Busca do site
menu

Artigo do 'Cadernos de Saúde Pública' aborda relação entre acidentes de trabalho e os religadores automáticos no setor elétrico

ícone facebook
Publicado em:06/06/2018
Artigo do 'Cadernos de Saúde Pública' aborda relação entre acidentes de trabalho e os religadores automáticos no setor elétrico“O setor elétrico brasileiro registra elevados índices de mortalidade por acidentes de trabalho que vêm sendo associados à terceirização, introduzida como forma de rebaixamento de custos. Para diminuir o tempo de interrupção do fornecimento de energia aos consumidores, o setor adotou, como solução tecnológica, o religador automático. Essa medida apresenta características perversas para os trabalhadores de manutenção”. Essa é a conclusão do estudo Acidentes de trabalho e os religadores automáticos no setor elétrico: para além das causas imediatas, que visa analisar origens e consequências de acidentes de trabalho em sistemas elétricos dotados de religador automático utilizando o Modelo de Análise e Prevenção de Acidentes (MAPA). O estudo mostra que a introdução dessa inovação traz para o cenário da segurança a possibilidade de acidentes em que a vítima, que não participa das decisões de programação e/ou de ativação ou não do artefato, recebe uma série de choques elétricos com chances de agravamento dos desfechos. ”A essas situações de risco são acrescentadas outras, como problemas relacionados à manutenção e confiabilidade dos dispositivos”, observam os pesquisadores.
 
Os autores da pesquisa Alessandro José Nunes da Silva,  do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, Piracicaba; Ildeberto Muniz de Almeida, da Faculdade de Medicina de Botucatu; e Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela, Renata Wey Berti Mendes e Sandra Lorena Beltran Hurtado, da Universidade de São Paulo, acreditam que as análises de acidentes exploradas nesse estudo permitem questionar até que ponto a lógica da gestão de negócios no setor elétrico assume formato acidentogênico. ”Eventos envolvendo quebra de componentes mantidos sem manutenção por mais de 25 anos revelam falhas em gestão de manutenção que parecem associadas a estímulos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”. 
 
Para eles, o uso da força de trabalho de terceiros em atividades que envolvem risco elétrico não só impediu a adoção de estratégias de desligamento de religador habitualmente usadas pelos empregados diretos da contratante, como fragilizou práticas de segurança historicamente apoiadas na formação de equipes e na criação de laços de confiança e cooperação entre trabalhadores. Tais achados, acrescentam os pesquisadores,  questionam até que ponto a gestão da terceirização, como acontece nessas empresas, não estaria associada à deterioração da sua segurança.
 
O MAPA foi usado na investigação de dois acidentes de trabalho visando a explorar as origens organizacionais dos eventos. Caso 1 - ao trocar linha secundária desenergizada, um trabalhador foi atingido por cabo primário energizado (13,8kV). O sistema foi religado três vezes, agravando as lesões (amputação de membro inferior). Caso 2 - acidente de trabalho fatal ocorrido durante instalação de cruzeta nova, em linha energizada, parcialmente isolada. A extremidade de uma mão francesa metálica encostou na linha secundária energizada e eletrocutou o operador de manutenção. O componente desligador do religador automático não funcionou. 
 
Segundo a pesquisa, as análises contribuem para desvelar como a lógica de gestão de negócios pode participar nas origens de acidentes de trabalho via falhas da gestão de manutenção, da gestão de força de trabalho de terceiras e, em especial, da gestão de segurança em sistemas dotados de religadores. “As decisões pela automação para garantir a distribuição de energia não podem negligenciar os riscos aos trabalhadores da rede elétrica e, tampouco, deixar de reconhecer a importância do controle sobre as condições de segurança.”
 
No entanto, para que tal análise seja transformada em mudanças concretas, dizem os pesquisadores, faz-se necessário o envolvimento dos profissionais da atividade na análise, no desenho e na implantação de soluções. Diante da necessidade de ir além do diagnóstico, o grupo de pesquisa vem articulando iniciativas de intervenção formativa usando o Laboratório de Mudanças, uma ferramenta de desenvolvimento colaborativo para o trabalho e a educação. Essa metodologia oferece uma série de ferramentas teóricas que ajudam os profissionais a representar sua atividade presente e passada, e a formular hipóteses das contradições que estão levando aos acidentes. O Laboratório de Mudanças cria espaços grupais em que os participantes são estimulados a analisar os problemas enfrentados e suas causas, e a desenhar e implementar soluções.
 
 
Imagem capa: foto de internet

Fonte: Acidentes de trabalho no setor elétrico
Seções Relacionadas:
Artigos Divulgação Científica

Nenhum comentário para: Artigo do 'Cadernos de Saúde Pública' aborda relação entre acidentes de trabalho e os religadores automáticos no setor elétrico