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Fórum de Movimentos Sociais debate protestos no Brasil

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Publicado em:19/07/2013
Fórum de Movimentos Sociais debate protestos no BrasilCom o objetivo de dialogar sobre os protestos que vêm ocorrendo, desde junho, no Rio de Janeiro e em outras cidades do Brasil, o Fórum Movimentos Sociais da ENSP realizou na quarta-feira (17/7), no auditório da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), o debate Movimentos Sociais, democracia e participação popular: um debate sobre os protestos de junho de 2013. No evento, Eduardo Stotz, pesquisador da Escola e representante da articulação do Fórum Movimentos Sociais, destacou que todas as manifestações realizadas no país demostram, cada vez mais, que a sociedade não está inerte politicamente como parecia.

Para dialogar sobre os fatos ocorridos, estiveram presentes o representante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, Vitor Mariano; o representante do Fórum de Estudantes da Escola Nacional de Saúde Pública, Leonardo Vital Mattos; os professores da EPSJV Flávio Serafini e Virgínia Fontes; e o representante do Instituto Raízes em Movimento, Rafael Calazans. O debate foi moderado por Eduardo Stotz, que enfatizou que todas as manifestações que vêm sendo realizadas Brasil afora fazem parte de um fato histórico em nossa sociedade.

Dando início ao debate, Vitor Mariano, representante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, apresentou uma avaliação crítica dos processos de construção dos grandes eventos no Rio de Janeiro. Segundo ele, o Comitê trabalha, desde meados de 2011, com quatro grupos de trabalho (Remoção, Mobilização, Debates e Segurança Pública). Vitor citou o processo de invisibilidade da pobreza no Rio de Janeiro. Para ele, essa é imagem do Rio de Janeiro que está sendo vendida para o mundo.

“Nós nos tornamos um produto, e esse produto precisa ser vendável. Nosso ex-presidente Lula citou que, com a realização da Copa e da Olimpíada, o Brasil conquistou sua cidadania internacional. Resta saber o preço por meio do qual estamos conquistando essa cidadania internacional. Atualmente, no Brasil, cerca de 200 mil pessoas vivem em risco de remoção por causa dos grandes eventos. No Rio de Janeiro, a situação é caótica: cerca de 29 mil pessoas em 39 comunidades sofrem risco de remoção por causa dos megaeventos. Em 27 comunidades, 11 mil pessoas já foram removidas. Isso significa que pelo menos 15 comunidades já foram totalmente removidas do cenário do Rio de Janeiro.”

O Fórum de Estudantes da ENSP também participou do evento, por meio da representação de Leonardo Vital Mattos. Segundo ele, o Fórum se constitui como um espaço de encontro, discussão, integração e articulação dos pós-graduandos da ENSP, com o objetivo de aproximar, refletir e debater tanto questões internas da instituição, no que tange à formação, pesquisa e atuação, como as mais amplas que envolvem o aperfeiçoamento da saúde pública do país, de modo que se incorpore o coletivo de alunos nas pautas do movimento sanitário brasileiro.

Leonardo Vital expôs que, desde o início das manifestações, vem participando ativamente dos protestos. Durante esse tempo, disse ele, vem observando muitas características do movimento popular, como a crise de representatividade, que pode ser expressa pelos lemas sem partido e sem políticos, vistos como formas de manifestação em muitos protestos. “Creio que estamos vivenciando um grande momento. Muitos espaços já estão organizados, muitos ainda vão surgir, e temos muita criatividade e potencial para corrermos atrás de novas reivindicações”, apontou ele. Ao término de sua apresentação, Leonardo leu o poema "O que cabe em vinte centavos?", escrito por Lucas Bronzatto, também representante do Fórum de Estudantes da ENSP. (Leia o poema, que tematiza as manifestações, no fim desta matéria.)

Participação social e manifestações 

Para o representante do Instituto Raízes em Movimento e ex-aluno da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Rafael Calazans, o que importa agora é saber qual será o rumo dessas manifestações e o que acontecerá daqui para frente. Rafael, que representa a comunidade do Complexo do Alemão, citou que, nesses territórios, as pessoas estão muito acostumadas a manifestações e mobilizações, porém por outros motivos. “A rua, agora, é o nosso lugar de exigência”, disse ele. Por fim, Rafael questionou a produção midiática da favelização.

