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Novo diretor apresenta desafios e perspectivas para sua gestão

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Publicado em:24/05/2013

Há 25 anos, o médico pneumologista Hermano Castro integra o quadro profissional da ENSP/Fiocruz. Ao longo desse período foi eleito quatro vezes coordenador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) da ENSP/Fiocruz, atuando ainda em várias pesquisas no campo da Saúde Coletiva, principalmente em temas como: Políticas de Saúde do Trabalhador e Saúde Ambiental ou Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais (pneumoconioses, silicose, asbestose e doenças respiratórias) relacionadas à qualidade do ar. Essas são algumas das credenciais que o tornaram o novo diretor eleito da Escola para o quadriênio 2013-2017.

Em sua primeira entrevista como diretor da ENSP, Hermano Castro apresenta um amplo panorama do que pretende, com apoio das instâncias deliberativas da Escola, desenvolver e dar continuidade ao crescimento da instituição. E os desafios não são poucos. Um deles é ampliar o papel da pesquisa, garantindo que essa produção se traduza em melhorias das condições de saúde, trabalho e vida para a população brasileira. O médico segue defendendo o papel de protagonismo da ENSP pela não privatização do SUS.

Sua nova gestão pretende priorizar também uma reforma do ensino na Escola, além de criar a Vice-Direção de Serviços de Referência, que terá como responsabilidade acompanhar o cumprimento da política da qualidade nos centros acreditados da ENSP (Cesteh e CSEGSF), tudo isso aliado à uma comunicação e informação para todos.

Confira, abaixo, a entrevista do novo diretor Hermano Castro.

Informe ENSP: Você considera que sua experiência como gestor do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) e o fato de ter participado do CD-ENSP e dos Congressos Internos da Fiocruz contribuíram para amadurecer suas ideias e propostas em busca de um novo modelo de gestão na Escola?

Novo diretor apresenta desafios e perspectivas para sua gestãoHermano Castro: Certamente. Em primeiro lugar, essas experiências me permitiram conhecer novos modelos de gestão da administração pública, bem como abriram espaço para uma escuta mais detalhada dos problemas enfrentados por cada setor, departamento, centro e núcleo da ENSP no dia a dia de seu trabalho. Além disso, essa experiência me aproximou de novos colegas, junto com os quais venho construindo nossa proposta de gestão, a qual se consolida, a cada dia, no sentido de conformar um Plano de Trabalho para o quadriênio que se inicia agora.

Informe ENSP: Você pretende manter, com o apoio do Conselho Deliberativo da Escola, o organograma atual da instituição? Isso está em sua pauta? Já pode anunciar os nomes de quem assumirá cada Vice-Direção da ENSP?

Hermano Castro: Toda a discussão em torno do organograma da Escola vem se dando no processo de construção de nosso Regimento Interno. Essa discussão, que foi consensualmente interrompida durante o processo eleitoral, será retomada agora, como ação prioritária de nossa gestão, para a qual contamos desde já com a ampla participação de todos.

Quanto à equipe que assumirá as Vices-Direções da Escola, fico gratificado em poder contar com profissionais que muito se dedicam a tornar, cotidianamente, a ENSP uma instituição cada vez mais forte e respeitada nacional e internacionalmente. Na Vice-Direção de Desenvolvimento Institucional e Gestão, contaremos com o professor Alex Molinaro, do Departamento de Ciências Sociais. Na Vice-Direção de Escola de Governo, o professor Frederico Peres, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Na Vice-Direção de Pós-graduação, a professora Tatiana Wargas, do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde. E na Vice-Direção de Pesquisa, a professora Sheila Ferraz, do Departamento de Endemias Samuel Pessoa.

Informe ENSP: Muitos dizem que a ENSP, nos últimos anos, tornou-se uma Escola voltada mais para a gestão do SUS. Sem deixar a importância fundamental da gestão de lado, mas podemos dizer que o papel da pesquisa será ampliado na sua Direção? Programas como o Inova-ENSP, que fomentam a pesquisa na instituição, serão mantidos?

