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Nova revista da Abrasco traz artigos de pesquisadores da ENSP

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Publicado em:07/01/2016
Nova revista da Abrasco traz artigos de pesquisadores da ENSPA Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) lançou, no mês de dezembro de 2015, o primeiro número da revista Diálogos e Ensaios em Saúde Coletiva. A edição de estreia, disponível para download em PDF ou leitura on-line, traz artigos de cinco pesquisadores da ENSP. A proposta da revista é resgatar um pouco do gênero ensaístico, que, conforme nos lembra Gastão Wagner, atual presidente da Abrasco, caiu em desuso. À abordagem aberta, comum a este gênero, junta-se a ideia de se dialogar com as mais diversas áreas do saber. O investimento estético, como não poderia deixar de ser num campo de luta como o da Saúde Coletiva, tem uma razão política - como se pode ler ainda neste trecho do editorial.

- Em situações de crise, quando vivemos imersos em dúvida, na desconfiança quanto a nossos representantes, quando nossas instituições falham e observa-se uma concentração inaudita de riqueza e de poder, faz-se necessário, como nunca, a liberdade de investigação. Retomar velhos temas sob novos olhares. Propor novas abordagens para interpretações consagradas. Descobrir novos objetos que mereçam nossa atenção.
 
O primeiro artigo de autoria de uma pesquisadora da ENSP é assinado por Tatiana Wargas,  atual vice-diretora de ensino da Escola. Com o título A formação em Saúde Coletiva
e os desafios da avaliação, o texto debate a lógica produtivista e quantitativa dos métodos de avaliação científica que, para muitos educadores e pesquisadores, tem prevalecido nas instições brasileiras.
 
- As perguntas que se apresentam para o campo da Saúde Coletiva no atual contexto são: por que e desde quando passamos a sustentar a avaliação distante do projeto de formação do campo? Quais os riscos que se impõem para a produção de conhecimento quando reduzimos avaliação a metas de produção? O que deste fenômeno reflete um debate maior sobre ciência?, questiona Tatiana.
 
Com uma proposta de resgate de conceitos e princípios da Reforma Sanitária, o artigo Para defender o SUS e sua integralidade: desafios para a Vigilância e a Promoção da Saúde é assinado pelo pesquisador do Cesteh/ENSP Marcelo Firpo em parceria com Jandira Maciel, da UFMG, Fernando Carneiro, da Fiocruz Ceará e Letícia Coelho, da secretaria de saúde do Estado da Bahia. O texto fala da necessidade de se trazer de volta para os debates o conceito de determinação social das doenças, produzindo uma vigilância em saúde mais próxima do que foi preconizado na criação do SUS.
 
- Uma das inovações mais importantes do movimento pela reforma sanitária e a construção do SUS nos anos 80 e 90 foi à incorporação de uma concepção crítica e sistêmica de vigilância e promoção da saúde. A discussão mais avançada dos anos 90 centrou-se na proposta conceitual de vigilância da saúde (Teixeira, Paim e Vilasbôas, 1998). Nessa perspectiva o objeto de ação evolui de uma abordagem técnica da vigilância e controle de doenças transmissíveis, bem como da qualidade de produtos e serviços pontuais, para uma vigilância dos riscos, danos, necessidades sanitárias e determinantes do processo saúde/doença, cuidado e qualidade de vida, incluindo ações intersetoriais de promoção da saúde, diz um trecho do ensaio.
 
Caco Xavier é outro nome da Escola que aparece na nova publicação da Abrasco. O professor, que é também jornalista e designer, foi o responsável pelas ilustrações da revista. Em um artigo que, tanto na forma quanto no conteúdo, se destaca por se afastar da linguagem acadêmica, assinado junto com Paulo Capel Narvai, da USP, Caco faz uma análise da dificuldade que a marca SUS tem em se tornar conhecida dos milhões de usuários do sistema. O ensaio enumera 13 pontos, além de um cartoon, que tentam dar conta dos motivos pelos quais a marca, expressa concretamente no esparadrapo azul dobrado em forma de cruz, é invisível em reportagens da grande mídia e no imaginário popular. 
 
- Em um trabalho apresentado no 11º Abrascão, a análise das imagens dos equipamentos
e ambientes do SUS revelou que hoje quem define o SUS são os inimigos do SUS (uma vez que nós não o definimos) (...) Travamos todos os dias uma guerra no plano simbólico em que de um lado estão os que buscam dar visibilidade ao SUS (inclusive sem varrer para baixo do tapete as críticas pertinentes e necessárias) e, de outro lado, aqueles que investem na desconstrução da marca do SUS.
 