O professor Flavio Serafini, da Escola Politécnica de Saúde, pontuou alguns elementos durante sua apresentação. Para ele, manifestações como as que vêm ocorrendo nas principais capitais do país não acontecem aleatoriamente, mas fazem parte de um conjunto global de situações que precisam ser questionadas. “O movimento das passagens foi apenas uma fagulha para vir à tona tudo aquilo que precisava ser posto em questão há muito tempo. As manifestações e a magnitude delas não foram previsíveis, mas, com certeza, depois de tudo que está acontecendo, um ponto de inquietação está mais visível”, afirmou.

Flavio ainda abordou a corrupção em torno dos grandes eventos. Segundo ele, durante as manifestações, muitos cartazes estampavam o bordão “Da Copa eu abro mão. Eu quero é dinheiro pra saúde e educação”, o que demonstra a insatisfação da população com relação à verba destinada aos grandes eventos. Ele pontuou também a atuação violenta da polícia brasileira nas recentes manifestações e em tantas outras situações. De acordo com Flavio, entre 2001 e 2010, 10 mil pessoas foram mortas pela atuação da polícia no Brasil. Tais números são os mais altos do mundo.

Por fim, a professora Virgínia Fontes, que atua ativamente em alguns movimentos sociais, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), parabenizou a retomada das atividades do Fórum de Estudantes da ENSP e ressaltou que esse tipo de espaço é uma conquista para a saúde pública. Em sua apresentação, ela citou que as lutas ocorrem desde sempre, porém, hoje, ela possui outras reivindicações. “Hoje, nossas reivindicações emergem em novas condições, baseadas nos problemas estruturais da nossa sociedade.”

Finalizando, Virginia destacou também o papel das mídias e o uso das novas tecnologias da informação no contexto das manifestações. Segundo ela, as grandes mídias precisam mostrar todos os pontos de vista, não apenas os que atendem aos seus interesses. “Hoje, contamos com outros recursos e, com o uso massivo das novas tecnologias da informação, temos acesso a todos os pontos de vista, não apenas os querem que a gente veja.”

O que cabe em vinte centavos? 
Por Lucas Bronzatto
 
Em vinte centavos cabem os 7,2% que faltavam
pra inteirar 327% de aumento desde 2000
cabem avenidas humanas
corredores de gente
cabe uma refeição pulada uma catraca pulada
não cabe aumento no salário do cobrador
nem do motorista
cabe a diferença entre preço e valor
cabe impedir de ir e vir
pra lembrar que nem todos podem ir nem vir
cabem cidades virando balcões de negócio
cabe rimar transporte com direito
cabe decretar falência
de ordens e órgãos de um sistema que não serve
nem nunca serviu
cabe a palavra basta
e tudo que ela carrega
 
Em vinte centavos cabem cartazes bandeiras
faixas máscaras megafones flores e poemas
cabe cutucar sonhos adormecidos
desmascarar conservadores enrustidos
despolarizar falsas polaridades
cabe polarizar
politizar
fazer política com as próprias mãos e bocas e pernas
e pedras pra se defender se for preciso
vai ser preciso porque isso aqui é ditadura disfarçada
com outra cor de farda
e não, não será televisionada
nem compreendida
nem contextualizada
dos dois lados da moeda só a coroa será mostrada
serão coroadas as coronhas os gases
e os ases da violência autorizada
a bala é de borracha a bala é de borracha
e vai doer
vai doer
 
Em vinte centavos cabem paródias olê-olás
gritos de torcidas e de guerra
cabe escancarar a guerra silenciosa
cabe Turquia cabe Grécia
duas moedas pra tirar as cidades da inércia
cabe reforçar o coro dos gritos do campo e das florestas
onde as balas de metal matam cada dia mais
não, não é só a passagem
é dar passagem pra sonhos e gritos entalados
 
zero vírgula dois vírgula!
o que as ruas pedem é outro país
 

 


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