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ENSP perde o pesquisador Adauto Araújo

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Publicado em:07/08/2015
ENSP perde o pesquisador Adauto AraújoA Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca lamenta o falecimento do pesquisador Adauto José Gonçalves de Araújo, na quinta-feira, 6/8. Adauto, que escreveu sua trajetória na pesquisa e ensino sobre a origem e evolução das infecções parasitárias, denominada paleoparasitologia, deixa esposa, três filhos e dois netos. Na ENSP, ele foi pesquisador titular e ocupou diferentes cargos, entre os quais a direção da Escola, de 1994 a 1997, e a coordenação do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, de 2003 a 2005. Adauto ainda foi coordenador geral de Pós-Graduação da Fundação Oswaldo Cruz, de 2005 a 2006. Além disso, Adauto atuou em várias disciplinas e orientações acadêmicas na Fiocruz e em instituições parceiras, e foi professor visitante em Reims, na França, nos anos 2000 e 2001. O diretor da ENSP, Hermano Castro, lamenta a morte deste grande cientista. 
 
Adauto nasceu no Rio de Janeiro em 29 de janeiro de 1951 e faleceu aos 64 anos, depois de uma longa luta contra um câncer. Seu corpo será cremado neste sábado (8/8), e o velório será no cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Rio de Janeiro, capela D, das 8h às 13h (Rua Monsenhor Manuel Gomes, 155).
 
Ele graduou-se na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de janeiro em 1975. Em 1980, concluiu o mestrado em Biologia Parasitária pela Fiocruz, no qual defendeu a dissertação Contribuição ao estudo de helmintos em material arqueológico no Brasil, cuja orientação foi do pesquisador emérito da Fundação e seu grande amigo e companheiro, Luiz Fernando Ferreira. Com essa dissertação, ganhou o prêmio Samuel Barnsley Pessoa, na categoria: Melhor Trabalho Cientifico do VI Congresso Brasileiro de Parasitologia em 1981. Em 1987, concluiu o doutorado em Saúde Pública, também pela Fiocruz e fez pós-doutorado em Paleoparasitologia, na Universidade de Nebraska, Lincoln, EUA, de 2002 a 2009. 
 
Adauto iniciou sua carreira acadêmica como professor auxiliar e depois professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 1974 a 1997, lecionando em várias disciplinas para graduação, além de chefiar o Departamento de Parasitologia, no Instituto de Ciências Biomédicas da mesma universidade.
 
Na Fiocruz, trabalhou na ENSP como pesquisador titular a partir de 1984, tendo ocupado vários cargos. Entre os quais de diretor da Escola, de 1994 a 2007, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, de 2003 a 2005, e coordenador geral de Pós-Graduação da Fiocruz, em 2005 e 2006. Ele também foi professor visitante em Reims, França, em 2000 e 2001. Além disso, atuou em várias disciplinas e orientações acadêmicas na Fiocruz e em instituições parceiras, e ministrou diversas palestras e cursos dentro e fora do país, destacando-se a Argentina, Chile, Portugal e Estados Unidos.
 
Adauto também orientou 21 dissertações, 18 teses, além de 5 pós-doutorandos e numerosos alunos de graduação. Mantendo produtividade alta, já publicou 169 artigos, 18 capítulos de livros e 15 textos completos em anais de eventos, além de dezenas de resumos em congressos e organizou 3 livros - um deles, Fundamentos da Paleoparasitologia, organizado junto com os pesquisadores Luiz Fernando Ferreira e Karl Jan Reinhard, que conquistou o primeiro lugar na categoria Ciências Naturais do Prêmio Jabuti 2012. Iniciativa inédita no mundo, o livro, publicado em 2011 pela Editora Fiocruz, compila o conhecimento disponível sobre o assunto e apresenta o estado da arte em paleoparasitologia, ciência voltada para o estudo dos parasitos do passado. 
Entre outros cargos e atividade que exerceu em sua vida acadêmica estão a coordenação da Área de Saúde da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, desde 2009; presidência da Associação Latino-Americana de Escolas de Saúde Pública (Opas), entre 1994 e 1997; foi secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entre 1998 e 2002; e membro Titular da Academia de Medicina do Rio de Janeiro. 
 
