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ENSP ministra treinamento em ameaças biológicas em Curitiba

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Publicado em:10/10/2014
Por Marina Lemle*
 
Num mundo globalizado, ameaças de bioterrorismo e de surtos de doenças transmissíveis colocam todos os países em alerta, inclusive o Brasil, principalmente em tempos de grandes eventos de massa, quando a circulação de pessoas aumenta consideravelmente. Por isso, o país está buscando melhorar a sua capacidade de enfrentamento de situações de crise e a Fiocruz, como instituição de referência do Ministério da Saúde, assumiu um papel importante de formação de pessoal qualificado.
 
Diversas unidades da Fundação contribuíram com suas expertises específicas na preparação para grandes eventos, como os Jogos Militares, a Jornada Mundial da Juventude, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, além de permanecerem em alerta para eventuais situações dentro das suas competências. De olho nas Olimpíadas, os treinamentos prosseguem. O próximo acontecerá em Curitiba, nos dias 20 de outubro e 10 de novembro, quando a coordenadora do Núcleo de Biossegurança da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), Telma Abdalla de Oliveira Cardoso, capacitará profissionais de saúde e de segurança em ameaças biológicas.
 
ENSP ministra treinamento em ameaças biológicas em Curitiba
 
A capacitação enfoca a importância do estabelecimento de medidas de prevenção, avaliação de risco e de resposta relacionadas a agentes biológicos que representem ameaça à saúde pública no Brasil, seja por causas naturais ou provocados pela atividade humana de forma acidental ou deliberada (bioterrorismo). Entre dezembro de 2013 e maio de 2014, a Fiocruz treinou 1.493 profissionais das áreas de saúde e segurança nacional em 11 das 12 cidades-sede da Copa do Mundo da Fifa, com o objetivo de ampliar seus conhecimentos e subsidiá-los para o atendimento e a resposta caso as ameaças se concretizassem. “É essencial o preparo do sistema de saúde brasileiro para o enfrentamento de diversas situações, como, por exemplo, a contaminação voluntária de suprimentos alimentícios e de água potável ou o surto de uma nova doença infecciosa”, afirma.
 
Foram treinados agentes da Força Nacional do SUS, profissionais de vigilância em saúde (sanitária, epidemiológica e ambiental), profissionais voltados para a promoção da saúde e profissionais de assistência médica (dos laboratórios de saúde pública, dos hospitais de referência dos estados e municípios e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - Samu) e, em aguns estados, profissionais do Ministério da Defesa (principalmente do Exército), da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros.
 
Telma explica que certos eventos de massa, por gerarem concentração ou fluxo excepcional de pessoas de origem nacional e internacional, podem exigir a atuação coordenada de órgãos de saúde pública da gestão municipal, estadual e federal para o fornecimento de serviços especiais de saúde, públicos ou privados, baseados na avaliação das ameaças, das vulnerabilidades e dos riscos à saúde pública. “A pressão pela oferta de serviços assistenciais locais no período de realização dos eventos de massa torna necessária a elaboração de uma série de documentos, como planos de emergência e de contingência, protocolos e procedimentos operacionais padrão, além do preparo dos profissionais que estarão envolvidos no atendimento à população atingida. Estas ações envolvem a preparação e a resposta coordenada entre as três esferas de gestão do SUS”, pontua.
 
Telma ressalta que a importância do treinamento suplanta a questão dos grandes eventos. “A detecção precoce e controle das consequências depende da solidez e flexibilidade do sistema de saúde pública nos seus níveis local, distrital, regional e central. Os profissionais de saúde devem estar informados e vigilantes porque, muito provavelmente, serão os primeiros a identificar, tratar e controlar as situações emergenciais de saúde”, afirma.
 
