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Brasil e Cuba apresentam desafios à formação em saúde pública

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Publicado em:14/12/2015
Brasil e Cuba apresentam desafios à formação em saúde públicaO I Colóquio Brasil Cuba de formação em Saúde Pública reuniu diversos pesquisadores, de ambos os países, para apresentar suas potencialidades no que se refere à formação em saúde, às ambições e aos principais desafios para alcançar uma saúde pública equitativa e universal. O diretor da ENSP, Hermano Castro, criticou a formação brasileira de médicos, que, segundo ele, ainda é muito voltada para o mercado. "É preciso aprender com a formação de Cuba, que traz a solidariedade entre os povos e a humanidade que tanto almejamos entre os nossos profissionais”, admitiu. Confira as apresentações, em vídeo, da solenidade de abertura e as mesas que discutiram os temas Os desafios à formação em saúde pública e A formação de profissionais e outros trabalhadores da saúde para ações de vigilância ambiental, epidemiológica e nutricional em Cuba.
 
O vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência (VPPLR) da Fiocruz, Rodrigo Stabeli, que representou o presidente da Fundação no encontro, Paulo Gadelha, comentou a felicidade em receber os amigos-irmãos cubanos. Para Stabeli, há muito o que se aprender e ensinar com o povo de Cuba. “A troca de experiências com eles é fundamental para fazermos uma saúde pública mais eficaz, pois eles são pioneiros na área da atenção básica e saúde da família. O diretor da ENSP, Hermano Castro, contextualizou a cooperação que a ENSP tem com os institutos de saúde cubanos e disse que a nossa Escola pretende fortalecer cada vez mais esses laços. “Além desse encontro – que espero ser o primeiro de muitos - também temos alunos residentes da saúde da família e da residência médica lá. Essas são algumas das nossas prioridades de trabalho com os cubanos”, disse ele. 
 
Castro ressaltou que o Brasil ainda precisa avançar muito no campo da formação médica. “Sou grato a esses profissionais, em especial aos 11 mil médicos cubanos que estão no Brasil integrando o programa de governo Mais Médicos. Agradeço ao que eles têm feito pelo nosso povo”, reconheceu ele. Outra questão-chave para a ENSP é a experiência cubana com relação ao currículo em saúde pública, especialmente para os médicos, mas também para os profissionais de enfermagem. O diretor afirmou que o Brasil ainda tem universidades que forma quadros para o mercado. “E importante mudar este cenário. De nada adianta formar milhares de médicos se eles não têm o viés comunitários e cidadão, se não se integram na vida do nosso povo. É preciso aprender com a formação de Cuba, que traz a solidariedade entre os povos e a humanidade que a gente tanta almeja entre os nossos profissionais”, admitiu ele. 
 
Hermano salientou ainda que a ENSP, além do compromisso com a saúde pública brasileira, tem um compromisso com a questão internacional. “A internacionalização da saúde e as políticas sanitárias internacionais podem nos ajudar a reduzir problemas futuros. Para enfrentarmos os determinantes sociais da saúde, precisamos nos integrar em uma política de união de esforços nas Américas, com todos aqueles que efetivamente querem combater os problemas da nossa população”, analisou o diretor da ENSP. 
 
O vice-diretor da Escola Nacional de Saúde Pública de Cuba (Ensap), Lázaro Diaz, comentou a grande expectativa em fortalecer ainda mais os laços com os pesquisadores brasileiros e estreitar a relação com a ENSP/Fiocruz. “A nós, interessa muito essa articulação para conhecer melhor a formação na área da gestão em saúde pública, entender como se dá a formação de formadores, entre outros. Para o vice-diretor do Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia de Cuba (Inhem), Adolfo Álvarez, poder compartilhar e aprender com os profissionais da ENSP é um prazer e um orgulho. “Este primeiro colóquio é um marco. Sem dúvidas, a Fiocruz, assim como a ENSP, é uma referência para nós pesquisadores cubanos. Estar aqui trocando experiências é muito gratificante. 
 
Assim como Hermano Castro, Alvaréz também espera muitos outros colóquios. “Que este seja o primeiro de muitos encontros, pois essa troca e interação com o Brasil é muito cara para nós. Nossa ideia é buscar propostas para a formação em saúde pública que sejam mais positiva para a população. Durante esses três dias teremos a oportunidade de realizar intercâmbios e materializar intenção já firmadas anteriormente. Sem dúvida, vamos trabalhar conjuntamente pelo desenvolvimento de uma saúde pública mais solidária, inclusiva e equitativa para as Américas. 
 
O representante da Secretaria Municipal de Saúde, Leonardo Graever, que é o coordenador geral de Atenção Primária da Área Programática 3.1, poder aprender com um país que tem um sistema de saúde baseado na atenção primária forte, consolidada e com profissionais resolutivos é muito satisfatório. “Temos que aproveitar os ensinamentos cotidianos dos médicos, trocar muitas experiências nesse colóquio e, acima de tudo, tentar fazermos saúde pública não apenas dentro da sala de aula, mas capilarmente, dentro das unidades de saúde. Talvez isso seja a mudança de paradigma que precisamos para sair da direção da epidemiologia triste que o país vive atualmente”, enfatizou Grever. 
 

