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Exclusão social é fator determinante para o uso de crack

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Publicado em:27/10/2016
Exclusão social é fator determinante para o uso de crackOs resultados da pesquisa Crack e Exclusão Social apontam para o fato de que o uso de crack é consequência, e não causa da exclusão social. A pesquisa foi encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça e Cidadania (Senad/MJ) devido ao contexto de consumo da droga no país, evidenciado pelos resultados da Pesquisa Nacional sobre Crack, desenvolvida pela Fiocruz. De acordo Leon Garcia, psiquiatra e diretor de Articulação e Projetos da Senad à época em que a pesquisa foi solicitada, percebeu-se a necessidade de entender a relação sociológica do tema. Após a realização de duas centenas de entrevistas com usuários e profissionais de saúde mental, a pesquisa mostrou que o uso do crack piora a situação de pessoas que não têm laços familiares, moradia, trabalho e estudo, mas que esses problemas chegaram antes da dependência na substância. “Em 2009, o país começou a discutir a questão do crack; porém, essa discussão se deu muito mais em relação ao tema da segurança pública. Isso trouxe respostas de forças repressivas e a consequente repressão de direitos dos usuários da droga. As cenas de uso - apresentadas na Pesquisa Nacional - mostravam a profunda relação de miséria em que essas pessoas vivem. Existe uma associação enorme entre miséria e abuso de drogas lícitas e ilícitas, que estimula ainda mais a desigualdade social no Brasil”, afirmou Leon.

Ainda em sua fala, o psiquiatra citou que 80% dos usuários encontrados nas cenas de uso de crack não completaram o ensino médio e 50% deles vivem em situação de rua. “O uso da droga e exclusão entram num processo viciosos”. Antecedendo a fala de Leon Garcia, o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, Hermano Castro citou como o processo de exclusão na sociedade leva à precarização. “Estamos vivendo um momento de grande retrocessos em todas as áreas, e as mazelas que a sociedade vive tem impacto direto sobre as drogas e o álcool.”

Coordenando o seminário, o psicólogo Francisco Netto, membro do Programa Institucional de Álcool, Crack e outras Drogas da Fiocruz e mestre em Saúde Pública pela ENSP, contextualizou o programa, iniciado em 2014, e destacou que o crack surgiu num amplo contexto de pânico social e midiático, que gerou grande estigmatização dos usuários. “O crack, por exemplo, teve toda questão epidemiológica envolvida que o álcool nunca teve”, lembrou Francisco Netto. Ele citou, ainda, a Pesquisa Nacional sobre Crack, que, de maneira quantitativa, apresentou o número de usuários da droga nas grandes capitais e seus perfis: maioria homens, negro, poliusuários, e que gostariam de receber tratamento por vontade própria. “A grande questão hoje é se o que nós temos para oferecer é o que realmente eles precisam."

Confira, no vídeo abaixo, as falas de Leon Garcia, Francisco Netto e Hermano Castro.

Apresentando os resultados da pesquisa, Roberto Dutra Torres, sociólogo e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), ressaltou que umas das premissas da pesquisa foi descontruir essa relação fatalista que coloca a substância – crack -  como uma espécie de sentença de vida. Outra premissa, segundo Dutra, foi enxergar o crack como um ciclo de exclusão e buscar aprofundar o entendimento entre a exclusão e a droga.  Após a realização de mais de 200 entrevistas com usuários e agentes institucionais de três regiões metropolitanas do país (Sul, Sudeste e Nordeste), o estudo apontou para a questão de que exclusão social é um fator determinante para o uso da droga. “O crack reforça processos de exclusão anteriores ao uso problemático da droga”, destacou Roberto. O professor destacou, ainda, o conceito de crédito social a perder de vista, para pensar as abordagens ao usuário do crack. Para ele, as instituições devem focar na melhoria dos usuários, mas de forma real e consciente, generosa.

Ricardo Visser falou sobre a questão do uso laboral da droga. De acordo com ele, dentro da pesquisa foi realizado um estudo, desenvolvido em uma comunidade pesqueira do Leste Fluminense. A intenção foi apresentar um contraponto à experiência mais tradicional do usuário de crack excluído socialmente. “Foi realizada uma etnografia com alguns pescadores da região que faziam uso de crack, mas não apresentavam os clássicos traços patológicos e tão estigmatizantes dos usuários de crack do mundo urbano. Essa pesquisa ajuda também a desmitificar essa ideia estigmatizante do usuário de crack urbano e daquilo que a mídia fala”, afirmou ele.

Para finalizar o seminário, a médica de Família e Comunidade e integrante do projeto Consultório na Rua em Manguinhos, Valeska Holst Antunes, enfatizou a situação de que “usuário de crack e morador de rua não são sinônimos”. Segundo ela, a população de moradores de rua é bastante diversa, e existe uma prevalência muito maior no uso de álcool entre essa população. Valeska citou três desafios que, segundo ela, são fundamentais para o cuidado da população de moradores de rua: tempo, ou seja, políticas públicas que resolvam rapidamente o problema; estratégia de redução de danos; e flexibilização de regras para reproduzir mudanças.
 
Confira, no vídeo abaixo, as falas de Roberto Torres Dutra, Ricardo Visser e Valeska Holst.

 

 



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