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Alunos de escola ocupada em Manguinhos colocam a mão na massa para solucionar problemas

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Publicado em:15/04/2016

Alunos de escola ocupada em Manguinhos colocam a mão na massa para solucionar problemasO nome é de sambista: Colégio Estadual Compositor Luís Carlos da Vila. Mas, na manhã da sexta-feira, 15 de abril, não era o samba, e sim o rock que tomava de assalto os ouvidos de quem atravessava seu portão principal. A escola da comunidade de Manguinhos é uma das 36 instituições estaduais de ensino ocupadas por alunos nas últimas semanas, no Rio de Janeiro. Era ao som das guitarras que alunos pintavam cartazes, capinavam grama e limpavam o banheiro. O movimento de ocupação pede mais de participação nas decisões da vida escolar, apoia a greve dos professores e coloca a mão na massa para solucionar problemas enfrentados em seu dia a dia. Para conhecer de perto a ocupação, o diretor da ENSP, Hermano Castro, e o vice-diretor de Ambulatório e Laboratórios (VDAL/ENSP), Marcos Menezes, fizeram uma visita ao colégio, acompanhados da pesquisadora Mercês Navarro Vasconcellos, que desenvolve trabalhos no território de Manguinhos.

Os visitantes, ao atravessarem o portão e entrarem no longo corredor da escola, perceberam o som do rock aos poucos sendo substituído pelas notas de um piano desafinado. Dentro de uma sala, com a ajuda de ferramentas e um aplicativo de um telefone celular, um menino afinava esse instrumento da escola. A tarefa, normalmente exercida por profissionais especializados, estava sendo encarada com leveza por José Roberto de Oliveira. “Eu sou ex-aluno da escola. A gente ganhou esse piano, e sempre ficaram na promessa de que alguém viria aqui afinar; mas, como não apareceu ninguém, resolvi eu mesmo fazer. É a maneira que eu tenho de ajudar na ocupação. E também tenho dado aulas de música para os alunos.”

Perto dali, na cozinha, Ana Cládia, moradora de Triagem e mãe de um aluno do primeiro ano da escola, concorda que não dá mais para ficar esperando que a ajuda venha de fora. “Eu resolvi apoiar porque a causa deles é legitima. É uma forma de mostrar para eles que é importante exercer a cidadania e não ficar esperando que o governo faça pela gente. É importante ter atitude.”

Denise Ferreira, moradora da comunidade, é outra voluntária que tem vindo diariamente ajudar os alunos. “Eu lavo os banheiros, lavo louça. A escola está até melhor agora. Os alunos estão aprendendo a cozinhar. No começo, os meninos não queriam lavar a louça, mas nós conversamos com eles sobre a lei do machismo nas escolas, e eles agora ajudam.”

As obrigações que têm sido deixadas de lado pelo governo são muitas e visíveis: forros apodrecidos desabando, mato crescido, sujeira, abandono. Símbolos de descaso e irresponsabilidade, as piscinas da escola estão com água parada e suja. Criadouros potenciais para o mosquito da dengue, elas chamaram a atenção dos visitantes da ENSP, que já se mobilizaram para conseguir uma visita de técnicos da Fiocruz.

“Esse é um movimento de luta pela educação no estado que mostra que a participação popular é a melhor forma de resolver os problemas. As escolas de Manguinhos possuem uma relação estreita com a Fiocruz. Muitos alunos de lá são bolsistas em projetos aqui na Fundação, estudam no pré-vestibular da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) etc. A ENSP se coloca à disposição para ajudá-los, disse o diretor, Hermano Castro.

Tanto Hermano como o diretor da EPSJV/Fiocruz, Paulo César Ribeiro, têm uma reunião agendada para o próximo dia 20 com diretores do Colégio Estadual Compositor Luís Carlos da Vila e Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro. O encontro já estava agendado desde antes das ocupações e objetiva estreitar a cooperação da ENSP com essas escolas.

Segundo os alunos, os professores têm apoiado a luta deles, inclusive dando “aulões”. Também está prevista uma extensa programação na Escola Luís Carlos da Vila, com saraus de música e participação no 1° Encontro Popular de Saúde do Rio de Janeiro, que será realizado no sábado, dia 16 de abril, durante o dia inteiro, na comunidade de Manguinhos. Os alunos da ocupação continuam precisando de água e alimentos. A Direção da ENSP está recebendo os donativos no terceiro andar da instituição.


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