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Práticas alimentares e corporais de mulheres obesas: tema de pesquisa da ENSP

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Publicado em:16/12/2016
Práticas alimentares e corporais de mulheres obesas: tema de pesquisa da ENSPO excesso de peso cresceu em todo o mundo nas últimas décadas. No Brasil, os indicadores mostram aumento contínuo nas prevalências de sobrepeso e obesidade atingindo quase 60% da população adulta. Ao analisar a temática, a maior parte dos estudos se pauta sobre uma perspectiva biológica associando o problema a uma questão de balanço energético positivo, sem atentar para outras dimensões envolvidas no processo. Pensando nisso, a aluna de doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública Tatiana Coura Oliveira desenvolveu uma tese, sob orientação da pesquisadora Dina Czeresnia, com a finalidade de compreender as concepções e os sentidos atribuídos às práticas alimentares, bem como os sentidos atribuídos ao corpo em um grupo de mulheres com excesso de peso. Segundo Tatiana, as narrativas coletadas pela pesquisa evidenciaram transformações nas práticas alimentares marcadas pela introdução de produtos industrializados de baixo valor nutricional, principalmente ultraprocessados, devido à escassez de tempo, que, por sua vez, se liga à questão de gênero no que concerne à alimentação no âmbito doméstico. “Em relação aos sentidos que se ligam ao corpo, existem diferenças e gradações na percepção do excesso de peso como um problema. Contudo, em maior ou menor grau, emerge o sentimento de inadequação em relação à gordura corporal. As tentativas de emagrecimento são práticas comuns entre as informantes, não existindo diferenças entre as recomendações realizadas por especialistas quanto daquelas extraídas da mídia ou mesmo do senso comum”, acrescentou. Os resultados chamam a atenção para a abrangência do acesso à informação proveniente não somente do serviço de saúde, como também de diferentes tipos de mídias nos quais há múltiplos discursos sobre corpo e alimentação, situação atrelada à precariedade de condições e possibilidades concretas de aquisição e consumo, conformada não somente pela situação de renda nas camadas populares, mas por um ambiente obesogênico.
 
O estudo observa que, embora os padrões de beleza mudem com o tempo, a valorização contemporânea do corpo magro e sua associação com a saúde disseminou-se de distintas maneiras chegando inclusive em grupos nos quais o excesso de peso já representou força e saúde. “A forte presença de um discurso que normatiza condutas prescritivas ligadas à alimentação e ao corpo tem amplificado a ansiedade e o sofrimento daqueles que não conseguem se adequar ao modelo.”
 
Apesar da dificuldade na adesão, explica Tatiana, a realização de dietas é comum entre as informantes, não existindo diferenças entre as recomendações realizadas por especialistas ou indicadas pelo senso comum. A noção de reeducação alimentar emerge em algumas narrativas como única alternativa viável para a perda de peso efetiva; no entanto, também esta não se consolida. “A proposta de reeducação alimentar evidencia a repetição de um modelo que desconsidera aspectos que se ligam à identidade sociocultural dos grupos, propondo mudanças que não se sustentam no cotidiano das pessoas.” Nas formulações de uma abordagem compreensiva da alimentação, alerta Tatiana, é pertinente levar-se em conta que, no plano individual, encontram-se presentes aspectos ligados à identidade cultural alimentar como uma construção indissociável da existência coletiva e das conjunturas materiais e existenciais.
 
Para um dos artigos produzidos pela aluna, foram realizadas 21 entrevistas com usuárias, com excesso de peso e obesidade, de um serviço de saúde situado no Rio de Janeiro, entre setembro e novembro de 2015. Na narrativa das mulheres entrevistadas, informou Tatiana, evidenciou-se amplo acesso à informação, seja pelos serviços de saúde, seja pela mídia. No entanto, observou-se grande dificuldade na realização de mudanças nas práticas alimentares. Para ela, os meios de comunicação social ou de redes de socialização (família, ambientes de trabalho e serviços de saúde) corroboram com o estigma associado ao excesso de peso. “Apontam-se aspectos da vida individual, cultural, social, econômica e de mercado que precisam ser pensados de modo integrado na abordagem da obesidade. A elaboração de políticas públicas alimentares abrangentes deve estar articulada à proposição de discursos e práticas de intervenção no âmbito individual”, concluiu.
 
Sobre a autora
 
Tatiana Coura Oliveira é professora da Universidade Federal de Viçosa. Nutricionista formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (2000), tem mestrado em Ciência da Nutrição também pela Universidade Federal de Viçosa e especialização em Gestão de Alimentos e Alimentação Coletiva pela Universidade Federal de Ouro Preto.
 

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