Hermano Castro: A pesquisa é uma de nossas áreas estratégicas, que está intimamente ligada à nossa missão institucional. Nesse sentido, o papel da Direção será o de apoiar o desenvolvimento constante de nossos grupos de pesquisa, assim como o de ampliar o apoio aos grupos emergentes existentes em nossa Escola, incluindo aqueles liderados por pesquisadores que não estão inseridos nos programas de Pós-graduação stricto sensu. Além disso, é necessário garantir a continuidade de programas de incentivo à pesquisa como o Inova-ENSP.

Com relação a esse Programa (Inova-ENSP), acho importante destacar que a concepção de ‘Inovação Científico-Tecnológica em Saúde Pública’ precisa considerar tanto o caráter interdisciplinar do campo (e, portanto, a necessidade da integração de diferentes projetos e grupos de pesquisa), como a relação entre teoria e prática no enfrentamento das inequidades em saúde. Essa última dimensão (aproximação teoria-prática) é uma contribuição que a ENSP deve oferecer, a partir da atuação de centros como o Cesteh, o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF) e o Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF), assim como dos laboratórios departamentais. Apenas para citar o CSEGSF, temos ali um lócus privilegiado, com experiência e capacidade, para o desenvolvimento de pesquisas e modelos efetivamente inovadores que nos permitam repensar a Atenção Básica.

Adicionalmente, precisamos, cada vez mais, garantir que os produtos de nossas pesquisas sejam efetivamente revertidos em melhorias das condições de saúde, trabalho e vida para a população brasileira. Nesse sentido, daremos especial atenção ao apoio e incentivo à pesquisa translacional na Escola.

Informe ENSP: Uma de suas propostas de campanha é aprofundar a relação da Escola com os movimentos sociais. Explique melhor essa ideia.

Hermano Castro: Como disse, é preciso garantir que nossa produção se traduza em melhorias das condições de saúde, trabalho e vida para a população brasileira. Nesse aspecto, a articulação com os movimentos sociais (aí incluídos o sindical e o ambiental, entre outros) é fundamental. Está na hora da ENSP se consolidar como uma ‘comunidade ampliada de pares’, criando e fortalecendo espaços de diálogo com movimentos sociais e organizando formas de conhecer a realidade a partir dos problemas e das tentativas de enfrentá-los junto a esses movimentos. Esta é nossa concepção de cooperação social, concepção essa que não pode se distanciar da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico na Escola. Nesse sentido, não buscamos apenas uma cooperação social capaz de captar recursos para projetos de inclusão social, mas sim a participação desses movimentos, junto à ENSP, na reflexão sobre os desafios da Saúde Pública e na sua própria formação para o enfrentamento desses desafios.

Além disso, vamos criar na ENSP o Fórum dos Movimentos Sociais, com a participação dos professores e pesquisadores cujos projetos atuem em parceria com as diferentes representações do movimento social na Escola.

Informe ENSP: A ENSP, como a maior instituição de Saúde Pública da América Latina, tem o papel de defender os princípios e diretrizes do SUS, correto? Isso significa lutar contra a privatização do Sistema Único de Saúde?

Hermano Castro: A ENSP foi, e segue, sendo uma das protagonistas da história de conquistas da saúde no país, contribuindo fortemente para a construção do SUS, maior patrimônio da Saúde Pública brasileira. Venho repetindo tal afirmação nos últimos meses, por acreditar que vivemos um momento importante na história da Saúde Pública no país, onde se discute as estratégias para o ‘salvamento’ do SUS e a busca por melhorias na atenção a saúde da população brasileira. Sigo com a forte convicção que a defesa do SUS não pode partir da ideia, muito difundida e aceita, inclusive, por diversos grupos que fizeram parte dessa história de reforma sanitária, que o setor privado salvará a saúde da crise que hoje enfrenta.

Da mesma forma que o movimento da reforma sanitária, à sua época, conformou-se como um projeto contra-hegemônico, faz-se necessário, hoje, retomar e fortalecer, na ENSP, um movimento em defesa do SUS público, estatal, gratuito e para todos, deixando claro o seu posicionamento contra a privatização da saúde.