Segundo a especialista, é necessária a capacitação dos profissionais para a identificação precoce dos sintomas, as vulnerabilidades sociais e ambientais e a susceptibilidade para cada doença, a fim de prestar esclarecimentos à população em geral sobre sintomas e medidas de controle. Para Telma, a divulgação de informações sobre doenças infecciosas, biossegurança e segurança biológica promove não apenas a proteção dos profissionais envolvidos como também ajuda a conter a propagação de doenças e a contaminação ambiental.
 
Terrorismo
 
Apesar de, historicamente, o número de vítimas conhecidas e mortes causadas pelo uso intencional de agentes biológicos ser consideravelmente menor do que por infecções naturais, o treinamento inclui o preparo para o enfrentamento de surtos ocasionados por agentes biológicos com potencial para serem utilizados como armas biológicas, entre eles os vírus causadores de febres hemorrágicas, como Ebola, Marburg e Sabiá. “É importante assegurar uma resposta estratégica de prevenção e contenção em resposta a ações de bioterrorismo, com o reforço da vigilância militar e o surgimento de um sistema de comunicação entre as agências de saúde e defesa”, enfatiza. Enquanto a Fiocruz dedica-se às ameaças biológicas, a Comissão Nacional de Energia Nuclear concentra-se no treinamento sobre ameaças radionucleares e o Exército nas ameaças químicas.
 
Fiocruz integra esforço nacional de apoio a eventos de massa
 
Como instituição de referência em ensino, pesquisa e atenção à saúde, a Fiocruz integra o Comitê de Eventos de Massa, instituído pela Portaria 1139 do Ministério da Saúde, que cria as Diretrizes Nacionais para Planejamento, Execução e Avaliação das Ações de Vigilância e Assistência à Saúde em Eventos de Massa. O Comitê reúne diferentes ministérios e órgãos das três esferas de governo com o objetivo de planejar e integrar os esforços necessários para cada evento.
 
Na Fiocruz, foi criado um Grupo de Trabalho, coordenado pelo vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel, para mapear as competências e o potencial da Fundação, coordenar as demandas que chegam e articular as unidades com as Secretarias de Saúde. Através deste grupo, a Fiocruz integra os Centros Integrados de Operações Conjuntas da Saúde (Ciocs). De acordo com Rangel, a Saúde se preparou muito bem para a Copa do Mundo. “Houve um planejamento bastante antecipado, com a organização dos Ciocs e a realização de pelo menos 12 reuniões – uma em cada cidade-sede. As experiências da Jornada Mundial da Juventude e da Copa das Confederações trouxeram para o sistema de saúde um conjunto de elementos que puderam ser analisados e aperfeiçoados. Nos preparamos de maneira articulada com estados, municípios e o Ministério da Saúde, o que levou a uma qualificação do trabalho em rede. Sempre há mais o que fazer, mas hoje outros países podem aprender algo conosco, assim como aprendemos com experiências anteriores”, afirma.
 
Rangel destaca que, além dos laboratórios no Rio de Janeiro, a Fiocruz conta com o suporte de laboratórios em outros estados, como Amazonas, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Paraná, para trabalharem articulados aos laboratórios centrais (Lacen), que formam o Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública. “O conjunto de laboratórios é importante para que se tenha um cordão de proteção”, explica.
 
Laboratório de contenção máxima - NB4
 
Telma Abdalla defende a construção de um laboratório de contenção máxima (Nível de Biossegurança 4 - NB4) onde possam investigados casos de doenças com quadro clínico característico de contaminação por agentes biológicos perigosos ou exóticos ao nosso país, de relevância epidemiológica, risco de disseminação, alta taxa de letalidade ou cujos mecanismos de transmissão sejam desconhecidos. O local possibilitará o isolamento e a identificação do agente etiológico, de pessoas ou animais. “O laboratório também garantirá ao país uma autonomia científica para comprovar a suspeita da presença de agentes biológicos, evitando o envio das amostras clínicas para o exterior, além de possibilitar o desenvolvimento de vacinas, fármacos e de kits diagnóstico”, diz.
 
* Marina Lemle é jornalista da Coordenação de Comunicação Social da Fiocruz 

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
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