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Painel aborda o período de resistência na ENSP

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Publicado em:05/09/2014
 
No segundo dia de comemorações (4/9) pelos 60 anos da ENSP, o painel Da resistência à retomada - Período de 1970-79 (de Médici à anistia) contextualizou o momento político vivido no país - marcado pela ditadura militar -, e a história da Escola perante os acontecimentos da época. Na área de saúde, os casos do 'Massacre de Manguinhos' e do 'Grupo de Campinas', eventos conhecidos pela perseguição aos pesquisadores de medicina social, foram consequências deste período. Estiveram presentes ao evento o ex-aluno e professor da ENSP Eduardo Costa, o ex-diretor da ENSP, Arlindo Gomes de Souza, os ex-professores da Escola, Akira Homma, Hélio Uchoa e Ana Maria Tambellini, além de Sérgio Goes de Paula, ex-pesquisador da Fiocruz.

Painel aborda o período de resistência na ENSP
 
Eduardo Costa, em sua fala, analisou a estruturação da ENSP até os dias atuais. Conforme destacou ele, a partir do Decreto 66.624 de 22 de maio de 1970, a Fundação passou a se chamar Fundação Instituto Oswaldo Cruz e a ENSP se tornou Instituto Presidente Castello Branco. Após esse decreto, segundo o coordenador da mesa, Arlindo Gomes de Souza, houve a retomada da Escola Nacional de Saúde Pública, momento marcado pela inauguração do prédio nomeado Ernani Braga, em homenagem ao ex-diretor da ENSP. "Não conseguimos falar sem emoção dessa fase", disse Arlindo.
 
Akira Homma, que além de professor da Escola, foi ex-presidente da Fiocruz e ex-diretor de Biomanguinhos, falou sobre o início de sua história na ENSP e as questões sociais vividas. “O período entre a década de 1960 e 1970  foi marcado por obscurantismo, intolerância, pressão política e importantes restrições de democracia. Foi um período de resistência, no qual alguns profissionais da ENSP procuraram formas de sobrevivência institucional desenvolvendo projetos resistentes as condições extremamente adversas.”
 
O 'Massacre de Manguinhos', evento ocorrido em 1970, em que dez pesquisadores foram perseguidos e impedidos de trabalhar, líderes de grupo de pesquisas foram cassados e laboratórios desmontados, também foi relembrado por Akira. “Houve um despovoamento institucional”, explicou. 
 
Após esse fato histórico, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), no âmbito do I Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (I PBDCT), criada no governo do general Ernesto Geisel, passou a financiar o ressurgimento de Manguinhos, que se refletia na ENSP com a criação do Programa de Estudos Socioeconômicos em Saúde (Peses) e do Programa de Estudos Populacionais e Epidemiológicos (Peppe). Houve ajuda do chamado 'Grupo de Campinas', formado por profissionais e estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde haviam sido impedidos de continuar suas pesquisas.
 
Ana Maria Testa Tambellini contou sua experiência pessoal no momento de perseguição e repressão na ditadura militar em Campinas. “Tínhamos um projeto muito grande, articulado com os departamentos de medicina preventiva em nível nacional em um momento em que a ditadura se voltava a exterminar os quadros institucionais. Nós tínhamos esse ideal de resistência e luta pela democracia. Éramos militantes políticos e acreditávamos que a nossa profissão tinha que espelhar nossas crenças contra a repressão e o terror que estavam instalados no país.” Segundo a pesquisadora, foi um período de perseguição, especialmente àqueles que tinham capacidade crítica. O Grupo contava com 20 pessoas do Departamento de Medicina Preventiva da Unicamp e precisou buscar novas opções de trabalho pelo país, assim que foram perseguidos e impedidos de continuar suas pesquisas em Campinas.
 
Para Sérgio Goes de Paula, ex-pesquisador da Fiocruz e idealizador da revista Radis, além da repressão e censura, durante a ditadura houve uma modernização do Brasil e das relações econômicas. Sérgio abordou em sua fala os desdobramentos dos programas Peppe/Peses, que, conforme explicou, foram projetos de intervenção profunda com grande financiamento. “Ao fim dele incorporamos 52 pessoas no quadro da Escola.”
 
Dentro deste período, mais precisamente em 1974, ocorreu a descentralização dos cursos de Saúde Pública, conforme comentou Hélio Uchoa. Nesse momento, professores saíram da ENSP para dar aulas em diversas cidades do país. Essa ação visava suprir a necessidade de formação de recursos humanos em saúde pública. “Em 1970 se inscreveram em média 40 candidatos para o curso de saúde pública, já em 1974 foram mais de 140 candidatos. Essa iniciativa otimizou inclusive os contatos com as secretarias de saúde nos estados”, comentou Uchoa.

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A Direção da ENSP, nessa época, realizou um seminário com o corpo docente da Escola e as secretarias de saúde do país. Nesse seminário foi definida a reformulação do curso de saúde pública, mudanças que abrangeram as disciplinas, o conteúdo curricular, os objetivos da formação e a carga horária. “Após a reformulação ele passou a ser compreendido como um curso básico na formação do sanitarista”, contou.
 
O diretor da Escola, Hermano Castro, também presente, comentou que o sonho de todos os estudantes militantes de Saúde Pública era vir para a ENSP. "Aqui estava a resistência. Meu pai era operário e comunista e fui criado nesse ambiente." 
 
A atividade ocorrida no dia 4 de setembro fez parte do Seminário ENSP - Nascer e crescer em tempos difíceis, iniciado no dia 3/9, que contou também com o painel Período 1954-1969 (do suicídio de Vargas à "eleição" de Médici) – Do nascimento à violação.

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