Busca do site
menu

Índice de tratamento do esgoto brasileiro é 'muito ruim', diz pesquisador. Assunto é tema do Dia Mundial da Água

ícone facebook
Publicado em:23/03/2017
*Texto e entrevista por Anna Carolina Düppre, assessoria de comunicação Obsma
 
A água limpa, que sai da torneira e é usada em casa, na cidade, na indústria e em qualquer outro lugar, depois de ir embora pelo ralo, torna-se água residual, que passa a conter contaminantes físicos, químicos ou biológicos. Popularmente, esta água é conhecida como “esgoto”.
 
Com o acelerado processo de crescimento populacional e urbanização, cresce também a quantidade de esgoto produzida por nós, gerando grandes níveis de poluição em todo o mundo. Para agravar a situação, o que se vê é que esta poluição vem sendo seriamente negligenciada: chega a mais de 80% o índice de águas residuais produzidas no mundo que retornam à natureza sem terem sido tratadas ou reutilizadas, aponta a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a água (UN Water).
 
Para chamar atenção sobre o problema e as possibilidades de solução, a ONU designou as águas residuais como tema para este Dia Mundial da Água 2017.
 
Chamada pela Unesco de “recurso inexplorado”, a água residual poderia ser sinônimo de reutilização, economia e sustentabilidade se não fosse tão desvalorizada. Infelizmente, o Brasil segue a tendência global: o tratamento do nosso esgoto - condição necessária para que pudéssemos pensar em como reutilizar esta fonte de água -, ainda é precário.
 
Água tratada para reuso pode ser destinada a situações como
 
irrigação de canteiros, jardins e parques;
 
lavagem de carros, roupas, prédios e ruas;
 
monumentos e fontes de água ornamental;
 
descarga de banheiro;
 
sistemas de aquecimento ou resfriamento na indústria;
 
obras e construções;
 
agricultura.
 
Além disso, tratar adequadamente a água, de acordo com o uso que ela teve, é o mínimo necessário para que volte com segurança ao meio ambiente.
 
Convidamos o pesquisador Renato Castiglia para falar sobre alguns aspectos do tratamento de águas residuais no país. Castiglia é doutor em engenharia oceânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz e professor na Universidade Estácio de Sá.
 
Ele atua com avaliação da contaminação de águas por esgotos sanitários e considera o quadro do saneamento brasileiro muito pior que o esperado.
 
Como você vê o cenário brasileiro em relação à atenção com as águas residuais?
 
Índice de tratamento do esgoto brasileiro é 'muito ruim', diz pesquisador. Assunto é tema do Dia Mundial da ÁguaRenato Castiglia: De acordo com os últimos dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), pouco mais de 40% do esgoto gerado no Brasil é tratado. Significa dizer que, de cada 100 litros de esgoto gerado, apenas 40 são tratados. Numa perspectiva geral, esse número é muito ruim, indica que o Brasil está muito aquém do que se deseja em termos de tratamento.
[Nota: o índice se refere ao esgoto gerado; do esgoto que chega a ser coletado, apenas 74% é tratado. Fonte: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos - SNIS]
 
O impacto disso na saúde é absurdo. O esgoto não tratado e sem coleta pode gerar casos de diarreia que podem levar até à morte e diversos outras doenças causadas pelo acúmulo de água parada, como dengue, zika e chikungunya.
 
Esse quadro não só é constatado por meio de pesquisas, mas também visualmente. Você vai a lagoas ou corpos hídricos como o Canal de Marapendi, a Lagoa Rodrigo de Freitas [respectivamente, nos bairros Barra da Tijuca e Lagoa, considerados nobres na cidade do Rio de Janeiro] e outros, e observa que basta olhá-los para verificar que o problema de saneamento no Brasil é evidente. A contaminação desses corpos d’água se dá basicamente por falta de serviço de saneamento, coleta e tratamento de esgoto. Só não se vê o esgoto escorrendo pelas ruas porque muitas vezes é ligado clandestinamente à rede de águas pluviais, contaminando córregos, rios etc.
 
Já sobre o aspecto do reuso de água tratada, eu venho observando que a prefeitura do Rio de Janeiro utiliza em pequena escala na limpeza de ruas e que algumas empresas reutilizam por uma questão de economia financeira.
 
Você acha que estão sendo aplicadas políticas eficazes para mudar estes índices de saneamento no Brasil?
 
Renato Castiglia: Não. Salvo algumas cidades do país, a realidade do saneamento hoje, sob meu ponto de vista, deixa muito a desejar. Não está se fazendo, de longe, os investimentos necessários que acompanhem o crescimento populacional nas cidades. Isto é evidente, basta parar em qualquer esquina e sentir o cheiro de esgoto que sai de uma galeria de águas pluviais, que não deveria ter esgoto nenhum.
 
Como o poder público e a sociedade podem contribuir para uma melhora?
 
Renato Castiglia: Para haver melhora, o investimento público precisa chegar na implementação de obras de saneamento. Isso não acontece porque não é prioridade do poder público. Vimos que recentemente a prioridade foram as obras para receber a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, enquanto lagoas e praias estão poluídas. E a sociedade precisa estar mais consciente sobre os problemas reais quanto a isso. Acredito que ela ainda não tem a percepção do problema ambiental com relação à poluição e acaba não fazendo seu papel de cobrar.
 
Assista ao vídeo produzido pela ONU Brasil sobre "Combate ao desperdício da água e melhor gestão das águas residuais":


Fonte: Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente
Seções Relacionadas:
Entrevistas

Nenhum comentário para: Índice de tratamento do esgoto brasileiro é 'muito ruim', diz pesquisador. Assunto é tema do Dia Mundial da Água