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Amamentar é um cuidado que toda a sociedade deve ter

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Publicado em:05/08/2013

* Joyce Enzler

Amamentar é um cuidado que toda a sociedade deve terO Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP/Fiocruz) promoveu a quarta edição do curso de atualização Multiplicadores da Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação (Iubaam), de 29/7 a 1º/8. Sob a coordenação da enfermeira Tania Brasil, do CSEGSF, e da médica Maria da Conceição Monteiro Salomão, da Secretaria Estadual de Saúde/RJ, o curso teve como principal objetivo capacitar os profissionais de saúde para o desenvolvimento de ações promotoras do aleitamento materno.

A Iubaam é uma política estadual do aleitamento materno que concede o título às unidades básicas de saúde que desenvolvem os 10 Passos para o Sucesso da Amamentação. Esses passos são ações que a unidade deve desenvolver para promover, proteger e apoiar o aleitamento materno. A iniciativa delineia um importante papel de suporte que as unidades básicas de saúde, em conjunto com os hospitais, podem desempenhar, a fim de tornar o aleitamento materno uma prática universal, contribuindo significativamente para a saúde e o bem-estar dos bebês e suas mães.

Toda unidade básica de saúde (como os postos de saúde, os centros de saúde, os postos de saúde da família) que tenha pré-natal e pediatria pode se tornar uma unidade básica amiga da amamentação. Para isso, deve cumprir os 10 Passos para o Sucesso da Amamentação da Iubamm.

A procura pelo curso da Iubaam, no CSEGSF, superou as expectativas, foram 91 inscritos e 35 profissionais selecionados de vários municípios do Rio de Janeiro. A parte prática foi realizada em três unidades de saúde da família: Hélio Smidth, Augusto Boal e Aloysio Novis. As profissionais aprenderam a tirar o leite das mães, principalmente as que sofrem incômodo com excesso, e armazená-lo de forma correta para doação.

O curso foi um sucesso na avaliação dos alunos, que apontam como inovadora a iniciativa da coordenação do curso em convidar, a cada edição, ex-alunos para participarem como multiplicadores. Uma das alunas explicou que ações como essa são muito importantes, pois, quando amamentou, não teve a mesma orientação: “Como joguei leite fora! Ninguém me orientou sobre o banco de leite”, disse.

A equipe do curso de multiplicadores contou com trabalhadores de diversas categorias: Tania Brasil, enfermeira do CSEGSF; Maria da Conceição M. Salomão, médica da Secretaria Estadual de Saúde; Zilda Santos, técnica em amamentação da Secretaria Municipal de Saúde; Jenifer Pellegrini, enfermeira da Clínica da Família Augusto Boal; Anne Marques, nutricionista do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf); Gabriela dos Santos, odontopediatra e coordenadora de Saúde Bucal de Nova Iguaçu; Carlos Bizarro, psicólogo e coordenador do Programa de Assistência à Saúde do Idoso (Pasi), no CSEGSF/ENSP/Fiocruz; e Sergio Arino Marques, coordenador da Saúde da Criança da Secretaria Municipal de Niterói. Todos os profissionais participaram de forma voluntária.

Leite materno: a importância da amamentação

Confira, abaixo, uma entrevista com a enfermeira do CSEGSF Tania Brasil, que explica a importância da amamentação para os bebês e esclarece mitos e verdades sobre a prática.

Quando surgiram os grupos de apoio à mãe?

Amamentar é um cuidado que toda a sociedade deve terTania Brasil:
No Brasil, surgiram em 1980. A iniciativa foi da atriz Bibi Vogel, que teve sua filha na Argentina e manteve contato, dentro do hospital, com um grupo de apoio à amamentação, coordenado por pediatras. O grupo Amigas do Peito é o primeiro grupo de apoio de mães genuinamente brasileiro.

O objetivo foi a troca de experiências essencialmente entre mães e filhos, sem linguajar profissional, por meio das quais o saber científico se completa com o saber da prática, do afeto.

Conte um pouco da história da Semana Mundial de Amamentação.

Tania Brasil: A Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação (Waba, na sigla em inglês) criou, no ano de 1992, a Semana Mundial de Aleitamento Materno, para promover as metas da Declaração de Innocenti, que apresenta quatro objetivos:

- estabelecer um comitê nacional de coordenação da amamentação;

- implementar os dez passos para o sucesso da amamentação em todas as maternidades;

- implementar o Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno e todas as resoluções relevantes da Assembleia Mundial de Saúde;

- adotar legislação que proteja a mulher que amamenta no trabalho.

