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Estudo traça perfil do usuário de crack no Rio e Salvador

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Publicado em:22/07/2013
“Setenta e oito por cento dos usuários de crack desejam mudar de vida, recebendo tratamento para abandonar o vício.” A afirmação é um dos resultados da pesquisa, desenvolvida pela Fiocruz e o Instituto de Psiquiatria da UFRJ, que traça o perfil dos usuários de crack no Rio de Janeiro e Salvador. Coautora do estudo, a pesquisadora Neilane Bertoni, do Instituto de Informação Científica e Tecnológica da Fiocruz e doutoranda da ENSP, concedeu entrevista ao jornal Extra, no dia 16/7. De acordo com ela, apesar da vontade de procurar o tratamento, os usuários não põem esse desejo em prática.
 
Leia a reportagem completa
 
Extra On-line
Pesquisa revela como vivem usuários de crack no Rio e em Salvador
16 de julho de 2013
 
O vício em cachaça, maconha e crack jogou, em 2011, Fabiano Luiz da Silva Ferreira, de 23 anos, na estrada. Após brigar com a mãe biológica, deixou Juiz de Fora, em Minas Gerais e, após seis dias de caminhada, instalou-se na Avenida Brasil, na altura de Bonsucesso. É lá que ele ainda sonha em voltar para a terrinha e poder dar à mãe adotiva uma casa. Assim como Fabiano, 78% dos usuários de crack desejam mudar de vida, recebendo tratamento para abandonar o vício. O dado consta em uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ e pela Fiocruz, que traça o perfil dos usuários da droga no Rio de Janeiro e em Salvador.
 
- Apesar de responderem que usariam serviços destinados a tratar usuários de drogas se existissem nas comunidades em que vivem, ao serem questionados se já haviam utilizado algum serviço disponível em Manguinhos e no Jacarezinho, onde o estudo foi feito, quase ninguém havia procurado - conta Neilane Bertoni, pesquisadora associada do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz) e coautora da pesquisa.
 
Para Neilane, o estudo aponta um caminho ainda a ser trabalhado:
 
- Eles têm vontade de procurar tratamento, mas não colocam isso em prática. É preciso trabalhar mais a vontade dessas pessoas, indo até elas, oferecendo os serviços, aproximando-as do tratamento. Isso mostra que talvez não seja necessária a internação compulsória, mas, sim, estimular a busca por tratamento - opina.
 
Fabiano, que deixou para trás a mãe adotiva, os seis irmãos, a mulher, os dois filhos, de 2 e 3 anos, e o trabalho de pedreiro, hoje vive das esmolas que ganha em troca dos desenhos feitos em ladrilhos quebrados.
 
- Estou mostrando minha criatividade - diz, sonhando com o caminho de volta.
 
Trabalho para a droga
 
A pesquisa que ouviu 160 usuários de crack revela que 42% e 70% dos entrevistados, respectivamente, do Rio e de Salvador, têm algum trabalho legal ou ilegal. Portanto, recebem algum tipo de remuneração.
 
É o caso de Antônio Carlos Costa. Aos 41 anos, ele não vê os pais, a mulher, a filha de 23 anos e o neto de 5 desde 2008. Depois de brigar com os parentes por causa do vício no álcool e nas drogas, deixou para trás a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, e a função de colocador de esquadrias de alumínio. Hoje, perambula pelo Rio e ganha algum dinheiro como catador de papelão e latinhas para reciclagem.
 
- Minha vida é um abismo chamando outro abismo. O crack veio para me arrebentar - constata Antônio.
 
O perfil traçado pela pesquisa mostra ainda que 17% dos usuários da droga no Rio usam a prostituição - praticada tanto por mulheres como por homens - como forma de obter dinheiro para o consumo. Já para os usuários de Salvador, a porcentagem é de 8%.
 
Copos plásticos são os preferidos dos usuários do Rio (87%) para queimar a pedra, já os de Salvador costumam fumar o crack misturado a cigarros de maconha (34%) ou ao cigarro comum (10%).
 
Mais de 70% passam a viver na rua
 
Aos 18 anos, Anderson dos Santos já perdeu as contas do número de abrigos por que passou desde os 12 anos.
 
- Raul Seixas, Carioca, Antares - enumera ele. - Mas nunca fiquei muito tempo em nenhum. Prefiro a rua. Durmo em São Cristóvão, onde todos me conhecem.
 
Anderson está entre os 77% dos usuários de crack que vivem nas ruas ou em abrigos. No Rio, apenas 18% permanecem morando com a família. Em Salvador, esse percentual é maior: 52% disseram ter moradia estável.
 
Caçula de cinco irmãos, Anderson experimentou maconha aos 8 anos. O crack, conheceu quatro anos depois. Nessa época, já largara a escola no terceiro ano e andava com traficantes da comunidade de Bárbara Corrêa, em Cabo Frio, na Região dos Lagos. Nunca trabalhou.
 
Desde os 16 anos, Anderson já passou cinco vezes pela polícia por roubo e furto. Em todas, ficou cerca de um mês apreendido no Degase, na Ilha do Governador.
 
No último dia 23 de maio, o adolescente foi até o Centro de Referência Especializado de Assistência Social Itinerante, no Parque União. Tomou banho, lanchou e falou com o EXTRA durante três minutos.
 
- Não consigo mais ficar aqui. Estou agoniado.

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