Nesse sentido, e reconhecendo que a ENSP tem um papel importante na Rede Latino-americana de Escolas de Saúde Pública/Escolas de Governo em Saúde, acredito que devemos incluir, cada vez mais, nossos parceiros da Medicina Social Latino-americana nesse movimento pela garantia do direito à saúde e seguridade social.

Informe ENSP: No campo do ensino, a Escola conta com quatro programas que compõe o seu stricto sensu (três exclusivos da ENSP e um em parceria com outras instituições). Você acredita ser necessária uma reformulação deles, ou até mesmo uma divisão em novos programas, se for o caso, visando melhores avaliações junto a Capes? E suas ideias para os cursos lato sensu, quais são?

Hermano Castro: O Ensino se confunde com a missão histórica da ENSP. É o nosso principal eixo organizador e razão de sermos uma Escola Nacional e de Estado. Nos últimos anos, entretanto, em razão do aumento da demanda por cursos, da fragmentação da área de ensino na estrutura da Direção, do acúmulo de atividades de grande parte do nosso corpo docente e de dificuldades estruturais (que vão desde a carência de salas de aula até a ausência de espaços para a interação e o acolhimento de nossos alunos), entre outros problemas, vimos observando a necessidade de um cuidado mais intenso com o ensino na ENSP.

Como já tive a oportunidade de dizer, é nosso compromisso priorizar uma reforma do ensino na Escola que busque, no escopo da discussão de nosso Regimento Interno, a reestruturação da área na Direção da ENSP. Além disso, torna-se essencial o enfrentamento de problemas como a oferta (limitada) de salas de aula e espaços para o acolhimento dos alunos na ENSP, a necessidade de uma maior articulação entre o ensino lato e o stricto sensu e a identificação de indicadores de avaliação e acompanhamento de alunos e egressos, que permitam subsidiar uma Política de Qualidade para o ensino, entre outros.

Uma vez enfrentadas essas questões emergenciais, é preciso pensar e construir, coletivamente, uma Política de Ensino para a ENSP (incluídos aí a Pós-graduação stricto sensu, o lato sensu e a Educação a Distância), alinhada à nossa missão institucional e intimamente associada à pesquisa, aos serviços de referência e ao desenvolvimento tecnológico na Escola. Uma política que sirva para nortear os diferentes percursos acadêmicos que levam à formação de profissionais de saúde, novos pesquisadores e agentes sociais. Uma política que busque, também, valorizar cada vez mais a produção do conhecimento e a formação de profissionais voltados à melhoria da qualidade dos serviços e da gestão do SUS, garantindo, de fato, nosso papel de Escola de Estado em Saúde.

Informe ENSP: A Assistência foi uma das áreas que cresceu bastante na instituição nos últimos anos, inclusive com a acreditação do CSEGSF e do Cesteh. Como manter a Escola nesse topo?

Hermano Castro: A acreditação de serviços de referência é um passo fundamental para o crescimento e o desenvolvimento institucional, dentro de uma Política de Qualidade. É impossível, hoje, pensarmos em cooperação na área de assistência sem a garantia da qualidade de nossos serviços. E a acreditação é o processo que nos coloca no caminho da gestão de serviços com qualidade. Como todo processo, é dinâmico e, nesse caso, continuado. Acreditação não é um certificado; acreditação é o dia a dia! Por isso, daremos prioridade à criação da Vice-Direção de Serviços de Referência, que já nasce com a responsabilidade de acompanhar o cumprimento da política da qualidade nos centros acreditados (Cesteh e CSEGSF), dando o apoio necessário à manutenção da acreditação, assim como à sequência do processo de acreditação dos serviços do CRPHF.