Depoimentos de profissionais e amigos:
 
Hermano Castro – Diretor da ENSP
 
“A Escola perdeu um dos nossos maiores cientistas e pioneiro da paleoparasitologia no mundo. No entanto, acima do brilhante profissional, perdemos um grande humanista. Amigo de todas as horas e mestre de muitos, Adauto deixa saudades para todos que com ele conviveram. Na década de 1990, foi diretor da ENSP. Em sua trajetória, implantou o mestrado interinstitucional, o Programa de Educação a Distância da Escola, e o Programa de Pesquisa Estratégica. Contudo, o principal legado deixado para nós foi a sua inquietude aliada à sabedoria e humildade na busca por um mundo melhor”.
 
Paulo Gadelha – Presidente da Fiocruz
 
“Trata-se de uma perda pessoal irreparável para mim e para Angela. Adauto foi um ser humano especial, de rara sensibilidade. Uma pessoa muito afetiva, generosa, tranquila, verdadeira, agregadora, de fala serena e despida de vaidades. Construiu uma carreira brilhante e sólida e deixa uma marca indelével, um legado inestimável, que ficará para sempre na memória da Fiocruz. Ajudou a construir um campo de conhecimento reconhecido internacionalmente, a paleoparasitologia, ao lado de seu maior parceiro: Luiz Fernando Ferreira. Conquistou uma legião de seguidores e admiradores mundo afora e no Brasil, com destaque para seu incansável trabalho de formação na ENSP. Me lembro de Adauto em várias ocasiões: na caatinga da Serra da Capivara, no Piauí; na sala de Luiz Fernando, discutindo a história das doenças; e como grande articulador e construtor do projeto institucional, ao lado de Sergio Arouca e de vários outros nomes, em especial como diretor da Ensp. Seu trabalho ajudou a alçar a Fiocruz a um patamar diferenciado entre as instituições de pesquisa de nível internacional, voltada para a construção de um projeto de Estado."
 
Antônio Ivo de Carvalho – Coordenador do Centro de Estudos Estratégicos (CEE/Fiocruz)), ex-diretor da ENSP e pesquisador da Escola 
 
”Pesquisador brilhante, gestor corajoso e inovador, professor inesquecível, companheiro de todas as horas, Adauto é presença eterna na Comunidade Científica Brasileira e na memória saudosa de todos nós, professores, alunos e servidores da ENSP e da Fiocruz.”
 
Paulo Buss – Diretor do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris), ex-presidente da Fiocruz, ex-diretor da ENSP e pesquisador da Escola
 
“Eu perco um queridíssimo e admirável amigo. Ninguém poderia ser mais carinhos, cativante e cuidadoso do que ele. Do ponto de vista institucional, Adauto foi uma liderança, um grande gestor. A maneira dedicada com a qual ele sempre lidou com as questões coletivas era extraordinário, principalmente em momento difíceis, pois sempre foi um homem de consensos, pacificador. Enquanto diretor, implantou a ENSPTec, que mudou a face da Escola e sua forma de gestão, uma vez que criou alternativas de captação de recursos, antes impossíveis frente à rigidez da gestão pública. Adauto se foi discretamente, como sempre viveu...”
 
Jorge Bermudez –  Vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, ex-diretor da ENSP e pesquisador da Escola
 
"A partida precoce do Adauto representa uma enorme e irreparável perda para mim, para todos e para nossa instituição. Para mim ele sempre foi um irmão, amigo, colega e trabalhamos juntos em mais de uma oportunidade. Eu fui Coordenador de Pesquisa com ele na direção da ENSP e ele foi Coordenador de Pós-Graduação comigo na direção da ENSP. Sempre nos chamávamos de irmãos. Em todos os lugares que ele frequentou, ele marcou, era uma pessoa para além de respeitada, queridíssima, na ENSP é claro, na Fiocruz, na Faperj, na Academia de Medicina do Rio de Janeiro e em tantos outros lugares. Muito poderia ser falado; as memórias são mecanismos para recordar. Deixa um vazio difícil de ser preenchido, vamos sentir muito sua falta. Entretanto, esses são os ciclos da vida, uns indo e outros chegando."
 