A Semana é considerada como veículo para promoção da amamentação. Ocorre em 120 países e, oficialmente, é celebrada de 1 a 7/8. A Waba define, a cada ano, o tema a ser trabalhado na Semana, lançando materiais que são traduzidos em 14 idiomas. Entretanto, a data e o tema podem ser adaptados em cada país, a fim de que sejam obtidos mais e melhores resultados do evento.

Por que amamentar é tão importante?

Tania Brasil: Porque o leite materno é completo! Isso significa que, até os 6 meses de vida, o bebê não precisa de nenhum outro alimento (água, chá, suco ou outro leite). Após esse período, a amamentação deverá ser complementada com outros alimentos que serão introduzidos lentamente na alimentação do bebê, conforme a orientação do médico pediatra. Não há idade ideal para que o bebê deixe de ser amamentado, isso vai depender da vontade da mãe e do filho. O Ministério da Saúde preconiza que seja amamentado até os 2 anos ou mais. O leite materno funciona como uma verdadeira vacina, protegendo a criança de inúmeras doenças. Além disso, está sempre pronto e na temperatura ideal. Isso sem falar que a amamentação favorece um vínculo afetivo entre a mãe e o bebê. Crianças que se alimentam de leite materno têm menos risco de sofrer de doenças respiratórias, infecções urinárias e/ou diarreias (problemas que podem levar a internações e até à morte) e, no futuro, certamente, terão menos chance de desenvolver diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. São inúmeras as vantagens da amamentação para a criança, a mãe, a família e a sociedade em geral. O efeito mais dramático da amamentação se dá sobre a mortalidade infantil, graças aos inúmeros fatores existentes no leite materno, que protegem contra infecções comuns em crianças.

Explique o que é ser uma unidade básica amiga de amamentação? Quais são os critérios para essa escolha e o que um centro de saúde precisa para se tornar uma amiga da amamentação?

Tania Brasil: As unidades básicas de saúde podem ser de vários tipos: centros de saúde, postos de saúde, unidades de saúde da família, policlínicas, unidades mistas etc. Essas unidades podem diferir em relação a tamanho, tipo e número de profissionais/pessoal de saúde envolvidos na assistência à saúde, população assistida, ações implementadas, grau de complexidade, adscrição da clientela. Independentemente dessas diferenças, qualquer unidade de saúde que preste atenção primária a gestantes, bebês e suas mães, desde que não esteja vinculada diretamente a um hospital e não realize partos, pode ser caracterizada como uma unidade básica de saúde que pode vir a se tornar uma unidade básica amiga da amamentação, ao cumprir os dez passos para o sucesso da amamentação.

A unidade de saúde é quem faz a opção de se tornar amiga da amamentação. Quando a gerência verifica que a unidade está cumprindo os dez passos, solicita à Secretaria de Estado de Saúde uma pré-avaliação. Caso cumpra 80% dos passos, solicitará a avaliação final.

Existem vários mitos e tabus que vão passando de geração para geração. O que um espaço de saúde pode fazer para interromper esse ciclo?

Tania Brasil: Na verdade, as unidades de saúde não têm a intenção de interromper esse ciclo. Sua missão, em geral, é a formação do profissional de saúde que está pautada pelo conhecimento acadêmico, que, em geral, não leva em conta o saber popular. A assistência à amamentação exige um diálogo entre o profissional de saúde e a mulher que articule dois saberes: o científico e o popular. O profissional de saúde deve procurar perceber a visão de mundo da mulher, reconhecer e aceitar seu conhecimento sobre o assunto, para melhor assisti-la, evitando o confronto de saberes ou atitudes.

Mito ou verdade: o aleitamento exclusivo pode servir como método contraceptivo?

Tania Brasil: Nem um, nem outro. A amenorreia lactacional é o método contraceptivo voltado para a amamentação. A amamentação é um importante meio para o espaçamento das gestações. Como método contraceptivo é 100% eficaz nas primeiras oito semanas pós-parto e tem 98% de eficácia até os seis meses pós-parto, desde que sejam cumpridas quatro condições: bebê menor de 6 meses, aleitamento materno exclusivo (em livre demanda), intervalo de até 4 horas dia/noite e mãe sem sangramento vaginal. Não é verdade dizer que mãe que amamenta exclusivamente não tem risco de nova gestação. Para isto acontecer, a mãe terá de seguir todos esses critérios.

(*Joyce Enzler é jornalista do Teias/Fiocruz)


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