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Morre Luiz Hildebrando, um dos mais importantes pesquisadores em doenças tropicais

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Publicado em:26/09/2014

Morreu na noite desta quarta-feira (24/9), em São Paulo, vítima de pneumonia, o parasitologista Luiz Hildebrando Pereira da Silva, um dos maiores especialistas do mundo em malária. Ele era pesquisador honorário da Fiocruz e foi o fundador do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais (Ipepatro), que se transformou na Fiocruz Rondônia. Segundo o presidente da Fundação, Paulo Gadelha, “Hildebrando foi um ser humano excepcional, que reuniu excelência internacional como sanitarista em trabalhos de campo, pensador da cultura e militante político, além de ter demonstrado enorme capacidade de criação e de desenvolvimento de uma instituição de ponta em ciência e tecnologia, em Rondônia, com os recursos regionais disponíveis. O trabalho de Hildebrando é um dos mais valiosos legados para a saúde pública brasileira”.

Morre Luiz Hildebrando, um dos mais importantes pesquisadores em doenças tropicais

Nesta sexta-feira (26/9) haverá a cremação do corpo, às 10h, no Crematório Vila Alpina (Avenida Francisco Falconi 837, Jardim Avelino, em São Paulo) e uma cerimônia de despedida (em local ainda a ser definido), às 19h. Hildebrando tinha 86 anos e estava internado no Instituto do Coração (Incor). Ele deixa viúva, Cecile Wundersman (segundo casamento), e cinco filhos.

Nascido em 1928 e formado em medicina em 1953 pela Universidade de São Paulo, Hildebrando viajou com Samuel Pessoa para a Paraíba em 1954, onde participou da organização do Laboratório de Parasitologia e do ensino da disciplina na nova Faculdade de Medicina de João Pessoa. Desenvolveu entre 1954 e 1956, com Pessoa, pesquisas sobre a epidemiologia da esquistossomose e da doença de Chagas. Convidado em 1956 para assistente de parasitologia na USP, voltou a São Paulo e integrou-se à equipe que trabalhava com Pessoa. Desenvolveu com sucesso, entre 1956 e 1960, em colaboração com Ferreira Fernandes, pesquisas em quimioterapia da tripanosomíase americana, utilizando análogos de purina para inibir a biossíntese de salvação de purinas do parasita.

Depois de 1960, quando obteve a livre docência em parasitologia, viajou como bolsista do CNPq para Bruxelas, onde trabalhou com René Thomas em genética molecular do bacteriófago lambda. Em 1962/1963 trabalhou no Instituto Pasteur com François Jacob, que tinha publicado, com Jacques Monod, o célebre modelo de regulação da expressão gênica em procariontes que lhes valeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1965.

Voltando ao Brasil em fins de 1963, organizou com Erney Camargo o Laboratório de Genética de Protozoários na USP e o primeiro seminário paulista sobre biologia molecular, reunindo pesquisadores de várias instituições. Militante de esquerda, foi preso após o golpe militar 1º de abril de 1964 e depois processado e demitido da USP pelo Ato Institucional nº. 1.

Voltou a Paris e ao Instituto Pasteur e trabalhou com Harvey Eisen, com quem descreveu o gene CRO, responsável pela regulação da expressão do repressor do fago lambda. Em um retorno ao Brasil organizou um curso sobre genética molecular de bacteriófagos no Departamento de Bioquímica da USP em 1967 e em 1968 aceitou a posição de professor no Departamento de Genética, no campus da universidade em Ribeirão Preto, e com Warwick Kerr voltou a trabalhar com genética de eucariontes unicelulares. Em 1969, entretanto, foi novamente demitido pelo Ato Institucional nº 5 e voltou a Paris, onde foi nomeado chefe do Laboratório de Diferenciação Celular.

Em 1976 foi convidado por Jacques Monod, diretor do Instituto Pasteur, a organizar uma nova unidade de parasitologia, associando sua experiência em protozoologia médica com a nova formação em biologia molecular. Entre 1977 e 1996 trabalhou em malária, reunindo uma equipe brilhante de colaboradores como Jurg Gysin, Arthur Scherf, Odile Mercereau, Gordon Langsley, Pierre Druilhe, François Trape e Christophe Rgierm, entre outros que desenvolveram importantes estudos sobre a imunidade protetora de malária falciparum. Essa equipe definiu e isolou as respectivas moléculas recombinantes e estudou em modelos primatas experimentais e em voluntários humanos uma série de moléculas antigênicas candidatas a vacina contra a malária, que até hoje permanecem como moléculas prioritárias para futuras vacinas. Organizou a unidade de produção de primatas modelo em Caiena, na Guiana Francesa, e uma unidade em Diemo, no Senegal, para estudo da malária.

De volta ao Brasil em 1997, após sua aposentadoria no Pasteur, integrou com Mauro Tada o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia (Cepem).  Algum tempo depois, Hildebrando, ao lado do professor Erney Camargo, percorreu toda a Amazônia para descobrir o local em que haveria maior interesse para desenvolver um trabalho de pesquisa. Eles escolheram Rondônia por ter altíssima incidência de malária e instalações físicas favoráveis, como o Hospital Cemetron, em Porto Velho. Foi então estabelecida uma colaboração entre o Instituto Pasteur, a USP e a Secretaria estadual de Saúde. “Quando voltei, decidi me instalar na Amazônia, pois considero que há um problema a ser resolvido na região: promover o desenvolvimento socioeconômico da população e, ao mesmo tempo, promover a preservação ambiental. Desde então, conseguimos reunir um excelente time de especialistas que tem permitido conquistas importantes na luta contra a malária”.

Hildebrando era professor emérito da Universidade Federal de Rondônia e da Universidade de São Paulo, pesquisador honorário da Fiocruz, coordenador da pós-graduação em Biologia Experimental da Unir, conselheiro da Capes e do Conselho Superior do MCTI da Presidência da República. Era membro do Comité Gestor do InPeTAm da UFRJ e colaborava com várias universidades do país e do exterior. Este ano, recebeu o Prêmio Fundação Conrado Wessel, considerada a maior premiação nacional da ciência e tecnologia.


Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
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