Informe ENSP: Uma instituição pública tem por dever estar sempre em contato com a sociedade, prestando contas do que é desenvolvido por ela. E a comunicação tem um papel fundamental nisso. A ENSP possui três grandes nortes de comunicação: a científica, através dos Cadernos de Saúde Pública, a voltada para o SUS, que é a Revista Radis e a comunicação institucional, através do Portal da Escola, do Informe ENSP e das redes sociais. Então, esses veículos continuarão fortalecidos em sua gestão?

Hermano Castro: É impossível dissociar as pesquisas feitas aqui na ENSP das estratégias de informação e comunicação que desenvolvemos. Certamente, pretendo seguir apoiando essas iniciativas de comunicação e informação, com adequadas condições orçamentárias, de trabalho e articulação, respeitadas as suas especificidades e autonomia, para continuarem a reforçar o protagonismo e a contribuição da ENSP junto à comunidade científica, o SUS e a sociedade.

Quanto ao alcance de nossos canais de comunicação, noto ainda a necessidade de termos um canal ou meio que dialogue mais diretamente com a sociedade como um todo, com um cuidado especial com adequação da linguagem e da forma à audiência mais ampla.

Além disso, acredito ser necessário institucionalizar a presença desses setores (comunicação e informação) no processo de gestão participativa da Escola e, de forma compatível com suas características, na estrutura organizacional a ser discutida e instituída no Regimento Interno. Por isso, assumi o compromisso de apoiar a construção de uma Política institucional de Comunicação e Informação na ENSP, contribuindo para transversalizar, de fato, esses setores nos diferentes processos de trabalho na Escola. Para tanto, estamos criando o Fórum de Comunicação e Informação, com o objetivo de apoiar a Direção nesse processo de construção da Política para a área.

Informe ENSP: Para encerrar, que mensagem você, Hermano Castro, deixa como novo diretor da Escola para todos aqueles que estão lendo essa entrevista e acreditando em um novo modelo de gestão da ENSP.

Hermano Castro: Primeiramente, sinto-me honrado por poder fazer parte, como diretor, da história da ENSP. Desde meu ingresso aqui, há 25 anos, até esse momento, pude viver essa Escola como médico, pesquisador, aluno e gestor, e tenho a plena ciência da enorme responsabilidade que é conduzir uma instituição do porte da ENSP. Com muita serenidade, pretendo dialogar francamente com os diferentes setores, centros, departamentos e núcleos da Escola, aguçando a escuta e transformando necessidades em metas e ações. Mais que um novo modelo de gestão, pretendo ter como balizadora a busca constante pelo aprimoramento dos mecanismos existentes, tornando mais ágeis e eficientes os mais diversos processos que conformam a gestão de uma Escola Nacional de Saúde Pública.

Para tanto, o Programa de Trabalho que estaremos consolidando nas próximas semanas deverá partir de duas premissas básicas. A primeira, a necessidade de construirmos um conjunto de instrumentos voltados para uma gestão menos centralizada e mais participativa. A segunda premissa está na ideia de somente ser possível alcançar a eficiência na gestão de uma organização complexa como a ENSP quando os diferentes setores participam, efetivamente, do processo decisório e de gestão. Em ambas, os departamentos, núcleos e centros que formam a estrutura organizacional de nossa Escola, bem como os diferentes setores da administração, têm papel fundamental.

Quero, por fim, deixar registrado aqui, também, meu compromisso em buscar sempre melhores e mais agradáveis ambientes de trabalho na ENSP. Nosso Plano de Trabalho deverá partir do princípio que o conjunto de trabalhadores da Escola – servidores, terceirizados, bolsistas etc. – deve encontrar condições favoráveis e saudáveis para o desenvolvimento de suas atividades de trabalho e são incluídos em uma política permanente de qualificação e desenvolvimento profissional.

Seguimos juntos por uma ENSP cada vez melhor, mais forte e relevante para a população e o Estado brasileiro.


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1 comentários
ANDRÉ LUIZ LIMA DE LACERDA
25/05/2013 12:57
Novos desafios, novos momentos, nova gestão... Acabamos de dar o primeiro passo nesta nova caminhada...Boa sorte e sucesso...André Lacerda.