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Depoimentos recordam a criação da ENSP nos anos 50

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Publicado em:04/09/2014
"O projeto da década de 50 do governo Vargas marcou uma arrancada desenvolvimentista não só no aspecto econômico, mas também na dimensão social. A ENSP, portanto, tem essa simbologia: nasce no cerne do desenvolvimento brasileiro como um projeto de nação". O contexto vivido pelo país no bojo da criação da Escola Nacional de Saúde Pública, em 1954, e marcado pela criação do BNDE, CNPq, Petrobras e também do Ministério da Saúde, citados na fala do ex-professor da Eduardo Costa, norteou a abertura das comemorações dos 60 anos da instituição, na quarta-feira (3/9). A solenidade homenageou todos aqueles que contribuíram para a consolidação da ENSP como principal Escola de Saúde Pública da América do Sul, além de relembrar sua jornada nos primeiros anos de criação.
 
O seminário Nascer e crescer em tempos difíceis: a jornada da ENSP de 1954 a 1979 deu início às comemorações dos 60 anos da Escola. A atividade, coordenada pelo ex-diretor da ENSP, Luiz Fernando Ferreira, foi apresentada por Eduardo Costa e debateu o Período 1954-1969 (do suicídio de Vargas à “eleição” de Médici) – Do nascimento à violação

Depoimentos recordam a criação da ENSP nos anos 50
 
Convidado a participar da primeira mesa, o jornalista José Augusto Ribeiro, autor dos três volumes do livro A Era Vargas, falou sobre o momento de 1950 a 1954. Ele, que disse ter encontrado poucos registros sobre o campo da saúde pública nas pesquisas para escrever os livros, tentou situar alguns aspectos que motivaram o segundo governo Vargas. “Diria que o projeto nacional o qual se inseriu a criação do Ministério da Saúde, e dias depois de seu suicídio, há exatamente há 60 anos, a criação da ENSP, eram estimulados pelo presidente Getúlio desde a sua juventude. Essa inspiração buscava a independência econômica do Brasil. Isso porque a nossa independência política, proclamada em 1822, não foi um episódio isolado. A independência política, até hoje, tanto tempo depois, ainda não é completa porque a nossa independência econômica não atingiu essa forma”.
 
E foi nesse contexto que emergiu a reestruturação do então Ministério da Educação e Saúde. “A proposta era incluir a pasta da Saúde no novo Ministério dos Serviços Sociais, que abrangeria a saúde e outras iniciativas. Esse projeto de reforma foi bloqueado no congresso porquê despertava resistência e interesse de diferentes lados. Acabou sendo aprovado um projeto isolado que criou o Ministério da Saúde”, lembrou. 
 
Esse movimento, porém, não exigiu tanta mobilização quando a campanha do “Petróleo é Nosso”, justificou o jornalista. “Confesso que nos longos anos de pesquisa para escrever meu livro, encontrei pouca informação sobre a área da saúde pública. Talvez porque ela fosse menos controversa que a questão do petróleo, da Petrobras, do Plano do Cartão Nacional e a criação da Eletrobrás. E isso não aconteceu apenas comigo, mas também com outros autores. O projeto nacional o qual se inseriu a criação do Ministério da Saúde, não exigiu tanta mobilização quanto a campanha do Petróleo é Nosso!”
 
Na sequência, Jorge Valadares recordou os primeiros momentos como pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública. Muito emocionado e dizendo que voltar à ENSP lhe trazia a mesma sensação de voltar à casa dos pais, agradeceu ao diretor. “Com esse movimento, o Hermano está retomando algo importante na criação desta casa: o sonho. E para falar do que representou o sonho de fundar essa Escola, é necessário citar o professor Edmar Terra Blois. Esse prédio era um esqueleto abandonado, e Blois, ligado ao Marcolino Candau, que ocupou a direção geral da Opas, nos trouxe para essa sede”, disse. O convidado ainda afirmou que relembrar o passado gera o autorrespeito, e citou novamente a casa paterna. “Encontro ex-alunos, professores, pesquisadores de todo Brasil e muitos são ligados à Escola Nacional de Saúde Pública até hoje”. 
 
O jornalista Arthur José Poerner, último a se apresentar e autor do livro O poder jovem, destacou a importância da ENSP no cenário nacional. Ele, que foi jornalista do Correio da Manhã, na década de 60, discorreu sobre sua prisão na redação do jornal, em abril de 1970, e do exílio na Alemanha, onde chegou a se tornar redator e locutor da rádio.

Depoimentos recordam a criação da ENSP nos anos 50
 
A abertura
 
A solenidade de abertura das comemorações dos 60 anos da ENSP reuniu o diretor da Escola, Hermano Castro, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, o secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, Marcos Esner Musafir, o secretário Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, a presidente do Cebes, Ana Costa, a conselheira da Abrasco e professora do IESC/UFRJ, Ligia Bahia, e a vice-presidente da Asfoc, Justa Helena Franco. Durante a atividade foi exibido um trecho do documentário ENSP: uma história de cidadania, que será apresentado na íntegra na sexta-feira (5/9).
 
Hermano, que destacou a capacidade de renovação da Escola ao longo dos 60 anos, assegurou que a história da ENSP se confunde com a saúde pública brasileira. “A história da ENSP é constituída por cada um de vocês presentes nesse auditório, pelos alunos e pesquisadores que passaram e passam por aqui todos os dias. Apesar dessas seis décadas, digo que somos tão jovens porque nos reinventamos a todo tempo. A história dessa instituição se confunde com a trajetória da saúde pública brasileira, cumprindo o desafio de buscar uma melhor qualidade de vida e uma sociedade mais justa, onde todos tenham saúde”.
 
O presidente da Fiocruz, empolgado com as atividades culturais dos 60 anos da ENSP, enalteceu o clima de alegria, emoção e reconhecimento das trajetórias na saúde pública. “A Escola possui a tradição de reconhecer as ações do passado e beber desse legado para construir seu futuro. A programação é uma forte evidência disso”. 
 
Nesta sexta-feira (5/9) o vídeo com o discurso completo de todos os integrantes da mesa e as homenagens aos ex-diretores Luiz Fernando Ferreira da Silva, Arlindo Fábio Gomez de Sousa, Paulo Marchiori Buss, Maria do Carmo Leal, Adauto José Gonçalves de Araújo, Jorge Antonio Zepeda Bermudez, Antonio Ivo de Carvalho e as famílias dos ex-diretores falecidos Odir Clécio da Cruz Roque, Frederico Adolfo S. Barbosa e Ernani de Paiva F. Braga será publicado no Canal de Vídeos da ENSP.

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