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Hábitos do cotidiano afetam práticas alimentares

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Publicado em:11/08/2014
 
Hábitos do cotidiano afetam práticas alimentares"As práticas de alimentação são construídas socialmente. E a ideia de como uma prática social é construída nos leva a pensar de que maneira ela pode mudar". A fala do professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Ruben Araújo de Mattos diz respeito à relação das ciências sociais e humanas e suas influências na alimentação. Na aula inaugural do curso de aperfeiçoamento em Alimentação e Cultura da ENSP, o professor destacou aspectos do cotidiano que afetam diretamente às práticas alimentares, como por exemplo, a inserção da mulher no mercado de trabalho e a situação econômica das famílias brasileiras.
 
Para Ruben, a gerência do tempo na vida da mulher moderna pode ser um elemento importante na construção de determinadas práticas alimentares. Devido à escassez do tempo disponível para a preparação de alimentos saudáveis, entram na dieta da família comidas processadas e o fast food. De acordo com ele, temos hoje uma estratégia aguda e importante de enfrentamento do problema de regulação da propaganda de alimentos infantis, a partir de uma série de elementos que sugerem que a construção da obesidade infantil passa pela propaganda. Porém, para o professor, a questão vai muito além da publicidade. “Muitos alimentos industrializados, como por exemplo os biscoitos, são oferecidos para as crianças como uma forma de entretenimento e distração, com a ideia de que quando a criança come não cria problemas. Assim como o uso da televisão, que funciona como um solucionador eventual de alguma situação de inquietude.”
 
De acordo com o palestrante, uma alimentação adequada deve ser saudável, sustentável e respeitar a cultura. A compreensão do que é cultura e a interpretação do que se coloca na ideia de segurança alimentar, porém, abrange diversas noções, como por exemplo: alimentos que culturalmente fazem parte do nosso cotidiano mas que são insalubres, como o pastel e o caldo de cana, oferecidos frequentemente em feiras de rua.
 
Outra questão destacada por Ruben foi a diferença dos hábitos alimentares de acordo com o contexto social estudado. “Em uma condição de miséria, em um espaço de pobreza, há limitações no acesso ao alimento. Isso coloca diante dos profissionais dessa área a tarefa do que pode ser feito para permitir uma alimentação saudável dentro daquelas circunstâncias. Os dilemas que se colocam nessa questão exigem uma compreensão da situação, além do conhecimento científico”, opinou.
 
A ciência, conforme destacou o professor, era retratada com base em uma ideia de que ela demonstra a verdade melhor do que qualquer outra forma de conhecimento. Inicialmente a tarefa da ciência era descobrir leis que regessem os fenômenos naturais, porém, com o surgimento das ciências sociais, essa percepção foi se modificando. “O fenômeno social, diferentemente do natural, não possui leis. Os agentes humanos, os homens, são capazes de fazer e inventar coisas. Tudo que transcorre na vida, na maneira com que ela materialmente se produz, tem origem nas relações estabelecidas pelos homens. E tudo o que acontece na vida social tem por ultima análise o elemento econômico".

Hábitos do cotidiano afetam práticas alimentares

Dessa forma, segundo o professor, podemos observar a presença de diversos elementos nos processos de construção dessas práticas alimentares, que nos ajudam a olhar para o problema com uma complexidade maior. “Os territórios para estudo são enormes. Uma característica que vem da ciência e é muito importante para o exercício cotidiano é a critica. É preciso entender as situações que estão presentes na ideia de alimentação saudável", concluiu.
 
As ciências sociais e humanas e os estudos em alimentação e nutrição foi o tema da aula inaugural do curso de aperfeiçoamento em Alimentação e Cultura da ENSP, apresentada no dia 6 de agosto. A formação, coordenada pelas pesquisadoras Denise Cavalcante de Barros (ENSP/Fiocruz) e Denise Oliveira e Silva (Fiocruz Brasília), visa capacitar profissionais de saúde para o entendimento dos significados dos sistemas e valores que envolvem os aspectos socioculturais da saúde, em particular a alimentação e a nutrição, na perspectiva de contribuir para o exercício de uma prática humanista na promoção da alimentação e nutrição na atenção à saúde. 

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