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Médicos estrangeiros: solução ou paliativo para o SUS?

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Publicado em:25/06/2013

Médicos estrangeiros: solução ou paliativo para o SUS?Você é a favor de que o governo brasileiro traga médicos do exterior para trabalharem no Sistema Único de Saúde? Essa foi uma das propostas apresentadas pela presidente da República, Dilma Rousseff, à população brasileira durante seu discurso, no dia 21 de junho, em resposta à série de manifestações que vêm ocorrendo pelo país. O blog Saúde em Pauta da ENSP quer ouvir as comunidades científica, acadêmica e a sociedade civil sobre essa questão e ampliar o debate a respeito de quais são, atualmente, as reais necessidades enfrentadas pelo SUS. Acesse o blog, participe, deixe sua opinião e ajude a construir um SUS para todos!

Duas entidades da saúde coletiva brasileira – o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) – já se posicionaram e publicaram um manifesto apontando alguns caminhos para a saúde no país, ressaltando que “essa estratégia, que deve ter caráter de solução emergencial e provisória para a escassez desses profissionais em algumas áreas do país, não resolverá os nossos persistentes, graves e complexos problemas da saúde”. Confira, a seguir, a íntegra da nota publicada na parceria Cebes/Abrasco.

A Saúde que queremos: pública, gratuita e de qualidade

Nós, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), como entidades do Movimento da Reforma Sanitária pela democratização e direito universal à saúde, celebramos a presença da saúde entre as pautas dos movimentos sociais nas ruas das nossas cidades.

Queremos ainda nos manifestar quanto ao discurso da Sra. Presidenta da República, que mostra sensibilidade para ouvir as vozes das ruas, mas que apresenta como única proposta para a melhoria de saúde do povo brasileiro a importação de médicos estrangeiros.

Esta estratégia, que deve ter caráter de solução emergencial e provisória para a escassez desses profissionais em algumas áreas do país, não resolverá os nossos persistentes, graves e complexos problemas da saúde.

Senhora Presidenta, senhores governantes, senhores dirigentes de partidos, senhores parlamentares: quando o povo clama por mais saúde, precisamos pensar e agir por acesso universal e gratuito, serviços de qualidade e atendimento integral e resolutivo.

A política governamental deve ainda ter como um de seus objetivos centrais eliminar as intoleráveis desigualdades e iniquidades em saúde, incompatíveis com o desenvolvimento do país.

É imprescindível a retomada da saúde no contexto da Seguridade Social, como direito social articulado aos demais setores de bem-estar social. Saúde deve estar no centro do projeto de desenvolvimento econômico e social, não apenas porque é um importante setor da economia, mas por ser essencial para a qualidade de vida da população.

O caminho para atingir o objetivo da melhoria da assistência é a consolidação do projeto constitucional do Sistema Único de Saúde, que deve ser implementado sob o primado do interesse público e não dos interesses de grupos vinculados ao mercado.

É necessário mais recursos para a saúde para realizar mais investimento na infraestrutura dos serviços, equipamentos, carreiras profissionais, insumos e em todas as garantias para o bom funcionamento dos serviços públicos.

É preciso regular e frear a perversa mercantilização da saúde já percebida e rejeitada pela população. Isso é o que o povo necessita e o que deve ser ouvido das ruas nesse importante momento para a democracia nacional.

Estes são os compromissos que o Estado Brasileiro, a sociedade e os governos devem assumir para a melhoria efetiva da Saúde:

Por 10% das Receitas Brutas da União para a Saúde;

Por destinação de parcela dos Royalties do petróleo para a Saúde;

Pelo reestabelecimento do Orçamento da Seguridade Social e da Saúde;

Por investimentos na ampliação e melhorias imediatas na rede pública do SUS;

Por planos de cargos e salários para trabalhadores do SUS;

Pelo Serviço Civil para profissionais de nível superior de saúde;

Pelo acesso universal a medicamentos em todo território nacional;

Contra a mercantilização e a privatização da saúde;

Contra subsídios públicos aos Planos Privados de Saúde e pelo ressarcimento ao SUS;

Contra o capital estrangeiro nos serviços de assistência à saúde.

Participe do debate:

Entendendo que esse debate vai muito além de médicos estrangeiros atuando no SUS, a ENSP quer ouvir a opinião de todos a partir de diversos pontos de vista: trazer tais profissionais é uma solução? Os recursos destinados para a Saúde são suficientes ou estão mal geridos? E a importância da revalidação dos diplomas desses médicos? Como fica a luta pelo fim da privatização da saúde? Esses são alguns pontos que devem ser levados em conta e explorados em um debate aberto e respeitoso.

Acesse http://saudeempauta.ensp.fiocruz.br e deixe sua opinião!


