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Contra a violência de estado e por uma mudança de mentalidades

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Publicado em:21/06/2018

Contra  a violência de estado e por uma mudança de mentalidadesNa manhã da última quarta-feira, 20 de junho, os trabalhadores da Fiocruz receberam uma notícia, infelizmente, corriqueira: operação policial na Favela da Maré colocava em alerta aqueles que usam a portaria da Avenida Brasil e acabaria por encerrar o expediente no prédio da Expansão, sob intenso barulho de tiros, disparados inclusive de um helicóptero. Naquela mesma manhã, o menino Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, também seguia sua rotina a caminho da escola quando foi alvejado pelas costas. Segundo a mãe do menino, a ambulância que viria buscá-lo chegou a ser impedida pela polícia de entrar na favela pela polícia. Levado ao hospital Getúlio Vargas, ele morreria horas mais tarde, deixando um rastro de indigação e tristeza entre parentes, amigos e aqueles querem um país em que a vida humana seja um valor a ser preservado.

 

Marcos Vinícius era só mais um Silva, mais um dos 60 mil assassinatos que a sociedade brasileira comete e concede a cada ano, sem investigar sequer 4% deles. Mais um entre pobres, negros e favelados, escolha preferencial de um estado genocida. Seu nome, hoje, é notícia de jornal. Logo mais, estará entre milhares, numa página amarelada, em uma pilha de processos. A rotina de seus familiares e amigos, essa sim, não será mais a mesma. Serão obrigados a carregar a ferida da perda, fustigada pela  espada da injustiça. 

 

Nós, membros da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, expressamos nosso profundo pesar com a morte de Marcus Vinícius. E também de todas as vítimas desse genocídio, sejam elas policiais ou traficantes. (Não se combate violência com mais violência, e as execuções de bandidos – prática comum no Brasil a despeito de não existir pena de morte – jamais se mostraram uma solução para nossas violências cotidianas, só fazendo aumentar o ódio e a descrença no Estado de Direito.)

 

Em consonância com o que vem sendo apontado pela Fiocruz, acreditamos no tripé paz, direitos humanos e democracia como opção a essa política de enfrentamento, violenta e equivocada, com a qual não aceitamos mais conviver. Exigimos, ainda, a abertura de canais de diálogo, por meio de audiências das autoridades com as representações da sociedade civil, para a construção de um programa efetivo de preservação da vida.

 

Reafirmando nosso compromisso com a população mais vulnerável, oferecemos nossos espaços de debates, meios de comunicação e conhecimentos para a luta contra essa tragédia em que estamos afundados. A comprovada ineficácia da guerra às drogas, a perversidade de incursões em favelas, que se mostram muito mais como ação de ódio e vingança do que de combate ao crime e a morte diária de meninos e meninas não têm sido suficientes para produzir uma mudança de mentalidades e, consequentemente, de política de segurança.

 

É por isso que precisamos continuar gritando por nossos mortos e por nós mesmos. Nossas armas são o diálogo, a construção compartilhada de saberes, a cidadania e a democracia. É com elas que lutaremos até o fim para que o sangue das nossas crianças pare de ser derramado, e se construa, enfim, uma nação digna para todos. 


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