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Epidemia de fraudes: 'Radis' de julho discute o fenômeno das ‘fake news’

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Publicado em:05/07/2018
Epidemia de fraudes: 'Radis' de julho discute o fenômeno das ‘fake news’A matéria de capa da Radis nº 190, de julho de 2018,  traz a discussão sobre o fenômeno das fake news, notícias intencionalmente fraudadas para circular, preferencialmente, nas redes sociais digitais. A repórter Ana Cláudia Peres destaca que, no Brasil, durante a epidemia de febre amarela do ano passado, que registrou os mais altos índices de transmissão silvestre da doença, com 1.098 casos e 340 óbitos entre julho de 2017 e março deste ano, boatos e fake news causaram pânico na população e trouxeram desafios para a saúde pública. “Em meio à guerra de informação sem responsabilidade, macacos foram mortos como se fossem os responsáveis pela doença, pessoas ficaram desnorteadas e campanhas de vacinação não tiveram o efeito desejado.”
 
De acordo com a reportagem, em maio, a estimativa era de que 80% da população brasileira estivesse vacinada, mas o número não passava de 55%. Os baixos índices levaram a epidemiologista Laurence Cibrelius, chefe de estratégia de combate à febre amarela na Organização Mundial da Saúde (OMS), a afirmar, em entrevista a um portal de notícias, que as fake news podem ter influenciado as metas de vacinação no país.
 
As fake news simulam o estilo jornalístico e reúnem ou não alguns fragmentos de realidade a um conjunto de elementos e conclusões deliberadamente inventados para enganar as pessoas, com objetivo político, comercial, ou o propósito de atacar indivíduos ou coletividades. Na opinião do sanitarista e pesquisador da Fiocruz Cláudio Maierovitch, ouvido pela Radis, a saúde sempre foi um terreno fértil para a propagação de boatos e informações inverídicas. Segundo Cláudio, isso ocorre porque são assuntos que afetam direta ou indiretamente a vida da população. “No caso de uma doença, a pessoa pode apresentar um sintoma ou ter algum familiar atingido pela enfermidade”, diz, alertando para o fato de que o medo é o grande motivador para a disseminação de notícias falsas sem critérios no campo da saúde. Ele acredita que, muitas vezes, o sujeito passa a ser um reprodutor até bem intencionado. “Na medida em que o interlocutor tem alguma credibilidade com essa pessoa, aquela informação passa a ter ressonância.”
 
Mas Cláudio adverte à Radis que, se algumas dessas notícias podem ter consequências inócuas, na grande maioria dos casos, há um perigo iminente, principalmente quando estão relacionadas à orientação para o consumo ou não de certos produtos e serviços. 
 
“Preocupado com o crescimento no país do chamado movimento antivacinas, que tem lançado mão das fake news com bastante frequência para descredenciar sua segurança ou utilidade, ele explica que esse é um clássico exemplo do quanto a disseminação de notícias inverídicas pode trazer consequências nefastas”, disse Cláudio à revista. “O Brasil tem um dos maiores programas públicos de imunização do mundo, com um calendário de vacinas discutido à exaustão por um conjunto de especialistas e de setores da sociedade, de forma a oferecer a proteção mais adequada e da melhor maneira possível para o público-alvo”, reforça. 
 
Quando se vê em meio aos áudios ou textos de whatsapp que distorcem o sentido das vacinas —  por exemplo, o boato de que vacina contra a febre amarela era um veneno mortal —, Cláudio conta que a sensação, como sanitarista, é a um só tempo de “frustração” e revolta ao perceber os interesses que existem por trás de cada manipulação. “É um perigo constante as pessoas deixarem de adotar uma medida sabidamente importante para sua proteção porque foi mal informada ou recebeu informação mentirosa”, acentua, demonstrando que o contrário também acontece.
 
Já segundo Igor Sacramento, pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/Icict), da Fiocruz, as instituições que compõem a saúde pública no Brasil devem estar preparadas para a atuação cada vez mais próxima das redes sociais on-line. Ele não sugere um combate às fake news, mas uma forma de lidar com elas. “Não é a tecnologia que gera a disposição social atual pelas fake news”. Igor admite que, neste momento, a sensação é a de que “estamos perdendo diante do excesso de informação, perdendo para os bots, perdendo para esses grupos organizados que fabricam notícias”. À Radis, Igor adianta que o projeto de um robô para a saúde pode não estar longe. Ele é autor da ideia, que pretende ver implementada pela Fiocruz, de criação de um aplicativo para checagem de informações na área da Saúde que possa trazer confiabilidade às notícias. 
 
Conforme a reportagem da Radis, há sites especializados em criar essas notícias fraudadas e fazê-las circular por meio de robôs e perfis falsos. ”São estratégias que enfraquecem a democracia e, provavelmente, tentarão influenciar as eleições brasileiras deste ano.” 
 
Outras matérias da Radis de julho
 
4º Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) reuniu cerca de 2 mil participantes em Belo Horizonte, entre 31 de maio e 3 de junho.
 
Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade do Brasil e referência internacional sobre  envelhecimento e longevidade, defendeu o fortalecimento do SUS e alertou que o país tem até cinco anos para criar uma política de sustentabilidade do envelhecimento.
 
Mulheres da Zona Oeste do Rio produzem cartografia da resistência negra e feminista.Trata-se do material on-line sobre violações e resistências na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que também contém verbetes, textos analíticos, trechos da pesquisa e sistematização do percurso de investigação. 
 

Fonte: Radis 190
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