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Presença de enfermeiras estimula boas práticas na assistência ao parto

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Publicado em:16/10/2014
 
Presença de enfermeiras estimula boas práticas na assistência ao parto"Em maternidades onde os partos são assistidos por enfermeiros ou obstetrizes, a taxa de cesariana é 78% menor quando comparada aos hospitais onde não há presença deste profissional no momento do parto". Estes dados, que foram apresentados pela pesquisadora da ENSP Silvana Granado na Conferência Internacional Ecos da 9th International Research Conference - Normal é natural: da pesquisa à ação, pertencem à pesquisa da Fiocruz Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento. O estudo aponta ainda que, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhecer que os enfermeiros obstétricos e obstetrizes desempenham mais adequadamente e com menor custo a assistência aos partos normais, apenas 16% deles são assistidos por esses profissionais, sendo em sua maioria realizados pelo SUS.

Na ocasião, a pesquisadora afirmou que desde 1986 é assegurado aos enfermeiros e obstetrizes a incumbência de assistir à parturiente e ao parto normal, identificar distócias (dificuldades encontradas na evolução de um trabalho de parto) e tomar providências até a chegada do médico. Além disso, desde 1998, o Ministério da Saúde incluiu na tabela do SUS o pagamento de parto normal, realizado por enfermeiro obstetra, com maior satisfação das mulheres e sem prejuízos nos desfechos maternos e pré-natais.

Silvana apresentou ainda comparações realizadas na Pesquisa Nascer no Brasil sobre as boas e más práticas na assistência ao parto realizado com a presença de médicos e enfermeiros ou obstetrizes. De acordo com ela, o modelo de atenção ao parto normal é extremamente medicalizado e ignora as melhores evidências científicas disponíveis. "No trabalho de parto isso pode ser visto pela restrição alimentar e pelo uso de ocitocina, hormônio utilizado para induzir ao parto.", exemplificou.

Já no momento do parto, as más práticas podem ser caracterizadas pela manobra de kristeller (aplicação de pressão na parte superior do útero com o objetivo de facilitar a saída do bebê), pelo condicionamento da mulher à posição horizontal e também pelo uso de ocitocina. “Esses procedimentos, quando utilizados sem indicação clínica, causam dor e sofrimento desnecessários e não são recomendados pela Organização Mundial da Saúde como procedimentos de rotina.”, explicou.

Quando os partos são assistidos por enfermeiras, de acordo com a pesquisa, a dieta livre acontece duas vezes mais em comparação aos médicos, as chances da mulher não ficar presa ao leito e o uso de métodos não farmacológicos (bola, chuveiro, massagem etc.) no parto são duas vezes maiores, a manobra de kristeller é 65% menos utilizada, a episiotomia (corte feito na vagina para ampliar o canal de parto) é 54% menor e a amamentação na primeira hora de vida do bebê é quase 40% maior.

Intervenções ainda prevalecem nos partos normais

Ainda que a OMS e o Ministério da Saúde descrevam que a atenção humanizada e de qualidade necessita de condutas comprovadamente benéficas e não de realização de intervenções desnecessárias, conforme comentou Silvana Granado, em nosso país não é o que se tem observado, tanto na mãe quanto no bebê. De acordo com ela, o excesso de cesarianas sem indicação, além de intervenções desnecessárias no parto normal, têm transformado o nascimento no Brasil muito pouco natural, tirando da mulher seu protagonismo e gerando o medo de parir.

Presença de enfermeiras estimula boas práticas na assistência ao parto

Ainda segundo dados da pesquisa Nascer no Brasil, em 71% das mulheres que realizam parto normal é usado cateter venoso, em 47% dos partos assistidos por enfermeiras ou médicos foi usada a ocitocina, mais da metade das mulheres sofreram amniotomia (rompimento artificial da bolsa) e em mais de 90% dos partos as mulheres estavam na posição de litotomia (deitadas), quando a posição recomendável é a verticalizada. Uma má prática que está diminuindo mas ainda é realizada, de acordo com a pesquisadora, é a manobra de kristeller, utilizada em 38% dos partos realizados por médicos e em 27% nos partos feitos por enfermeiras.

Para Silvana, não somente a mulher sofre agressões desnecessárias como também o bebê. Entre as más práticas no feto destacam-se a aspiração de vias aéreas superiores em 69% dos partos por médicos e 72% no caso dos enfermeiros, a aspiração gástrica, vista em 39% dos casos tanto por médicos quanto enfermeiros, e o uso de incubadora em 10% dos partos por médicos e 6% por enfermeiros.

As boas práticas, tal qual com a mãe, também devem ser aplicadas nos recém-nascidos, segundo a pesquisadora. Nesse aspecto, a pesquisa indica que menos da metade das crianças são colocadas no colo da mãe depois do nascimento e apenas em 18% dos partos assistidos por enfermeiros presencia-se o aleitamento na sala de parto. A ida do bebê com a mãe ao alojamento conjunto foi apresentada em 72% dos partos por médicos e 80% pelos enfermeiros e em 52% dos casos por médicos e 64% por enfermeiros, o bebê mamou na primeira hora de vida.

Apesar das dificuldades na assistência ao parto observadas, de acordo com a pesquisadora, temos também significativos avanços nessa área. "Podemos citar como exemplos a rede cegonha, a formação de enfermeiros obstétricos (em nível de especialização e residência), a criação, desde 2005, do curso de graduação em obstetrícia na USP, os incentivos aos Centros de Parto Normal, a Lei do acompanhante e a Pesquisa Nascer no Brasil, que conseguiu mostrar a nível nacional esse panorama e alertou como ainda temos que avançar na forma de parir.", concluiu.

A mesa Assistência ao parto por enfermeiras obstétricas: resultados da Pesquisa Nascer no Brasil ocorreu no dia 14/10 na Conferência Internacional Ecos da 9th International Research Conference - Normal é natural: da pesquisa à ação, realizada no Rio de Janeiro de 14 a 16 de outubro.

 



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