Sheila Maria Ferraz Mendonça – Vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP e pesquisadora da Escola
 
“Adauto Araújo mudou e continua mudando o cenário da paleopatologia no Brasil, através de suas constantes e sólidas contribuições à paleoparasitologia. Além de uma produção contínua, numerosa e de grande impacto na área, ajudou a redefinir os estudos parasitológicos em materiais arqueológicos em diferentes partes do mundo, estabelecendo uma rede de colaborações internacionais e que potencializaram o desenvolvimento destes estudos a partir dos anos 1980, de tal forma que hoje seu nome está inscrito entre as grandes contribuições científicas e entre pioneiros da ciência que estudam a saúde no passado. 
 
Poucas palavras podem ser ditas, a não ser o sentimento pela perda que todos sentimos. Adauto me recebeu na ENSP há mais de duas décadas após alguns anos de contato profissional, aceitando orientar minha tese no doutorado em Saúde Pública. Ele me deu oportunidade de avançar em minha trajetória acadêmica e depois, apoiando minha transferência para a Fiocruz, permitiu progresso de muitas pesquisas e a realização de muitos trabalhos em que compartilhamos o entusiasmo pelo que fazemos. Sua calma e equilíbrio sempre foram um exemplo, e sua amizade, tanto para mim como para Paulo Sabroza será sempre motivo de boas lembranças. Fica a saudade e a imensa responsabilidade pelo seu legado, que não é pequeno, a ser compartilhada com todos os que estão hoje na ENSP. Como pesquisador, um dos mais produtivos da nossa Escola, deixa um grande número de trabalhos publicados, e discípulos. Seus amigos e parceiros de trabalho dentro e fora do país distribuem-se em diferentes áreas. Da América até a Ásia será lembrado pelos que foram seus coautores e com ele trabalharam em pesquisa. Na próxima semana, em Buenos Aires - no congresso que criamos para a América do Sul no ano de 2005 e que está em sua VI edição -, Adauto será lembrado por muitos que o conheceram e admiraram.”

A missa de sétimo dia em memória do pesquisador Adauto Araújo será realizada nesta quarta-feira (12), às 18h, na igreja do Colégio Santo Inácio – rua São Clemente, 226, Botafogo, Rio de Janeiro.
 

 


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3 comentários
GINA TORRES REGO MONTEIRO
09/08/2015 01:25
Adauto, colega querido, com seu jeito manso, acolhedor, vai fazer muita falta... A ENSP se empobrece...
CELINA SANTOS BOGA MARQUES PORTO
07/08/2015 19:56
Lamento como profissional de saúde e, principalmente como admiradora. Certa vez, convidou a mim e outra colega do Centro de Saúde Escola a conhecer e colaborar com o projeto da Serra da capivara em São Raimundo Nonato, sul do Piauí. Precisava de um diagnóstico de saúde das crianças atendidas pelos 03 núcleos de saúde- educação que lá existiam. Fomos, trabalhamos e conhecemos um mundo maravilhosamente contraditório. Experiência que jamais esquecerei. Voltou a dizer que precisávamos voltar lá. Concordei e ficamos de conversar sobre o retorno. Agradeço que ele tenha me oferecido essa oportunidade. Pena que não mais o encontrarei pelos corredores, com seu jeito manso, calmo, gentil e cordial. Terei muitas saudades. Celina Boga
ANA CRISTINA DA MATTA FURNIEL
07/08/2015 19:31
Ele com sua mansidão era uma das pessoas mais generosas que conheci. Entrei na ENSP quando era diretor, foi meu primeiro orientador como pesquisadora visitante da Faperj. Um amigo divertido e um pesquisador apaixonado. Um ótimo companheiro na mesa do bar, sempre com ótimas histórias. Sua presença nos corredores da escola era boa de viver, de encontrar. Não sei como será... mas acredito que sentirei ele por perto naqueles corredores sempre. Um mestre para todos nós. Uma felicidade ter tido o privilégio de ter vivido tantos anos em sua cia e ainda assim tão pouco. Vá em paz amigo querido. Fica a saudade e as lembranças.