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Maioria dos policiais do RJ faz uso de álcool e tabaco

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Publicado em:11/04/2013

Maioria dos policiais do RJ faz uso de álcool e tabaco"O uso de drogas é um fenômeno que acontece na sociedade e não será diferente nas corporações." Essa é uma das afirmações do artigo "Consumo de substâncias lícitas e ilícitas por policiais da cidade do Rio de Janeiro", incluído na última edição temática da revista Ciência e Saúde Coletiva. A publicação trouxe uma série de artigos que abordam, entre outros aspectos, as condições de vida, saúde e trabalho dos profissionais de segurança pública. Assinam o artigo as pesquisadoras Edinilsa Ramos, Patrícia Constantino, Miriam Schenker e Bruna Soares Chaves Correia, todas do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência Jorge Carelli (Claves/ENSP).

No texto, as autoras ressaltam a necessidade de as Polícias Civil e Militar refletirem sobre o assunto, para oferecer aos seus membros que utilizam tais substâncias um atendimento de qualidade. O objetivo do artigo foi investigar o consumo de substâncias lícitas e ilícitas por policiais da cidade do Rio de Janeiro, a partir dos dados de duas pesquisas empíricas desenvolvidas pelo Claves/ENSP. As pesquisas originais forneceram um amplo panorama sobre as condições de trabalho, saúde e qualidade de vida de policiais civis e policiais militares atuantes na capital fluminense. Segundo dados do estudo, o Relatório Mundial sobre Drogas aponta que uma em cada cem mortes de adultos é atribuída ao uso de drogas ilícitas. Entre elas, as mais utilizadas no mundo são a Cannabis (prevalência anual entre 2,6% e 5,0%) e os estimulantes anfetamínicos (excluindo o ecstasy), com prevalência de 0,3% a 1,2%.

Na população adulta mundial, a prevalência do consumo de tabaco é de 25% e a do uso de álcool é de 42%, que são, respectivamente, cinco e oito vezes maiores que a do uso de drogas ilícitas (5,0%). "Estudiosos das dependências às drogas lícitas e ilícitas apontam que o uso, o abuso e a dependência de substâncias psicoativas são mais um sintoma do que um problema em si mesmo. Há controversas e inconclusivas teorias que buscam explicar esse complexo fenômeno. Uma delas defende que o consumo de substâncias psicoativas busca acalmar e aliviar as tensões, ameaças e afetos negativos provocados pelas duras condições de trabalho e de vida e geradores de ansiedade", explicam as autoras no artigo.

De acordo com o artigo, o Brasil é considerado estratégico na condução de uma política sobre o uso de drogas na América Latina, por suas dimensões e fronteiras com vários países. Além de ser país de trânsito das drogas, é um mercado final para as substâncias ilícitas, não se caracterizando por ser produtor relevante de substâncias psicoativas. Estudo realizado com 7.939 entrevistados em 108 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes, em 2005, verificou que o uso na vida de qualquer substância psicoativa (exceto álcool e tabaco) no Brasil foi de 22,8%, porcentagem próxima à do Chile (17,1%) e quase metade da verificada nos Estados Unidos (45,4%), países onde levantamento semelhante foi realizado em 2004. Álcool e tabaco, substâncias lícitas, tiveram o maior percentual de uso no país (74,6% e 44%, respectivamente).

Segundo as autoras, nesse contexto, não admira que haja policiais civis e militares dependentes, visto que eles enfrentam um arriscado e estressante cotidiano profissional. O artigo, que utilizou dados de outros estudos desenvolvidos pelo Claves como subsídio, dividiu os profissionais em dois grupos: um com os que atuam nos setores administrativo, operacional e técnico (das Polícias Civil e Militar) e outro com os que trabalham como delegado, policial técnico, inspetor ou investigador, na Polícia Civil, e oficial, suboficial e praça, na Polícia Militar. O artigo analisou dados relativos a 36 unidades da Polícia Civil (15 administrativas e 21 delegacias). Na Polícia Militar, foram investigadas 17 unidades. O estudo levou em consideração três questões para chegar aos resultados: a frequência do consumo, a sua intensidade e os problemas decorrentes do uso de substâncias lícitas e ilícitas.

Os resultados da pesquisa alertam sobre a intensidade do consumo. Quando indagados se ficaram embriagados no último mês, 93,5% dos agentes civis e 86,3% dos militares afirmam que não. Entre os que responderam positivamente, foi observado percentual mais elevado de policiais militares que ficou embriagado (13,7%), contra 6,5% dos civis. Um total de 5,2% dos agentes civis e 8,7% dos militares informaram que ficaram embriagados de um a cinco dias no último mês. Com relação ao cigarro, a maior proporção foi de policiais militares (42,6% contra 25,9% dos civis) que consome de um a dez cigarros diários, ao passo que 74,1% dos civis e 57,4% dos militares fumam mais de 11 cigarros diariamente. O estudo apontou que, entre os policiais do Rio de Janeiro, foi observado maior consumo de tabaco, álcool e tranquilizantes.

“É preocupante a existência de uma parcela de 3% dos agentes militares e 0,5% dos civis que bebem e se embriagam durante 20 ou mais dias do mês, indicando claramente um quadro de dependência alcoólica. Por tudo isso, as duas Corporações devem atentar para a oferta e o consumo de substâncias psicoativas pelos policiais, procurando formas de auxiliá-los desde a sua entrada na polícia, e na continuação do seu trabalho, por meio de estratégias de prevenção ao consumo”, reforçaram as autoras. Acesse a íntegra do artigo. 


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