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Luta contra Aids: especialista comenta ações do MS

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Publicado em:02/12/2013

Tatiane Vargas

Luta contra Aids: especialista comenta ações do MSNo domingo, 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids, o Ministério da Saúde divulgou que todos os adultos com testes positivos de HIV, mesmo que não apresentem comprometimento do sistema imunológico, terão acesso aos medicamentos antirretrovirais contra Aids pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida, que integra o novo Protocolo Clínico de Tratamento de Adultos com HIV e Aids, foi comentada pela pesquisadora da ENSP Monica Malta, que participou das reuniões no Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério com o propósito de discutir o assunto e elaborar ações e campanhas de prevenção. Para ela, a estratégia é inovadora e pode, sim, impactar tanto a qualidade de vida de quem está recebendo o tratamento, como também da sociedade de maneira geral, uma vez que visa diminuir a transmissão do HIV. Por outro lado, há enormes desafios a serem superados, tais como: ampliar o diagnóstico e oferecer uma rede de apoio aos pacientes.

Nos últimos anos, de acordo com a pesquisadora, o Departamento de DST/Aids vem passando por momentos de tensão, que envolvem censura às campanhas de prevenção voltadas para jovens gays, e até mesmo a retirada de gibis elaborados para prevenção do HIV/Aids e saúde reprodutiva das escolas públicas - realizadas por meio da pressão de parlamentares que representam grupos mais conservadores e atuam em prol da adoção de políticas questionáveis - como a chamada ‘Cura Gay’. Na opinião da pesquisadora, após uma série de processos, que culminaram na troca da direção do departamento, o Brasil passou a trabalhar de forma mais próxima aos diversos organismos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS), sempre com postura firme e pautada pela ética, responsabilidade social e busca pela implementação de políticas públicas baseadas em evidências científicas.

“Pessoalmente, vejo com muito otimismo as ações implementadas até o momento pelo Departamento de DST/Aids. Sabemos que a resposta à epidemia de Aids é complexa. Ainda temos muito a caminhar e precisamos pensar, testar e implementar estratégias diferenciadas para cada grupo, região e realidade cultural existentes no Brasil. Mas a participação ativa de pesquisadores, representantes da sociedade civil, profissionais de saúde e gestores tende a possibilitar a adoção de estratégias com maiores chances de sucesso”, enfatizou a pesquisadora.

Brasil desponta no cenário internacional

Para Monica Malta, mais uma vez o Brasil desponta no cenário internacional como um país inovador ao adotar a política de tratamento para todos os pacientes HIV-positivos, e não apenas naqueles que possuem a imunidade comprometida pela infecção pelo HIV. “A estratégia é inovadora pode, sim, impactar tanto a qualidade de vida de quem está recebendo o tratamento, como também da sociedade de maneira geral, ao diminuir a transmissão do HIV. Porém, há enormes desafios pela frente, como a ampliação do diagnóstico e a oferta de uma rede de apoio aos pacientes.

A ampliação do diagnóstico, segundo ela, é fundamental, pois estima-se que cerca de 150 mil pessoas HIV-positivas desconheçam seu diagnóstico. A pesquisadora citou que existem iniciativas para ampliar a rede que oferece o teste, incluindo testagem móvel e maior oferta do teste rápido, entretanto, questões culturais e sociais envolvem a realização, pois existe o medo do estigma e outras questões complexas e que vão além da simples oferta. Outro desafio apontado foi em relação à criação de uma rede de apoio ao paciente. Para a pesquisadora, não há dúvidas de que a estratégia de tratar todos aqueles com diagnóstico HIV-positivo é corajosa, cientificamente embasada e pioneira, mas não basta apenas oferecer os medicamentos antirretrovirais: "criar toda uma rede de apoio é extremamente importante", apontou.

Pensar na oferta de uma rede de apoio qualificada é fundamental na opnião de Monica. Ela conta existe a proposta de ampliar a participação das Unidades Básicas de Saúde (UBS) na oferta de diagnóstico e tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids. Porém muitos pesquisadores e profissionais de saúde questionam a eficácia da estratégia.

Luta contra Aids: especialista comenta ações do MS“O profissional de saúde precisa estar capacitado para prescrever antirretrovirais e lidar com o manejo dos eventos adversos, tratamento de confecções frequentes (HIV e Tuberculose, por exemplo), complicações renais e cardiovasculares, distúrbios metabólicos – para citar os problemas clínicos mais frequentes nas pessoas que vivem com HIV/Aids e estão em tratamento antirretroviral. Isso sem falar em questões também complexas, como o apoio psicossocial, a aderência ao tratamento etc. O maior desafio está muito além de ofertar medicamentos, testes, e capacitar equipes de saúde. Existem questões sociais, culturais e comportamentais muito complexas e intrinsecamente correlacionadas à epidemia de Aids no Brasil e no mundo. Questões mais amplas como o estigma e a violação de direitos humanos precisam ser discutidas e estratégias eficazes de resposta a estes graves problemas são necessárias”, destacou.

Por fim, Monica justificou que estratégias de enfrentamento, para serem bem sucedidas, precisam incorporar a voz e a experiência dos grupos sociais envolvidos. Sem isso, excelentes políticas públicas correm o risco de não serem tão eficazes no mundo real. “Estamos caminhando sim e o Brasil tem sido saudado pela iniciativa de adotar o tratamento precoce. Fabio Mesquita é um diretor bastante compromissado e acredito que estamos no caminho certo. Mas sabemos que ainda temos muito trabalho pela frente, trabalho que precisa continuar a ser elaborado em conjunto pelo mosaico de vozes e experiências que compõem o enorme grupo de pessoas que vivem e convivem com HIV/Aids. Espero que os próximos dias internacionais de luta contra a Aids se tornem, cada vez mais, datas de celebração da vida e do amor e menos momentos que nos lembrem, dolorosamente dos tantos amigos e companheiros que se foram cedo demais”, comentou ela.

Clique aqui e leia mais sobre Protocolo Clínico de Tratamento e outras ações do Ministério na luta contra o HIV/Aids.


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