Pesquisadora de Coimbra fala sobre transmissão de parasitas intestinais através da água para consumo humano
O Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA/ENSP) recebeu, no dia 26/10, a professora Maria do Céu Rodrigues Sousa, especialista em Microbiologia e Parasitologia da Universidade de Coimbra, para falar sobre Doenças Negligenciadas: impacto das protozoonoses na Saúde Pública. Em sua palestra, ela adiantou que, em breve, será publicado estudo confirmando que a população do Rio de Janeiro tem uma alta frequência de parasitas intestinais. “É importante notar que essas espécies têm a mesma via de transmissão, indicando exposição à contaminação fecal. A frequência desses parasitas adicionados à alta frequência de poliparasitismo pode ser usado como indicadores de transmissão através da via fecal/oral, apontando assim para transmissão de parasitas intestinais através do fornecimento de água para consumo humano ou a ingestão de alimentos contaminados.” A pesquisa destaca que a distribuição de água geralmente tem problemas inerentes às características do uso e ocupação do solo urbano na região metropolitana do RJ, especialmente nos municípios e bairros com maiores níveis de desigualdade social e econômica. Nessas áreas, a falta de acesso a serviços de coleta e tratamento de esgoto leva à contaminação da rede de abastecimento de água através de ligações cruzadas e zonas de baixa pressão, levando à entrada de águas residuais e pluviais no sistema. A situação é agravada em bairros e favelas localizadas em áreas mais altas, onde a pressão na rede é insuficiente para manter um fluxo constante de água. O debate foi coordenado pelos pesquisadores Clementina dos Santos Feltman e Marcelo Bessa.
Maria do Céu informou, ainda, que a água para os cidadãos da região metropolitana do Rio de Janeiro é fornecida por dois sistemas de abastecimento principais, Guandu-Piraí e Imunana-Laranjal, que funcionam satisfatoriamente, de acordo com as normas brasileiras de qualidade técnica e de saúde.
O estudo, fruto de uma parceria entre a ENSP, a Universidade de Coimbra, o Instituto de Doenças Infecciosas Evandro Chagas (INI/Fiocruz), cujo levantamento foi realizado com 3.245 indivíduos atendidos no Instituto Nacional de Doenças Infecciosas Evandro Chagas, no período de abril de 2012 a fevereiro de 2015, conclui que a giardia lamblia - parasita intestinal, que pode infectar homens e animais - é uma das causas mais comuns de surtos de doenças transmitido pela água, associados à água potável; criptosporidiose e giardíase pertencem ao grupo de doenças negligenciadas por causa da sua importância nas doenças transmitidas pela água e representam um desafio para as companhias de água, autoridades de saúde e pesquisadores no domínio do ambiente. Estudos sobre a persistência ambiental desses protozoários após o tratamento de água são muito importantes em saúde pública, especialmente nos países em desenvolvimento, onde as condições de vida precárias facilitam a exposição aos agentes responsáveis pela diarreia. Maria do Céu salientou que conhecer a distribuição geográfica de parasitas intestinais na população do RJ é um primeiro passo que vai ajudar no processo de tomada de decisão necessária para elaborar programas de prevenção e controle eficazes; no entanto, mais estudos epidemiológicos são necessários.
A título de informação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou 17 doenças tropicais negligenciadas que afetam um bilhão de pessoas no mundo, entre as quais, as protozoonoses, que sãо dе origem animal е podem infectar оѕ seres humanos, sendo umа ameaça à saúde pública е animal еm escala mundial. Segundo a OMS, essas doenças crescem еm todo о mundo; еntrе аѕ principais estão а gripe aviária, а febre Ebola dа África, о Hantavirus е а encefalopatia espongiforme, conhecida popularmente соmо doença dа vaca louca. A pneumonia atípica ainda é considerada umа doença zoonótica potencial роr ainda nãо ter encontrado relação еntrе о gato е о ѕеr humano nа transmissão.
A visita da professora Maria do Céu Rodrigues de Sousa foi realizada no âmbito do convênio de cooperação internacional, assinado em março de 2016, na forma de Termo Aditivo, entre a ENSP, o INI/Fiocruz e a Faculdade de Farmácia e o Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, ambos da Universidade Coimbra. Assista, no vídeo abaixo, a palestra.