Busca do site
menu

Artigo relata falta de qualidade na assistência à saúde

ícone facebook
Publicado em:19/05/2015
Artigo relata falta de qualidade na assistência à saúdeMembro titular da Comissão de Saúde da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e gestor convidado da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), Paulo Pinheiro publicou artigo no jornal O Globo, desta terça-feira (19/5), sobre a falta de qualidade no atendimento público e privado na saúde. Na opinião do especialista, o serviço privado de saúde, que fora estimulado pelo Estado brasileiro ao longo de três décadas, não melhorou a saúde do brasileiro: “o cidadão está mais satisfeito? Mais tranquilo? Não é preciso ser nenhum especialista para afirmar que ninguém está feliz. As pesquisas de opinião revelam que o problema número um do brasileiro ainda é a saúde. A marcação de consultas e exames nos serviços privados pode levar muitos meses. As filas das emergências dos hospitais privados já não diferem tanto das dos hospitais públicos”, disse o pesquisador. Confira o artigo na íntegra.

Mercado sem cura
 
Marcação de consultas nos serviços privados po delevar meses
 
Há cerca de 30 anos, o brasileiro descobria um novo produto da modernidade: os planos de saúde. Brasileiros com alguma folga no bolso, encantados com a promessa de um futuro mais tranquilo, compraram a ideia. Ao serviço público associavam-se imagens de filas intermináveis, burocracia extrema e atendimento desrespeitoso. Ao privado, justamente o oposto.
 
De lá para cá, parcela expressiva da renda nacional foi dirigida para esses planos maravilhosos e suas máquinas de fazer saúde. O Estado brasileiro, por sua vez, estimula o modelo com doses crescentes de renúncia fiscal. E tomou para si, em tese, o encargo de socorrer apenas aqueles que não têm meios de pactuar com o mercado: a população de baixa renda — algo que, no entanto, evoluiu muito mal, sobretudo em razão do subfinanciamento profundo dos serviços públicos de saúde.
 
Em 2005, na cidade do Rio, assistimos a cenas explícitas da crise no lado público da saúde, com a decretação de uma intervenção federal. Os desdobramentos dessa crise seguiram o mesmo caminho da transferência de responsabilidades. À semelhança do que fizeram alguns cidadãos, o Estado contrataria o seu próprio plano de saúde, com o objetivo de modernizar a gestão. E tais planos se sucederam com diversas roupagens: cooperativas, fundações, organizações sociais e, mais recentemente, empresas públicas, que se encarregariam de gerir UPAs, clínicas da família e novos hospitais.
 
Mas tal como um paciente que comparece à primeira consulta e só volta ao consultório muito tempo depois, examinemos a situação atual: o cidadão está mais satisfeito? Mais tranquilo? Não é preciso ser nenhum especialista para afirmar que ninguém está feliz. As pesquisas de opinião revelam que o problema número um do brasileiro ainda é a saúde. A marcação de consultas e exames nos serviços privados pode levar muitos meses. As filas das emergências dos hospitais privados já não diferem tanto das dos hospitais públicos. Ah! Mas se o usuário recorrer à agência reguladora ou à Justiça, poderá abreviar o sofrimento. E, lógico, o pacote oferecido lá atrás para o agora paciente não contempla determinados procedimentos mais complexos. Nestas ocasiões, fatalmente terá que recorrer ao combalido serviço público ou, quem sabe, fazer um upgrade no seu “combo”, com direito a exames mais precisos e rede adicional de hospitais para internação, mais ou menos como fazem os serviços de TV a cabo.
 
Portanto, a tranquilidade sonhada por alguns há 30 anos virou pesadelo, sobretudo para os que ultrapassaram 60 anos. Os planos que, ontem, cabiam no bolso, hoje levam famílias ao desespero. E as modernas soluções de mercado aplicadas na gestão da saúde pública custam mais e oferecem menos. Portanto, a tese de que deveríamos adotá-las não se sustenta. Mas o que se observa hoje no Brasil é que pagamos muito e recebemos pouco. A tal mão invisível do mercado não nos socorre quando mais precisamos.
 
Paulo Pinheiro é médico e vereador no Rio pelo PSOL
 

Seções Relacionadas:
Artigos ENSP na Imprensa

Nenhum comentário para: Artigo relata falta de qualidade na assistência à saúde