Em consonância com sua própria linguagem mais dinâmica, o artigo faz uma crítica da linguagem excessivamente técnica muitas vezes usada nas discussões à respeito do SUS.
 
- Uma rápida busca ao Google Imagens (apenas como exemplo e amostragem) nos indica que os defensores do SUS são, em sua maioria, profissionais do Sistema ou de instituições a ele vinculadas, exercendo essa defesa segundo a gramática técnica e política concernente aos âmbitos próprios da organização do SUS, numa língua pouco afetuosa e pouco ressonante com o vocabulário e os desejos da população.
 
Por fim, as propostas para reformular a marca do SUS de modo que atinja a população descartam os métodos e estratégias da produção do mercado.
 
- Queremos trazer esse combate para o campo da Saúde Coletiva, do acesso universal, da equidade, das reais necessidades de saúde da população, na perspectiva do que identificamos como sendo o interesse público na saúde. Chega de jogar nos campos do adversário, nos ‘caldeirões’ lotados, nas altas altitudes, com juízes comprados (...) devemos organizar e criar condições para a (re)criação da marca (ou transcriação). Abandonemos de uma vez (e coloquemos uma pá de cal definitiva) no modelo “Vamos contratar uma agência”, vigente até hoje em nossas instituições.
 
O pesquisador Luis David Castiel, do Depto. de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da ENPS assina artigo intitulado Promoção da Saúde em busca de uma sabedoria prática inteligente… Como será o amanhã? O texto fala da profusão de dispositivos de automonitoramento e seus impactos na atenção preventiva em saúde e no cuidado secundário. Segundo Castiel, a tendência se relaciona com o que ele chama de “autocontrole no ambiente político neoliberal”.
 
- Passamos a ter, cada vez mais, corpos/subjetividades fixas aos dispositivos ditos ‘smart’, traduzido em português como ‘inteligentes’. Estes, também, podem atuar no controle feito por gestores em relação a empregados, permitir o rastreamento, a compilação e o processamento dos movimentos dos usuários dos impérios internéticos cujos serviços monitoram suas máquinas aos dispositivos dos interessados.
 
A seguir, Castiel fala do receio que boa parte da população tem com respeito à essa apropriação de informações pessoais por parte das empresas de internet. Embora essa apropriação se dê, em grande escala, para orientar estratégias de marketing, Castiel lembra de outros usos que se pode fazer das tecnologias.
 
- Também existem, em algumas partes do mundo dito civilizado, iniciativas de ativismo político na escala das comunidades. Assim, pode-se ultrapassar as perspectivas de controle externo, ao se coletar seus próprios dados para delinear necessidades e demandar ações governamentais diante de condições de saúde, transporte e tráfego, dados sobre crime, disposição de lixo, poluição, etc.
 
A pesquisadora da ENSP Lenira Zancan colabora com Marcos Akerman, da USP, no artigo 
Conferência Mundial de Promoção da Saúde no Brasil em 2016: por que aqui e agora? O texto responde da seguinte maneira à primeira pergunta de seu título:
 
- Entendemos que valeria compartilhar com o mundo algumas das convicções que temos acumulado no campo da saúde coletiva/promoção da saúde no Brasil: de que a saúde é produzida socialmente e neste sentido o processo saúde-doença-cuidado é passível de intervenções coletivas e individuais com potência de modificá-lo; de que um sistema universal de saúde como política pública de estado é a melhor maneira para a defesa do direito à saúde; e de que planejamento integrado de base territorial faz bem para a saúde.
 
O motivo de se fazer a conferência em 2016 também merece destaque.
 
- Em 2016, celebra-se o 30º aniversário da 1ª Conferência Global de Promoção da Saúde da OMS, o 30º aniversário da 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), e o 10º aniversário da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) do Brasil. Queremos fazer dessa 22ª Conferência oportunidade para uma reflexão crítica sobre o passado, analisando-se as possibilidades de se estabelecer pontes com o presente e o futuro.
 
A Revista Ensaios e Diálogos em saúde Coletiva traz também, em sua primeira edição, uma entrevista com o ex-ministro da saúde Artur Chioro e textos como a carta da Goiânia, com as proposições do 11° Congresso Nacional de Saúde Coletiva, realizado entre julho e agosto de 2015. A proposta é, ainda de acordo com seu editorial, oferecer um espaço aberto às mais diversas expressões da luta por uma vida mais digna para todos.

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