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Escolas de Saúde pública devem gerar conhecimento próprio

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Publicado em:16/12/2015
A organização dos sistemas e serviços de saúde e os contextos socioeconômico, cultural, epidemiológico e sanitário são determinantes para a ação das Escolas de Saúde Pública. A constatação, apresentada na mesa que explorou a Formação em Saúde Pública no Contexto Global, realizada no último dia (10/12) do 1º Colóquio Brasil Cuba de Formação em Saúde Pública, destacou os conceitos e práticas em saúde pública como elementos indissociáveis da organização social. A atividade reuniu, além da vice-diretora geral da Escola Nacional de Saúde Pública de Cuba (ENSAP), Tania Aguilar, e do subdiretor de Pesquisa e Docência do Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia de Cuba (Inhem), Adolfo Álvarez, dois especialistas da Fiocruz na área de saúde internacional e formação de recursos humanos em saúde internacional, os pesquisadores Paulo Buss (Cris/Fiocruz) e Célia Almeida (ENSP/Fiocruz). 
 
Diretor do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris), Paulo Buss admitiu ser necessário conceituar as práticas, políticas e ações em saúde pública antes de dimensionar o campo da saúde global e da formação. E para mensurar a saúde pública, segundo ele, é necessário considerar o seguinte aspecto:
 
“Começaria dizendo que para falarmos de saúde pública é preciso, imediatamente, nos referirmos à sociedade. Isso porque os conceitos e práticas sobre saúde, doença, sistemas de saúde e saúde pública se modificam ao longo do tempo em qualquer formação social que se considere. Há diferenças na saúde pública praticada no Brasil, em Cuba, na África ou na Europa porque existem tantas noções de saúde pública como conjunturas sociais. Como afirma Jairnilson Paim, cada formação social engendra sua própria saúde pública”, reafirmou Buss.
 
Após conceituar a saúde pública como o campo de conhecimentos e práticas cujos compromissos sociais e históricos são o de identificação das condições de saúde da população e de seus determinantes sociais, econômicos e ambientais, bem como a formulação e implementação de políticas para melhorar, promover, proteger e restaurar a saúde da população, o ex-diretor da Fiocruz destacou o conjunto de ações necessárias para alcançar a melhoria da saúde da população (assista no vídeo abaixo) e sentiu-se à vontade para falar da saúde pública global.



“Globalmente, é preciso falar que existe uma dimensão internacional da saúde extremamente importante. Questões internacionais de comércio, regulação, de poder têm interferência na saúde. Ela, inclusive, é um objeto de negociação entre nações, ou seja, entre os governos visando o interesse da população”. Ao comentar os determinantes políticos globais da saúde, que na sua opinião geram inequidades entre países e no interior dos mesmos, Buss citou um exemplo brasileiro: “As medidas de austeridade econômica do governo brasileiro têm gerado inúmeras iniquidades, provocando desemprego, sofrimento suicídio, adoecimento e morte. Infelizmente o governo brasileiro cedeu a pressões do Fundo Monetário e vivenciamos medidas de ajuste fiscal geradoras de desemprego em alto nível”.

"Chega de repetir currículo"
 
Ao se referir às Escolas de Saúde Pública, disse ser necessário que as instituições se aprofundem a respeito do contexto no qual estão inseridas. E que devem principalmente se atualizar em conhecimento: “Chega de repetir currículo, chega de repetir referência bibliográfica. Vamos investigar para gerar conhecimento da própria Escola, para compor um currículo próprio. Isso é fundamental. Esses contextos alimentadores vão gerar ensino, pesquisa, desenvolvimento, inovação, cooperação técnica e ação comunitária direta”.
 
O subdiretor de Pesquisa e Docência do Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia de Cuba (Inhem), Adolfo Álvarez, destacou o trabalho desenvolvido com alguns Centros Formadores em Saúde Pública a respeito do seu entendimento sobre a saúde internacional. O primeiro elemento, segundo ele, corresponde à falta de clareza sobre os termos saúde internacional e saúde global “Não estava muito claro nos desenhos curriculares se a saúde internacional e a saúde global eram termos antagônicos, complementares ou se diziam a mesma coisa”, afirmou o palestrante.
 
Dentro desses aspectos conceituais, segundo ele, há dois enfoques relacionados à saude internacional: o primeiro é a dimensão internacional da saude, ocasião em que as situações de saúde dos distintos países provocam consequências diversas, como o surto da síndrome respiratória aguda grave (SARS) no Canadá vindo da Ásia. O segundo ponto diz respeito à saúde como um tema internacional, que se relaciona com o campo da diplomacia em saúde.
 
Segundo a linha de pensamento do diretor do Cris/Fiocruz, o palestrante cubano revelou que a saúde global está cercada de fatores que envolvem a economia global, o comércio internacional, a imigração, o terrorismo, as doenças infecciosas e a contaminação de alimentos, por exemplo. “Os desafios regionais que se colocam são o aumento da pobreza, a desigualdade e a exclusão social, o crescimento do desemprego e da economia informal, a instabilidade econômica e social, além do incremento populacional, a urbanização e o envelhecimento da população”.

Escolas de Saúde pública devem gerar conhecimento próprio
 
Última a se apresentar, a vice-diretora geral da Escola Nacional de Saúde Pública de Cuba (ENSAP), Tania Aguilar, expôes as ações de intercâmbio acadêmico desenvolvidas pela ENSAP. Guiada pelos princípios de solidariedade, relevância, qualidade e planejamento, as iniciativas têm o objetivo de divulgar os resultados e conquistas da saúde pública cubana, contribuir para o desenvolvimento científico e técnico do sistema de saúde nacional e da instituição, além de promover a posição do país e da instituição nas organizações de ensino e pesquisa internacionais. “Também objetivamos melhorar a qualidade dos programas de pós-graduação e pesquisa desenvolvidos na ENSAP”.
 
A vice-diretora apresentou as parcerias desenvolvidas com o Brasil, México, Espanha, Colômbia e Estados Unidos e destacou o incentivo dado aos seus trabalhadores de participar em missões de solidariedade com os países pobres do Terceiro Mundo. Coordenadora da mesa, a pesquisadora Célia Almeida ressaltou a importância da saúde na política externa cubana e reivindicou a criação de uma Lei de Cooperação Internacional no Brasil que fomente e dê continuidade aos programas de colaboração.


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