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Conceitos de riscofobia apresentados no VI SImbravisa

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Publicado em:31/10/2013

Tatiane Vargas

Conceitos de riscofobia apresentados no VI SImbravisaO pesquisador da ENSP Luis Davi Castiel trouxe para as discussões do VI Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária/II Simpósio Pan-Americano de Vigilância Sanitária o tema Riscofobia. Em conferência realizada no terceiro dia (29/10) de atividades do simpósio, o pesquisador tratou do conceito de risco presente em todas as atividades cotidianas da vida humana. Ele citou que vivemos um contexto de certo mal-estar na sociedade, e as pessoas, como consequência, passam a desenvolver técnicas de gestão do estresse. Levando a discussão para a visão da vigilância sanitária, Castiel apontou algumas questões da autovigilância.

Segundo o pesquisador, novos conhecimentos sobre risco são constantemente produzidos pelas pesquisas biomédicas e epidemiológicas. Assim, passamos a perceber nossas vidas cada vez mais com novos elementos de insegurança. Para ele, quando reconhecemos que vivemos sob risco, estamos mais suscetíveis a condições vinculadas às ansiedades decorrentes desse comportamento. Sendo assim, a incerteza e a insegurança se tornam presentes em nosso cotidiano. Neste sentido, Castiel apontou que existe ainda uma dimensão que vai além da exposição e precarização de grupos humanos submetidos a ameaças à saúde e à integridade, e, nesse contexto, surgem as ações da vigilância sanitária.

Castiel descreveu que existe uma busca da redução de riscos no interior da hiperprevenção. Esse termo é utilizado para definir atividades que se preocupam excessivamente com a busca de segurança e saúde, além do consumo de práticas, produtos e serviços que a garantam. “A hiperprevenção seria o resultado da reunião ‘hiper’ de ações que visam à promoção, prevenção, precaução e proteção dos indivíduos”. Nesse sentido, questionou se é possível pensar aspectos hiperpreventivos no contexto da vigilância sanitária, que visa primordialmente à proteção das pessoas. “É possível pensar em uma autovigilância sanitária quando de cogita uma cidadania sanitária?”, indagou.

O pesquisador comentou que a prevenção atual poder ser descrita de muitas maneiras e enfocou quatro características principais, sendo elas: prevenção e seu foco no indivíduo; prevenção baseada em evidências; prevenção como prática medicalizadora e prevenção neoliberal, mercadorização e consumismo. A primeira delas - prevenção e seu foco no indivíduo - compreende os fatores comportamentais de risco e envolve três questões: a culpabilização do indivíduo, o apagamento de fatores estruturais e a intensificação compulsiva da vigilância, por meio da responsabilidade de estar constantemente alerta em relação a si e aos outros.

Outro ponto exposto foi relacionado à perspectiva conservadora no campo da prevenção em saúde. “Autoridades morais recomendam a importância fundamental da autodisciplina, mas com ela surgem também o moralismo e a sobrevivência. Assim, dizem que é preciso disciplina para cumprir preceitos morais e para a busca do autointeresse”, citou ele. Castiel lembrou ainda que é importante não esquecer que o capitalismo contemporâneo se constitui como um modelo paradoxal e, nesse contexto, existe uma proliferação de regulações normativas duais e ambíguas. Segundo ele, os indivíduos seriam socializados em meio a duas estruturas normativas que, mesmo sendo contrárias, se articulam de maneira complementar.

Por fim, Castiel colocou que não se trata de ser contra a saúde e a prevenção, mas contra essa ideia compulsiva e compulsória na qual existe a imposição da saúde pública atual que reivindica que todas as reduções do risco são saudáveis e, portanto, devem ser racionalmente obedecidas. Para o pesquisador, a redução do risco precisa ser vista como uma forma de redução do pré-dano e também do dano.

“A ideia de pessoas sob risco muda a qualidade da saúde e da doença, tornando-a estado crônico de não saúde/não doença, que deve ser tratado preventivamente. Nossos dados de saúde são vistos como elementos objetivos sujeitos à interpretação de supostos experts que nem sempre podemos confiar incondicionalmente. Nossa saúde deve ser colocada em uma caixa-preta, que deve ser sondada periodicamente para tentar estimar os riscos no seu interior”, ponderou Castiel.


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