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História quem faz é gente: Claves debate violência no aniversário da ENSP

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Publicado em:04/09/2015
História quem faz é gente: Claves debate violência no aniversário da ENSP“Somos poucos mas somos ótimos”. Foi assim, bem humorada, que a professora Cecília Minayo saudou as cerca de trinta pessoas que estiveram no Salão Internacional da ENSP para participar de uma discussão sobre violência e saúde, na quarta-feira, dia 2 de setembro. A atividade, uma sessão especial de greve do Centro de Estudos Miguel Murat de Vasconcellos, tinha uma tripla função: celebrar o aniversário de 61 anos da Escola, os 25 anos do Claves e promover um debate sobre um dos temas mais urgentes da vida em sociedade no Brasil. Participaram da conversa Sílvia Ramos, da Universidade Cândido Mendes e Marta maria da Silva, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. . 
 
O quorum relativamente baixo permitiu um debate franco de ideias sem que as palestrantes ou a plateia tivessem  que se preocupar  com o tempo de suas explanações. Primeira a falar, Sílvia Ramos, que trabalha no Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, concentrou sua apresentação nos números de homicídios no Brasil. Segundo a pesquisadora, eles seriam uma espécie de ponta do iceberg da realidade social que vivemos. Além disso, são considerados números confiáveis quando fornecidos pela saúde. 
 
- Um roubo, muitas vezes, não é notificado. O mesmo não acontece com o homicídio. Quando se tem um sistema de saúde minimamente organizado são números difíceis de serem fraudados. 
 
Infelizmente, a verdade que os números ventilam com precisão não colocam o Brasil bem no panorama mundial. Há quinze anos, estamos entre os dez países que mais matam no mundo. Quando se trata da morte de jovens,  por exemplo, ocupamos o terceiro lugar. Se falarmos em números absolutos, nossas 56 mil mortes anuais nos colocam como campeões mundiais.  Apesar dos números gritarem, é uma realidade que muitas vezes não está completamente desvelada.
 
- Chegamos a concordar e até naturalizamos quando os mortos são os meninos negros das periferias, porque a gente lê, automaticamente, como traficante. Temos uma espécie de dissonância cognitiva. É preciso lembrar que a violência é um problema de todos. É um problema do presidente do Banco Central e do ministro Joaquim Levy.
 
O fato de ter citado o homem forte das finanças não significa, entretanto, que Sílvia enxergue uma solução meramente econômica para o problema. 
 
-  Se olharmos para esses números do homicídio veremos que Brasil e Venezuela são cases para se pensar que  redução da miséria e das desigualdades sociais não são sinônimos de redução da violência. Esses países passaram por esse processo nas últimas décadas e a violência aumentou. 
 
Para encerrar, Sílvia falou brevemente sobre a violência que atinge mulheres, negros e homossexuais. Para ela, houve avanços enormes nessas áreas,  mas parte desse progresso é do ponto de vista formal, legal, e não prático. 
 
- Outro dia, estava na feira e ouvi uma menina, que havia recebido um tapa de um garoto, citar a Lei Maria da Penha. Temos muito a discutir melhorar, mas é inegável a importância desse avanço simbólico. 
 
Conhecer para intervir
 
Dar conta das ações que contribuíram para esses avanços foi o que fez Marta Maria Alves da Sílva durante sua explanação.   Coordenadora geral de Vigilância de Agravos e Doenças Não-Transmissíveis da Secretária de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Marta começou fazendo um histórico da criação de leis que ajudam no combate às violências. Uma delas é a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, na década de 90. Mais recentemente, tivemos as leis que ajudam a proteger as mulheres da violência doméstica e o estatuto do idoso.   Marta Maria destacou, ainda, o papel do Claves como como núcleo acadêmico de prevenção de violências e promoção da saúde.
 
- Foi por meio do Claves que descobrimos, por exemplo, o suicídio infantil. Antes, havia até mesmo um filtro na hora de notificar que observava que a “lesão autoprovocada” não se aplicava às crianças. Hoje, depois do estudo do Claves, nós retiramos esse filtro. 
 
Para exemplificar a importância do setor saúde no combate a violência Marta deu ainda o exemplo do trabalho do VIVA, o Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes.
 
- O profissional de saúde tem a possibilidade de cortar o ciclo da violência. Mais de 60% dela é praticada em casa. 
 
Quem faz a história
 
Num breve comentário para fechar o debate, a professora Cecília Minayo lembrou do demógrafo francês Jean Claude Chesnais, que costuma citar com frequência. 
 
- O Chesnais define o contrário da violência não como a passividade ou a não-violência, mas como a inclusão na cidadania. 
 
A despeito da dureza do assunto tratado, ao fim do evento, confirmou-se o que Minayo dissera no início, ao classificar como ótimos os poucos que ali estavam. Quem participou da discussão deixou o Salão Internacional da ENSP carregado da esperança que só o debate de alto nível é capaz de suscitar. Um otimismo que, em grande parte, emana da experiência da própria professora Cecília Minayo.
 
- Apesar de tudo, eu vejo um aumento da consciência social. Temos que lembrar que a história, quem faz, é gente. Não é um diabinho nem um anjinho que vão chegar e dizer que não se tenha mais violência. 
 

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