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Prevenir sem perder o gingado

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Publicado em:12/02/2015
Prevenir sem perder o gingadoCorria o Carnaval de 1988. Entre sambas-enredo, hits da axé-music e outros batuques, uma marchinha se destacava. Entoada pela inconfundível voz do Velho Guerreiro Chacrinha, “Bota a Camisinha”, de João Roberto Kelly e Leleco, se tornou um sucesso. O tema não poderia estar mais em voga. Naquele tempo, a Aids, presente no Brasil desde o início da década de 80, ganhava notoriedade, assustava. Por pressão da sociedade civil, no ano seguinte o preço do AZT, remédio usado no tratamento da doença, caiu em 20%. Foi também em 1989 que Cazuza se tornou a primeira celebridade a assumir publicamente a contaminação pelo HIV. O cantor morreria um ano depois. Quase trinta se passaram, a despeito de inúmeros avanços em tratamentos e pesquisas, a associação entre Carnaval, Aids e camisinha se faz mais necessária do que nunca. Números da pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP) de 2013 mostram que 45% das pessoas não usaram preservativo nas suas relações sexuais. Com foco nos jovens, o Ministério da Saúde lançou a campanha de prevenção à Aids para o carnaval com diversas estratégias e ações.

Uma das propostas usa os aplicativos de relacionamento Tinder e Hornet para falar do uso do preservativo. Nessas plataformas, que permitem ao usuário encontrar parceiros a partir da distância geográfica, foram criados perfis falsos de pessoas que propõe sexo sem camisinha. Ao entrar em contato com elas o usuário então recebe informações sobre a importância da prevenção à Aids e demais DSTs. Outra ação que vem sendo desenvolvida pelo ministério da saúde são os testes orais para a detecção do HIV. Além de estarem disponíveis em toda a rede pública, como não precisam ser aplicados em laboratório, o teste tem sido realizado por ONGs em bares, parques e outros locais de concentração da população LGBT.

Prevenir sem perder o gingadoCelina Borga, médica do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP), acredita que entre as estratégias da campanha do Ministério da Saúde para o Carnaval 2015, a primeira de todas deve ser a prevenção. “Nos serviços de saúde temos assistido o ingresso de cada vez mais jovens infectados pelo HIV. Por serem jovens, desconhecem a história do desenvolvimento da Aids no Brasil e o quanto ela afetou homens, mulheres e crianças. A campanha de prevenção para o carnaval 2015 combina três estratégias: uso da camisinha, testagem e tratamento. Camisinha como recurso de proteção pessoal e do parceiro/da parceira; testagem como possibilidade de conhecimento mais precoce da situação sorológica; tratamento antecipado evitando o comprometimento da imunidade. A primeira estratégia é de prevenção. Então, use e abuse”.
 
Informar e prevenir sambando
 
As ações para informar a população e incentivar o uso de preservativos combinam muito bem com o espírito do Carnaval.  Nascido há vinte anos no Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, da Fiocruz, na Bahia, o Bloco da Camisinha é referência nas campanhas de prevenção à Aids. Hoje organizado pela Secretaria de Saúde do Estado e desfilando em parceria com o bloco Os Mascarados, o Bloco da Camisinha  saiu nesta quinta-feira, dia 12, distribuindo panfletos informativos e camisinhas no circuito Dodô (Barra-Ondina). Além dessa ação de prevenção, a secretaria de Saúde da Bahia instalou dois pontos de testes de HIV rápidos, um em Salvador e outro em Porto Seguro.  
 
Aqui no Rio de Janeiro, os Discípulos de Oswaldo também estão com um pé no Samba e outro no trabalho de prevenção à Aids. O bloco, que desfila na Comunidade do Amorim, ao lado da Fiocruz, surgiu em 2002 para incentivar a integração dos funcionários da Fundação com os moradores de seu entorno. “Desde o primeiro desfile a gente ajuda na campanha de prevenção à Aids distribuindo camisinhas. É muita camisinha mesmo. Cerca de duas mil por desfile”, conta João carlos BR de Freitas, o Profeta. O Diretor Sócio Cultural da Asfoc se diverte ao lembrar do sucesso da campanha: “Às vezes, a gente fica um pouco tímido na hora de entregar para as mulheres, mas elas não. Vêm até a gente e pedem. Todo mundo pega. Só não distribuo para molecada muito novinha, que usa pra fazer balão”.  

Prevenir sem perder o gingado
 
Enquanto a garotada do Amorim espera a vez deles chegar, já é carnaval no Brasil. Quem já sabe que a camisinha serve para, digamos, outras brincadeiras, deve se lembrar do conselho do Velho Guerreiro: bota a camisinha, bota, meu amor!

*Crédito fotos: André Telles

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