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Pesquisador recomenda atenção e cautela diante dos casos de febre amarela

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Publicado em:27/01/2017
“É preciso destacar que estamos numa fase de observação. Não há necessidade de pânico ou que toda a população do Rio de Janeiro corra para o serviço de saúde em busca de vacina”. A recomendação é do pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Eduardo Maranhão, especialista nas áreas de epidemiologia, vigilância epidemiológica, vacinologia e imunização. Para o pesquisador, a vacina é a principal medida de prevenção da doença, mas o combate ao Aedes continua sendo uma das principais medidas a serem tomadas para evitar a febre amarela urbana e as demais doenças como dengue zika e chicungunya. Confira 
 
Informe ENSP: Como o senhor avalia o grande número de casos e mortes causadas por febre amarela? O cenário é grave?

Pesquisador recomenda atenção e cautela diante dos casos de febre amarelaEduardo Maranhão: Sim, considero o cenário grave. Não temos, há mais de dez anos, uma situação de tantos casos de febre amarela silvestre como neste período. O evento sentinela é a morte de macacos, o que fora verificado já em anos anteriores (2015, 2016) em algumas áreas.
 
Tenho impressão de que as medidas foram tomadas lentamente. As ações nem sempre respondem ao ritmo de difusão da doença. Não acontecem na mesma proporção. As secretarias municipais, muitas vezes, não têm conhecimento dos casos previamente e, quando têm, nem sempre fazem ações de busca ativa para encaminhar os materiais aos laboratórios responsáveis. 

Agora, o grande risco, que não ocorre desde 1942, é o indivíduo doente voltar para a cidade e urbanizar a febre amarela. Principalmente porque, no Brasil, temos o problema do Aedes aegypti.
 
Informe ENSP: Houve falha da vigilância em alguma etapa?

Eduardo Maranhão: As atividades de busca e vigilância, uma vez que já ocorriam episódios de morte de macacos, deveriam ter repostas mais ágeis. E isso pode ser considerado uma falha geral, talvez. Outro ponto é o seguinte: como não temos febre amarela urbana desde 1942, acredito que houve o relaxamento natural. A febre amarela silvestre está em expansão, e a preocupação começa a ser maior agora, como está acontecendo em Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo.
 
Informe ENSP: O senhor associa o aumento de casos ao desastre de Mariana?
 
Eduardo Maranhão: Sem qualquer tipo de estudo específico, é precipitado afirmar. Sabemos que houve modificação ecológica importante naquela região; agora, a doença expandiu para o Jequitinhonha, para outras áreas de Minas, Ribeirão Preto. A circulação das pessoas poderia explicar essa ampliação, mas não vejo relação. Não chega a ser uma hipótese com grau de concretude para realizarmos uma ação ou investigação.
 
Informe ENSP: A vacinação é o meio mais eficaz para conter a doença?

Eduardo Maranhão: A vacinação é fundamental. O único instrumento que pode evitar a urbanização e também o risco de aquelas pessoas em contato com a floresta adquirirem a doença silvestre é a vacinação. No Brasil e em viagens para o exterior, existe recomendação clara para os locais classificados como área de risco. A vacina é a grande e melhor ferramenta.
 
Informe ENSP: Uma campanha em larga escala seria efetiva no atual momento? 

Eduardo Maranhão: Em termos ideais, se toda a população estivesse vacinada, seria melhor. Não só ajudaria a afastar a possibilidade de urbanização, como também deixaria a maioria da população devidamente protegida para circular nas áreas de risco, dentro e fora do país. Mas o grande problema é o quantitativo da vacina, ou seja, saber se há produção em quantidade suficiente para uma ação massiva de campanha, como já fizemos para outras doenças. Quem produz a vacina no Brasil é Biomanguinhos, e precisamos saber a capacidade de estoque estratégico do país e o grau de fornecimento que o Estado pode disponibilizar às regiões com problema. (Leia aqui o informe do Ministério sobre o estoque da vacina). 

Outro aspecto é o papel da mídia. Os jornais devem ser responsáveis pela cobrança às autoridades, mas devem ter cautela a fim de não gerar pânico na população.
 
Informe ENSP: Qual é a principal recomendação para o atual momento?
 
Eduardo Maranhão: É preciso destacar que estamos numa fase de observação. Não há necessidade de pânico ou que toda a população, no caso do Rio de Janeiro, por exemplo, corra para o serviço de saúde. Essa ação irá sobrecarregar o serviço e reduzir o estoque da vacina, que hoje deve ser direcionada a determinado público.
 
