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Uso de medicamentos em crianças requer maior cuidado

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Publicado em:19/04/2013

“Existem muitas características que tornam o uso de medicamentos em crianças algo extremamente preocupante. Não estão sendo estudadas e levadas em consideração as especificidades com essa área da terapêutica; 50% do uso de medicamentos em crianças não é baseado em evidências satisfatórias, e, em neonatos, esse número chega a 90%. Somos totalmente carentes de formulações adequadas para essa idade”, enfatizou a professora de Farmacoepidemiologia da Universidade Federal do Ceará e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS), Helena Lutéscia Luna Coelho, no Centro de Estudos da ENSP (Ceensp), realizado na quarta-feira (17/4). O evento encerrou o ciclo de atividades do seminário internacional Pesquisa em Farmacoepidemiologia na América Latina, promovido pelo Núcleo de Assistência (NAF/ENSP). A atividade contou também com a participação do pesquisador do Karolinska Institutet (KI) e gestor do Stockholm County Council (SLL), Björn Wettermark, e do pesquisador do KI e da University of Strathclyde, Brian Godman. O áudio e as apresentações da palestra estão disponíveis na Biblioteca Multimídia da ENSP.

A palestra foi moderada pelo coordenador científico do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), Carlos Morel, e coordenada pela pesquisadora do NAF Claudia Garcia Serpa Osório de Castro. Os especialistas debateram o uso de medicamento em crianças; as reformas e atividades em torno da prescrição médica na Suécia; e a melhora na qualidade e eficiência da prescrição médica, com o exemplo do uso de medicamentos genéricos. O Ceensp teve início com a exposição da professora Helena Lutéscia Luna Coelho, que apresentou a pesquisa Estudo da Utilização de Medicamentos em Pediatria, desenvolvida pelo grupo de pesquisa Melhores Medicamentos para Crianças (MeMeCri), do Drug Utilization Research Group Latinamerica (DURG-LA).

Uso de medicamentos em crianças requer maior cuidadoO DURG corresponde a uma rede de pessoas e grupos que trabalham na área da farmacoepidemiologia na América Latina. Na ocasião, a pesquisadora compartilhou sua grande preocupação com essa área da terapêutica, destacando que a preocupação não se limita apenas ao Brasil. “Não há justificativa alguma para a carência de medicamentos voltados para crianças no Brasil. Até o momento quase nada foi feito e corremos o risco de pagar um preço muito alto por inovações terapêuticas que temos plena capacidade de desenvolver”, apontou a professora.

Para ela, o grau de incerteza presente na prescrição de pediatria é muito maior que para pacientes de qualquer outra idade. Com relação à efetividade e segurança de medicamentos em crianças, Helena afirmou que “existem poucos estudos clínicos em crianças, e há grande carência de medicamentos apropriados à idade, poucos estudos de efetividade e segurança em longo prazo”. Por fim, Helena apontou algumas barreiras no desenvolvimento de medicamentos pediátricos no Brasil. Entre elas, a restrição do mercado farmacêutico (menos de 10% do mercado farmacêutico total), a predominância de medicamentos fora de patente, a baixíssima incidência de doenças crônicas em crianças em relação aos adultos e os altos custos tanto para pacientes como na complexidade do desenvolvimento de medicamentos.

Uso de medicamentos em crianças requer maior cuidadoEm seguida, o pesquisador do Karolinska Institutet (KI) e gestor do Stockholm County Council (SLL), Björn Wettermark, deu início à sua fala apresentando um pouco dos sistemas de saúde da Suécia e suas particularidades. Na região, o sistema de saúde é totalmente financiado por impostos, as responsabilidades com a saúde são divididas na esfera regional, local e nacional. E, ainda, o sistema é organizado de forma independente de garantias, além de possuir historicamente uma forte investigação clínica e ter passado por muitas e recentes reformas farmacêuticas.

De acordo com o pesquisador, na Suécia, foram realizadas diversas reformas para promover o uso racional de medicamentos, tanto na esfera regional como na nacional.Uma das medidas adotadas para isso, na esfera nacional, por exemplo, foi a transferência do custo-responsabilidade do Estado para as regiões e a substituição de medicamentos patenteados por genéricos. Nessa esfera, as medidas compreenderam a criação de comitês terapêuticos e a elaboração de sistemas eletrônicos de apoio à decisão. Björn apresentou alguns estudos de utilização de medicamentos como ferramenta na promoção do uso racional. Monitoramento contínuo das despesas, compreensão e variação regional do uso de drogas, desenvolvimento e uso de indicadores de qualidade na prescrição médica foram alguns dos aspectos principais analisados nas pesquisas. Por fim, o pesquisador ressaltou que promover mudança no sistema de saúde é relativamente fácil; difícil é mudar o hábito dos médicos para que o processo comece e termine corretamente.

Uso de medicamentos em crianças requer maior cuidadoFinalizando o Ceensp, o pesquisador do KI e da University of Strathclyde, Brian Godman abordou como os estudos em farmacoepidemiologia estão envolvidos na tomada de decisão para os sistemas de saúde. Brian apresentou um pouco da situação dos medicamentos genéricos no mundo. De acordo com ele, os genéricos são vistos como drogas de segunda classe e sofreram alguns problemas na Europa. O pesquisador apontou também a questão dos gastos com medicamentos. Segundo ele, na Europa, eles representam 50% dos gastos em saúde. Brian destacou também que, na Europa, a fixação de medicamentos genéricos não é diferenciada por regiões; porém, alguns países promovem grande esforço para que os médicos prescrevam medicamentos genéricos e entendam seus muitos benefícios.


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