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Roda de Conversa discute direitos humanos e saúde do trabalhador

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Publicado em:21/12/2015

Roda de Conversa discute direitos humanos e saúde do trabalhadorAo longo do ano de 2015, o Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ambiente (Cesteh/ENSP) realizou uma série de Rodas de Conversa para celebrar seus trinta anos. Mais do que festejar um aniversário, os eventos foram oportunidade para uma profunda reflexão sobre saúde do trabalhador e a ação humana no ambiente. Em um ano marcado por secas, desastres ambientais históricos, ameaças de epidemias, retrocessos em leis trabalhistas e direitos ameaçados, a atmosfera das reuniões foi de inquietude, transparecendo a necessidade de se rever e ampliar a luta por uma vida melhor (para todos). O último dos encontros contou com as presenças de Maria Helena Barros e Luís Carlos Fadel, do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural (Dihs/ENSP). A atividade foi coordenada por Cristina Strausz e contou com a fala de diversos pesquisadores da unidade.

Logo de saída, Maria Helena Barros lembrou porque se sentia tão a vontade, na roda de conversa.

- As pessoas agora estão com essa mania de dizer "Je suis isso", "Je suis aquilo". Então, digo: "Je suis Cesteh". Sim, porque foi aqui dentro, há vinte anos, que nós começamos a sistematizar as questões relativas a direitos e saúde e nos demos conta de que existia um campo em construção. O Dihs é fruto desse movimento, disse a pesquisadora, aludindo ao surgimento do departamento que chefia atualmente. 

Em seguida, Maria Helena destacou a grande afinidade acadêmica entre Cesteh e Dihs.

- São cinco linhas de pesquisa, que tem uma afinidade concreta. Uma delas é a linha de Saúde, trabalho e direito. A saúde é um direito humano e isso traz uma série de implicações. Uma delas diz respeito à dignidade humana.
 

Roda de Conversa discute direitos humanos e saúde do trabalhador


Ao iniciar sua fala, Luís Carlos Fadel também se lembrou do começo do Cesteh.

- Eu destaco, desse início, o papel fundamental que o centro teve na construção da Primeira Conferência Nacional de Saúde. Devemos lembrar que essa conferência se dá no mesmo ano da 8ª Conferência Nacional de Saúde, disse o pesquisador.

Maria Helena, por sua vez, destacou a importância de rememorar os acontecimentos dessa época, que ampliaram, por meio de políticas, públicas o acesso da população brasileira à saúde.

- Muitas das gerações atuais não compreendem o que foi a Reforma Sanitária, mas, na época, quem não tinha carteira assinada não era nada. Era indigente. Não tinha acesso ao Inamps. Tinha que ir para as casas de misericórdia.

Como não só de boas lembranças se faz uma festa, Fadel trouxe pontos críticos para a discussão.

- Eu acho que o Cesteh tinha que reivindicar seu protagonismo como instância de produção de conhecimento da Fiocruz, que pertence ao Ministério da Saúde, que é por sua vez é a cabeça nacional do SUS. O Centro deveria ser, portanto, o centro das políticas de saúde do trabalhador no país. Eu acredito que esse potencial do centro ainda não foi explorado.

Ao abrir a roda de conversa para o debate, Kátia Reis, recém-eleita chefe do Cesteh, fez uma análise da atual conjuntura da área de atuação do centro.

- O meu prognóstico é pessimista, devido a um enfraquecimento da área conceitual do campo de saúde do trabalhador e ambiente, desde a 4ª Conferência, no ano passado.

Para Chico Pedra, o motivo seria o fato de que os fundamentos estariam abalados.

- Não vamos oferecer mudanças se não fizermos uma revisão de nossos conceitos. O que se tem hoje é uma saúde ocupacional e não a saúde do trabalhador.

William Waismann fez questão de ressaltar que uma das características das pesquisas em saúde do trabalhador e ambiente é fazerem parte de um campo de prática.

-  As bases marxistas, intelectuais, estão dadas. O problema é: como a gente faz acontecer? Como é que fazemos para atuar pragmaticamente, fazer a interlocução com os sindicatos? Nós não somos imparciais. Nós jogamos do lado dos trabalhadores. O Cesteh foi construído para ser parcial. Mas agora, aos 30 anos, acredito deveríamos ter feito mais, disse Waissmann.

Concordando com o pesquisador, Maria Helena Barros ressaltou que a articulação entre o campo da saúde do trabalhador e os movimentos sociais nunca foi efetivada.

- A verdade é que a gente nunca conseguiu trabalhar com os sindicatos. O Cesteh nunca radicalizou de fato para fazer isso.

Para finalizar, como um pós-escrito para que a roda de conversa não terminasse em tom pessimista, a pesquisadora e chefe do Dihs citou a importância de discussões como aquela e a esperança de que a luta pelo direito à saúde e à dignidade humana seja renovada.

- Nenhuma luta deve ser abandonada. A luta nos dignifica.

 



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