A vacinação é o instrumento que se tem, mas outro aspecto importante é o combate intensivo ao vetor, que, nas grandes cidades, é o Aedes. Reduzindo o mosquito e os criadouros, reduziremos não só a possibilidade do risco da febre amarela urbana, como também a dengue, zika e chicungunya.
 

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2 comentários
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
30/01/2017 16:53
Surto atual é mais grave e há risco de febre urbana, diz epidemiologista da UnB Pedro Luiz Tauil O epidemiologista da UnB Pedro Luiz Tauil ANGELA PINHO DE SÃO PAULO Não há razão para pânico, mas a atual emergência de casos de febre amarela no país é grave e requer providências imediatas, diz o médico epidemiologista Pedro Luiz Tauil, 75. Professor da Universidade de Brasília, ele acompanha há décadas o tema e avalia: o atual surto é mais preocupante que o anterior, ocorrido entre 2008 e 2009. Desde o início do ano, o Brasil tem 101 casos confirmados, o maior número desde o início da contagem, em 1980. Para conter essa escalada, diz, é preciso aumentar a imunização dos moradores de áreas atingidas e evitar que o vírus volte a ter transmissão urbana. Desde 1942, ele é transmitido apenas por mosquitos que da área silvestre. Mas, se uma pessoa com febre amarela for picada pelo Aedes aegypti, o mosquito poderá voltar a circular com o vírus pelas cidades. O epidemiologista também defende um controle maior dos governos sobre a imunização. Folha - Como o sr. avalia o atual surto de febre amarela? Qual o risco para quem vive em área urbana? Pedro Tauil - Hoje os casos que estão acontecendo são de febre amarela silvestre. Para evitá-los, a única medida é manter o nível de cobertura vacinal elevado, acima de 80%. Além disso, a gente vive o risco de a febre se urbanizar, isto é, passar a ser transmitida pelo Aedes aegypti. Isso pode se dar quando pessoas com febre amarela silvestre vão para a cidade no período de transmissibilidade, em que o vírus está circulando no sangue periférico, de dois dias antes do início dos sintomas a cinco dias após. É uma espada de Dâmocles sobre a nossa cabeça. Qual é o risco de que isso aconteça? É preciso ressaltar que isso não está acontecendo hoje e pode ser evitado, como já foi outras vezes. Mas, quanto mais gente com febre silvestre, maior é o risco de essas pessoas virem para a cidade e infectarem mosquitos urbanos. O surto atual é mais preocupante do que o anterior, de 2008 e 2009? Por quê? É mais grave porque tem mais casos de febre amarela silvestre, que eventualmente podem vir para as localidades onde existe o aedes. O que o país poderia fazer para avançar no combate ao vírus da febre amarela? É preciso ir além da vacinação em postos fixos. É importante que os níveis federal, estadual e municipal façam uma vigilância da cobertura vacinal, inclusive em "épocas de paz" [sem surto], com equipes móveis permanentes, que vão imunizar as pessoas que moram em áreas rurais e não chegam a ir à cidade. O país pode vir a eliminar a febre amarela silvestre? Não, febre amarela silvestre não é erradicável, porque vive entre os animais, em mosquitos silvestres. Não dá para acabar com as matas. O ciclo silvestre vai continuar existindo, assim como, provavelmente, mortes de macacos. O que nós não queremos e podemos evitar é casos humanos, por meio de uma boa cobertura vacinal. Há motivo para pânico? Não. O que precisa é pessoas que moram em áreas com transmissão silvestre ou para lá se dirigem serem vacinadas. As medidas para enfrentar estão sendo tomadas e é preciso prudência. Algumas pessoas não têm indicação da vacina [como doentes de câncer] e podem ter efeitos adversos. A que atribui o atual surto? Provavelmente à baixa cobertura vacinal na área onde ocorreu o ciclo silvestre [em Minas, era de 50%]. Não podemos baixar a guarda. E se der tudo errado e acontecer a transmissão urbana? Teria que vacinar rapidamente toda a população urbana, o que traria o desafio da quantidade de vacinas. Por isso precisamos introduzir a imunização no calendário infantil de todo o Brasil [hoje, está apenas nas áreas de vacina recomendada]. Assim, aos poucos, toda a população estaria protegida.
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
13/02/2017 18:46
ProEpi - Associação Brasileira de Profissionais de Epidemiologia de Campo as 10:37 · .. É hoje! Não perca. Oportunidade de ouvir uma das maiores autoridades no assunto, Dr Pedro Tauil. Canal Livre deste domingo busca desvendar o surto de febre amarela no país Surto no país vem acarretando em muitas mortes e certo pânico entre a população, sobretudo a de baixa renda O ano de 2017 começou com alguns problemas bem? cabinecultural.com