 

 

 
Os desafios à formação em saúde pública
 
A mesa de abertura do I Colóquio teve como tema Os desafios à formação em saúde pública. Ela foi integrada pela vice-diretora de Ensino da ENSP, Tatiana Wargas, por Lázaro Diaz e Adolfo Álvarez e teve Hermano Castro como moderador. Lázaro iniciou as apresentações e deu um panorama geral da população de Cuba, da formação dos profissionais em saúde pública, falou sobre as instituições formadoras e seus programas e a atual situação e principais desafios do país. Ele falou ainda sobre as diferentes etapas de saúde pública pelas quais os país passou durante os últimos 50 anos, de acordo com contexto sociopolítico que vivia. 
 
“Ao longo de todos esses anos, buscamos a cobertura universal para o acesso de todas as pessoas, como uma forte expressão para o fortalecimento da dignidade humana e da igualdade”. Entre os desafios atuais apontados, Lázaro destacou a necessidade do aperfeiçoamento do modelo de formação; a necessidade de melhorias dos programas de formação em saúde pública de graduação e pós-graduação; melhorias no desenvolvimento do ensino específico; melhor adequação do emprego de tecnologias de informação e comunicação, entre outras. 
 
Já a vice-diretora da ENSP, Tatiana Wargas, focou a sua apresentação nas questões que hoje mobilizam as discussões na formação em saúde pública, pensando os desafios de forma mais abrangente e levando em consideração outros territórios. Segundo ela, entre os desafios atuais estão a busca por um debate conjunto; por formas de interação, de trabalho em rede e de fortalecimento dos profissionais; a busca por soluções multidimensionais; por novas bases para a formação sanitarista, e outros. “Como a ENSP tem trabalhado esses desafios? Com a formação de líderes e de criação de redes de especialistas; com o programam de educação a distância da ENSP – estratégia já utilizada pela Escola há mais de 10 anos e que representa grande sucesso na formação em saúde pública -; e com a articulação ensino-serviços de referência”, disse ela.
 
O vice-diretor do Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia de Cuba (Inhem), Adolfo Álvarez, apresentou as bases e desafios no contexto das transformações necessárias ao sistema nacional de saúde cubano. Álvarez comentou também a estrutura do Inhem, sua missão e relevância acadêmica, sua função como Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde, e destacou o trabalho desenvolvido em conjunto com outras instituições de ensino e pesquisa cubanos e de outros países, como o Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Colômbia, e muitos outros. Ele disse ainda que evidência em saúde a partir do enfoque dos determinantes sociais da saúde e da equidade tem trazidos novos desafios para o país. Além disso, as transformações necessárias exigem novas estratégias para melhorar a eficiência de serviços higiênico-epidemiológicos, em especial a Atenção Primária em Saúde”, destacou.
 
 
 

 
Cuba: a formação de profissionais e outros trabalhadores da saúde para ações de vigilância ambiental, epidemiológica e nutricional.
 
As discussões da parte da manhã foram encerradas com a apresentação cultural do grupo de samba Gomalina Clube. A primeira mesa-redonda do Colóquio aconteceu na tarde do primeiro dia e teve foco nas questões de vigilância ambiental, epidemiológicas e nutricionais de Cuba. Esse debate foi organizado pelo Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia e Microbiologia de Cuba (INHEM) e toda a mesa foi composta de pesquisadores do Instituto: Adolfo Álvarez, Ahindris Calzadila, Susana Suarez e Yarisa Dominguez. O pesquisador do Centro de Estudo em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP), Ary Mirante foi o moderador do debate. 
 
Abrindo a mesa, Ary Miranda comentou que o colóquio é um marco para essa cooperação com Cuba e o debate se faz muito mais importante, no sentido em que ele acontece em um contexto efetivo simbólico de grande relevância, pois estamos vivendo uma crise no capitalismo. Para Ary, esta talvez seja a crise civilizatória mais grave depois da II Guerra Mundial, uma vez que ela acomete a Europa e a América Latina, ameaça e nos coloca em um cenário incerto, pois o momento é complicado para todos as forças que têm lutado historicamente por um mundo melhor e mais solidário. 
 
Adolfo iniciou as apresentações da tarde e falou da formação dos especialistas em higiene e epidemiologia. Ele abordou questões como a função e principais atividades dos profissionais, estrutura do curso e destacou a importância da parte prática da formação de recursos humanos em saúde em Cuba. A segunda apresentação foi feita por Ahindris Calzadilla, que contou a história da formação do mestrado em nutrição em saúde pública, sua estrutura, fundamentação e necessidades de desenvolvimento. O mestrado tem formação multidisciplinar; uma abordagem holística dos problemas alimentares e nutricionais; a formação combina elementos teóricos, práticos e investigativos; e ainda visa desenvolver habilidades de pesquisa que proporcionem ferramentas para a elaboração de trabalhos e teses. 
 
Em seguida, Susana Suárez falou sobre a formação e investigação em saúde ambiental de Cuba, que é oferecida em níveis de especialização, mestrado e doutorado. Em sua formação os alunos identificam a situação ambiental, estudam o quadro de saúde da população e conhecem os objetivos e prioridades do sistema nacional de saúde. De acordo com Susana, o conhecimento do contexto social é extremamente relevante na formação. 
 
Encerrando as apresentações do dia, Yarisa Dominguez falou sobre o sistema de vigilância alimentaria e nutricional cubano. Ela lembrou que ele teve início no ano de 1977, a partir do resultado de um projeto desenvolvido em conjunto com a Unicef no país. Seu principal foco é a atenção e acompanhamento do estado alimentar e nutricional da população para a tomada de decisões na busca incessante pela melhoria da qualidade de vida e do estado nutricional da população. Para tanto, eles fazem uso de uma abordagem trans e multidisciplinar. 

 


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