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Mudanças climáticas: especialistas alertam para aumento dos desastres

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Publicado em:13/10/2014
As mudanças climáticas vêm acontecendo cada vez mais frequentemente e contribuem para o aumento dos desastres e dos eventos climáticos extremos. No intuito de explorar essa questão, a Escola reuniu os pesquisadores Christovam Barcellos, do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz e Norma Valencio, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres da Universidade Federal de São Carlos, para o Centro de Estudos da ENSP no dia 8 de outubro. Sob coordenação do vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, os pesquisadores abordaram dois aspectos diferentes sobre o tema. Enquanto Norma alertou para o sofrimento social multidimensional, além de apresentar o conceito de desastre na perspectiva sociológica, Christovam destacou a importância dos Sistemas de Informação e os impactos dos eventos climáticos extremos e dos desastres sobre a saúde.

Mudanças climáticas: especialistas alertam para aumento dos desastres

Na perspectiva sociológica, a pesquisadora ressaltou que o conceito de desastre é um acontecimento trágico, de ocorrência num tempo social que envolve dimensões culturais, políticas, econômicas e subjetivas. No Brasil, por exemplo, os desastres são falhas na constituição política do conjunto de atores que produzem e compartilham as operações em torno de prevenção e preparação, como também no que diz respeito às práticas de resposta e recuperação. Norma também pontuou diferenças entre riscos e desastres e explicou que para compreender o conceito de desastres é preciso pensar em processos sócio históricos de degradação.

A evolução dos desastres no Brasil também foi destacada pela pesquisadora. “A média anual de desastres no país abrange 1/4 dos municípios brasileiros, que por ano, entram em situação de emergência. Alguns municípios sofrem com situação de crise crônica”, lamentou. Norma destacou três aspectos que devem ser considerados frente a esta situação. O primeiro deles, ela apontou como a naturalização da notificação de desastre relacionados às secas e às chuvas no montante geral dos desastres no país. A recorrência da decretação de desastres num mesmo estado da federação e município seria o segundo aspecto, e por fim, o terceiro trata da observação de que os desastres se alastram em macrorregiões de maior e de menor nível de desenvolvimento, tendo como parâmetros o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Produto Interno Bruto (PIB).

Norma apresentou também um espécie de classificação dos desastres mais problemáticos, sendo eles: silentes; brandidos sem correspondência com a realidade concreta; e de ocorrência sucessiva. Segundo ela, os desastres silentes são aqueles que provocam ruptura na vida cotidiana de um grupo de pessoas; os brandidos são aqueles em que o ente público decreta situação de emergência para justificar atos com menor controle social e acessar recursos extraordinários; já os desastres de ocorrência sucessiva são os que possuem vício administrativo, sendo nocivos à saúde do meio local social.

Mudanças climáticas: especialistas alertam para aumento dos desastresPor fim, a pesquisadora afirmou que os desastres vão aumentar no Brasil por diversos motivos, como, por exemplo, as decisões políticas equivocadas na distribuição de recursos para a produção de conhecimento científico, que incrementam uma visão distorcida do problema e de possíveis soluções, mas, principalmente, “pela escolha nacional pelo modelo de desenvolvimento pretensamente inclusivo, mas calcado no consumismo, individualismo e na saturação, cujos efeitos ambientais deletérios reverterão em cascatas de tragédias antes que quaisquer sistemas de emergência possam evitá-las”, finalizou.

O que dizem os Sistemas de Informação?

Para apresentar outro panorama sobre as mudanças climáticas, o pesquisador do Observatório de Clima e Saúde do Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz em parceria com outras instituições, Christovam Barcellos, abordou a conexão dos desastres com a saúde e explicou que nem todo desastre gera impacto sobre a saúde. Segundo o pesquisador os desastres geram fenômenos locais, além disso, eventos climáticos extremos estão relacionados a transmissão por vetores, além de doenças hídricas e circulatórias. Para exemplificar alguns dados ele utilizou os eventos climáticos extremos acontecidos em Santa Catarina em 2008, e seus impactos segundos diferentes fontes de informação.

Christovam expôs dados obtidos através de Sistemas de Informação sobre óbitos, além de informações sobre internações por doenças infecciosas, fraturas, Acidente Vascular Cerebral (AVC), e leptospirose. Com relação as fontes de dados, para ele existem muitas, porém, difíceis de encontrar e compreender. Neste sentido, o intuito do Observatório de Clima e Saúde é exatamente reunir informações confiáveis em um único local. “Para isso é preciso integrar dados e subsidiar sistemas de alerta baseados em modelos de predição; reforçar atenção básica e vigilância em saúde, além das emergências; e atuar além do período imediatamente pós-desastre”, explicou.

Mudanças climáticas: especialistas alertam para aumento dos desastresFinalizando sua apresentação, Christovam Barcellos ressaltou que a missão do Observatório do Clima não é propagar o fim do mundo, e sim oferecer informações confiáveis para que gestores e a população em geral possam intervir em determinadas situações. Como desafios teórico metodológicos, o pesquisador afirmou que as relações entre clima e saúde são raramente imediatas, diretas, locais e apolíticas. "Todo o debate é permeado por grupos de pressão, falsos cientistas e até lobistas. A mídia é um fórum de disputas”, disse. Encerrando, o pesquisador deixou alguns questionamentos, como, por exemplo, se o aumento dos impactos se deve às mudanças climáticas ou ao aumento da vulnerabilidade?

Na ocasião do Centro de Estudos Miguel Murat da ENSP houve ainda o lançamento do livro Segurança humana no contexto dos desastres, que conta com a organização de Norma Valencio e Roberto do Carmo, e o lançamento do número temático da Revista Ciência e Saúde Coletiva sobre Desastres naturais - impactos, vulnerabilidades e organização do setor saúde que contou com a colaboração de diversos pesquisadores da ENSP, entre eles o coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes/Fiocruz), Carlos Machado, responsável pela organização do Ceensp Mudanças climáticas e desastres no Brasil - desafios para a segurança humana e a saúde coletiva.

Em breve as apresentações dos palestrantes estarão disponíveis no Canal da ENSP nou Youtube.

 


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