesse do poder público e da especulação imobiliária o reconhecimento dos nossos territórios", afirma Maraci dos Santos Alves, moradora do Quilombo do Camorim, em Jacarepaguá, “neta e filha de quilombolas”, como ela faz questão de reforçar. Maraci participou do desenvolvimento do mapa ao lado de outras mulheres, militantes como ela na resistência negra e nas diferentes lutas, por moradia e pela agroecologia, por exemplo. Dez categorias são pontuadas no mapa como verbetes, divididas em “violações” e “resistências”, como “feminismos”, “sequestro das águas”, “violências”, “luta por moradia” e “práticas e saberes tradicionais”. Cada um é representado por um ícone e a definição foi escrita coletivamente pelo grupo.

A proposta de realização de um processo coletivo de pesquisa foi do Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), após anos de atuação conjunta com movimentos sociais na Zona Oeste. O mapa seria originalmente sobre conflitos socioambientais. No entanto, de acordo com Marina Praça, que atua como educadora popular e faz parte da Coordenação Colegiada do Pacs, houve uma “virada” no processo. “Os feminismos, principalmente seu olhar periférico, e o racismo atravessaram nosso caminho e as resistências se estabeleceram a partir daí. É de onde se fala, são pontos centrais, e foi visível como a narrativa das mulheres se transformou para se tornar ainda mais potente”. O termo Militiva surgiu da composição “militância investigativa”, uma metodologia desenvolvida ao longo do próprio processo de construção coletiva, que difere da pesquisa militante da academia. “A ação no território veio na frente do processo de investigação”, resume.

Reuniões e visitas a agricultoras fizeram parte das atividades periódicas dos coletivos. Marina dá ênfase ao fato de que, com 25 mulheres participando diretamente da elaboração do material, os processos e os resultados são todos frutos do trabalho de todas. Além do mapa, textos e materiais de sistematização da experiência, é possível encontrar na página links para outras iniciativas de cartografia social, pesquisa militante e de coletivos, organizações e grupos que trabalham com as temáticas de racismo ambiental, feminismos e conflitos socioambientais no Brasil e na América Latina.

*Elisa Batalha é jornalista da Radis


Fonte: Revista Radis 190
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