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Cesteh discute agenda de ajustes enquanto governo interino assume cargo sem votação

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Publicado em:12/09/2016
Cesteh discute agenda de ajustes enquanto governo interino assume cargo sem votaçãoEm 31/8, no mesmo momento em que dezenas de pesquisadores discutiam as novas e tenebrosas perspectivas para a saúde, contidas no Projeto Ponte para o Futuro do - até aquele momento - presidente interino do Brasil, ocorria, no Senado Federal, a votação do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Durante o evento Encontros do Cesteh, que debatia, não por acaso, o tema Políticas de Saúde na atualidade: privatizações na saúde e desmonte do SUS, a palestrante convidada Maria Inês Bravo defendia a importância da luta organizada em defesa dos direitos sociais e, em especial, a necessidade de manter a força de mobilização dos movimentos sociais. Às 13h37, o sombrio cenário se confirmou. Mesmo não tendo sido eleito pelo voto popular, Michel Temer se tornou presidente da República na dita ‘democracia’ que vivemos. "Devemos lutar contra esse recuo civilizatório", falou Inês, convocando toda a população.
 
Maria Inês, uma das representantes da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde, relembrou que a privatização, tanto da saúde como das políticas sociais, ganhou força nos anos de 1990, mas já vinha ocorrendo, de maneira mais lenta e silenciosa, desde a ditadura. Segunda ela, não é possível falarmos apenas da conjuntura atual sem que façamos um histórico das concessões que diversos governos vêm fazendo ao longo dos anos, “englobando aí também os governos do PT, que não conseguiram efetivar o projeto de Reforma Sanitária e flexibilizaram algumas de suas propostas, inclusive com a apresentação de modelos de gestão, considerados por mim privatizantes, como a Fundação Estatal de Direito Privado, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e até o apoio que foi dado às Organizações Sociais de Saúde (OSS), que se ampliaram a partir dos anos 2000”.
 
A partir do histórico posto, segundo Maria Inês, atualmente, vivemos em um contexto pior. “Numa perspectiva de governos de coalizão, que foi a proposta do governo PT, é muito difícil se estabelecer coligações entre classes sociais antagônicas, capital e trabalho. Isso também levou ao apassivamento de diversos movimentos sociais como a CUT, a UNE e muitos conselhos de saúde, por exemplo, que ficaram restritos em termos de negociações, deixaram as ruas e perderam seu protagonismo”, constatou ela. 
 
Maria Inês também se posicionou contra o movimento de Reforma Sanitária flexibilizada e ressaltou ser esse movimento muito maior que o SUS. Para ela, é preciso articular reforma e revolução e ter como meta a não acomodação. A proposta de reforma flexibilizada tem sido utilizada por algumas entidades que se tornaram históricas no movimento pela Reforma. “Foi também por isso que a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde se colocou, pois achamos que era fundamental ter outro grupo de luta na saúde que pudesse levantar as bandeiras históricas que tinham sido esquecidas. Na década de 1980, nosso lema era ‘Saúde, Democracia e Socialismo’. Esse último ficou para trás, perdido no meio do caminho.”
 
A Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde foi criada em 2010 por meio da articulação dos fóruns do Rio de Janeiro, Alagoas, Paraná e São Paulo. A Frente tem como princípios fundamentais a defesa do SUS 100% público, estatal e de qualidade e uma posição contrária à privatização da saúde. Ela remonta historicamente à Reforma Sanitária construída nos anos 1980, que articulava uma perspectiva mais ampla da saúde, a partir da determinação social do processo saúde-doença e da discussão sobre um novo projeto societário. A Frente se posiciona contra a reforma flexibilizada e é suprapartidária, numa perspectiva de esquerda. 
 
O agravamento da crise econômica e política brasileira, assim como a ameaça às conquistas democráticas também estiveram em pauta. De acordo com Inês, os grupos mais ricos dominam a maior empresa midiática do país, o que representa um grande problema, pois a maior parte da população só tem acesso a canais de televisão abertos e permeados por informações manipuladas. Com isso, ela também ressaltou a necessidade de manutenção e fortalecimento das mídias e grupos de comunicação de instituições públicas que são imparciais e, ainda, as mídias independentes, em especial as digitais, que publicam o fato verdadeiro e mostram o olhar do povo. 
 
Ao final do encontro, muitas pessoas se posicionaram sobre as atuais questões, apresentaram suas percepções, indignações e também as angústias que sentem frente aos ataques. Maria Inês convocou os trabalhadores a participar da Plenária em Defesa do SUS, no Rio de Janeiro, dia 13 de setembro, que será um desdobramento da reunião ampla de articulação de entidades e movimentos em defesa do Sistema Único de Saúde, ocorrida em agosto de 2016, encontro no qual participantes apontaram, em consenso, pela construção de um movimento ainda maior de defesa do SUS e a construção de uma agenda unitária de lutas em defesa da Saúde Pública, gratuita, de qualidade e 100% estatal.
 
A plenária será realizada no Salão Nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, localizado no Largo de São Francisco de Paula, nº 1, Centro, às 18h. 
 
Cesteh discute agenda de ajustes enquanto governo interino assume cargo sem votação
 


Cesteh discute agenda de ajustes enquanto governo interino assume cargo sem votação

1 comentários
ALEXANDRE MAGNO TEIXEIRA DE CARVALHO
12/09/2016 17:05
Apesar da conjuntura tenebrosa de nova ofensiva violentíssima do capital, Maria Inês Bravo (o sobrenome já diz luta rs) nos brinda, mais uma vez, com o otimismo da praxis que sua leitura histórica dialética propicia, sempre a trabalhar árdua e implacavelmente pela unidade e pelo florescimento da consciência de classe. Que bom ver esses nomes juntos: CESTEH (onde cursei meu mestrado) e Inês Bravo (guerreira admirável).