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2 comentários
LIGIA GIOVANELLA
26/06/2013 15:39
Não existe norma global quanto ao número ideal de médicos, pois a necessidade desse profissional está condicionada à forma de organização do sistema de serviços de saúde e da participação e distribuição de tarefas com outros profissionais na equipe. Ainda assim, a comparação internacional permite mostrar que a oferta de médicos no Brasil é insuficiente em diversas regiões do país. Nos países da OECD em 2010 a relação de médicos por habitante era de 3,1 médicos por mil habitantes, em média, com variação entre os países, como, por exemplo, em alguns desses países com sistemas universais de saúde: na Espanha, Suécia e Portugal a relação é de 3,8 médicos por mil habitantes; na Alemanha e Itália é 3,7, no Reino Unido 2,7 (nos EUA é de 2,4 médicos por mil habitante). Tomando outros exemplos da América do Sul, a Argentina dispõe de 3,2 médicos por mil habitantes, e o Uruguai 2,9. Assim pode-se dizer que em comparação internacional, a relação do número total de médicos em atividade (disponíveis para o SUS e serviços privados) por habitante no Brasil é baixa, principalmente quando observamos a distribuição regional. No Brasil a média é de 1,86 médicos por mil habitantes, observando-se intensas desigualdades regionais com concentração dos profissionais na região sudeste (2,5), e em alguns estados como o Rio de Janeiro (3,5) e São Paulo (2,5), e no Distrito Federal (3,6) como pode apresentado na tabela 1 a partir de dados do IDB para 2010. Em diversos estados do norte e nordeste do país, a disponibilidade é muito baixa: menos de 1 médico por mil habitantes, como por exemplo Pará (0,77) e Maranhão (0,55). Tabela 1 Médicos p/1.000 hab por Região e Unidade da Federação; Brasil, 2010 Região e Unidade da Federação e Médicos_p/1.000_hab Região Norte 0,9 .. Rondônia 1,03 .. Acre 0,92 .. Amazonas 1,07 .. Roraima 1,24 .. Pará 0,77 .. Amapá 0,75 .. Tocantins 0,99 Região Nordeste 1,09 .. Maranhão 0,53 .. Piauí 0,93 .. Ceará 1,06 .. Rio Grande do Norte 1,23 .. Paraíba 1,19 .. Pernambuco 1,37 .. Alagoas 1,17 .. Sergipe 1,30 .. Bahia 1,12 Região Sudeste 2,51 .. Minas Gerais 1,82 .. Espírito Santo 1,93 .. Rio de Janeiro 3,52 .. São Paulo 2,50 Região Sul 2,06 .. Paraná 1,97 .. Santa Catarina 1,68 .. Rio Grande do Sul 2,37 Região Centro-Oeste 1,76 .. Mato Grosso do Sul 1,46 .. Mato Grosso 1,14 .. Goiás 1,40 .. Distrito Federal 3,61 Total 1,86 Fonte: Ministério da Saúde/SGTES/DEGERTS/CONPROF - Conselhos profissionais Assim concordo plenamente com o posicionamento do Cebes e Abrasco que apoiam esta iniciativa, ressalvando, contudo, que a importação de médicos estrangeiros deve ter caráter de solução emergencial e provisória para a escassez desses profissionais em algumas áreas do país. Sem negar os avanços de acesso a serviços de saúde possibilitados pela implementação do SUS, neste momento em que a garantia de serviços públicos de qualidade toma as ruas, é necessário analisar criticamente os problemas do SUS que são muito mais abrangentes e carecem de estratégias de enfrentamento que ultrapassam em muito a disponibilidade de médicos no país. Sem enfrentar o subfinanciamento crônico do SUS com aplicação de recursos públicos de apenas 3,7% do PIB (em comparação com países com sistemas universais nos quais se aplicam recursos públicos na ordem de 7 a 8% do PIB), sem ampliar a oferta pública, ressalto pública, de hospitais, serviços especializados e de diagnose, sem estratégias de planejamento ascendente, regional, das necessidades de oferta de serviços de acordo com as necessidades de saúde da população para a construção de redes regionalizadas ordenadas pela atenção primária, não será possível a efetivação de um sistema público de saúde de qualidade, como clama a população nas ruas. Ademais da garantia de boas condições de trabalho, com infra-estrutura adequada e salários condizentes, os problemas da gestão do trabalho no SUS ultrapassam em muito a escassez de médicos. Uma proporção elevada dos vínculos para trabalho no SUS são precários, sem segurança de continuidade, ou terceirizados, ou sem vínculo qualquer, ou por bolsas. Raros são os municípios que realizam concursos públicos para médicos e quando realizam os salários ofertados são muito baixos. Estudos sobre a implementação da Estratégia Saúde da Família que realizamos mostraram maior fixação dos médicos nas cidades que realizaram concursos públicos e garantiram melhores condições de trabalho. Este momento em que o governo colocou na pauta nacional o tema da insuficiência de médicos, é o momento propício para finalmente se estabelecer uma carreira nacional para os trabalhadores do SUS com regulamentação geral nacional, aplicação estadual e obrigatoriedade de cumprimento municipal, de modo que os médicos possam de fato aderir ao trabalho no SUS.
SERGIO BRAGA DE MELLO
25/06/2013 17:00
Acho que a contratação de médicos não é a panacéia para o Sistema Único de Saúde. Além de um bom salário, deve haver um plano de Carreira para médicos dentro do Ministério da Saúde, válido para todas as esferas de governo: União, Estados e municípios. Além de um bom salário é necessário boas condições de trabalho, principalmente em pequenos hospitais do interior. sem ter bons equipamentos a seu alcance é impossível fazer uma boa medicina. Se o paciente morre, por falta de equipamentos, a culpa sempre recairá sobre o médico. A Justiça não quer saber se o hospital ou o posto de saúde seja mal equipado e sempre culpará o médico. Acho também que a contratação de médicos estrangeiros será problemática sobretudo porque sua experiência epidemiológica aprendida em seu país é bem diferente de nosso país, que tem características especiais, variando de Norte a Sul.