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Mulheres idosas são as principais vítimas de violência

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Publicado em:23/11/2012

Tatiane Vargas

 

Mulheres idosas são as principais vítimas de violência"A violência intrafamiliar acontece em todas as classes sociais, e não são apenas os mais pobres que enfrentam o problema. As famílias que possuem vínculos afetivos mais fracos são as que possuem os maiores índices de violência", destacou a pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Carelli (Claves/ENSP/Fiocruz) Edinilsa Ramos durante o painel Enfrentamento da Violência Intrafamiliar, realizado no 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2012). A mesa contou também com a participação da professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Stela Meneguel e da representante da Área Técnica de Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde, Gilvani Pereira Granjeiro. A atividade, coordenada também por Edinilsa Ramos, debateu a violência contra mulheres, idosos e as ações do Ministério para combater essas práticas.

 

A pesquisadora da ENSP abordou alguns estudos sobre violência desenvolvidos pelo Claves/ENSP e priorizou os casos contra a pessoa idosa. Segundo ela, essas situações estão de forma diretamente relacionadas à família. “Considera-se abuso contra idosos qualquer relação que cause danos ou omissões a respeito deles”, explicou. No âmbito da saúde pública, em específico no Brasil, o tema ganhou visibilidade na década de 1990, quando a preocupação com a qualidade de vida do idoso entrou na Agenda da Saúde Pública. Porém, de acordo com Edinilsa, somente em 2003, 13 anos após a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a notificação de casos de violência contra idosos passou a ser compulsória com a criação do Estatuto do Idoso. 

 

A pesquisadora apresentou algumas características da violência contra a pessoa idosa, entre elas, maus-tratos físicos e psicológicos, abuso financeiro ou material, abuso sexual, negligência, abandono, além do autoabandono e da autonegligência. Ela expôs também alguns dados sobre os impactos da violência contra os idosos em 2010 no Brasil, quando 23.423 idosos morreram por acidentes e violências, o que significa uma média de 64 óbitos por dia. Os homens representam a maioria nas taxas de mortalidade, sendo 62,5%. De 2000 a 2010, o risco de um idoso morrer por violência e acidentes cresceu 23%, sendo 17,6% entre os homens e 34,8% entre as mulheres. “A população de pessoas idosas do sexo feminino é muito maior que a masculina, e estudos apontam que os homens morrem mais cedo.” 

 

Mulheres idosas são as principais vítimas de violênciaNo âmbito das internações, Edinilsa apontou que, em 2012, no Brasil, foram internados 160.781 idosos por acidentes e violências. Nesse caso, os homens representam 46,1% e as mulheres 53,9%. “A relação dos acidentes por queda está intimamente ligada a situações de violência, pois, na maioria das vezes, esses idosos chegam à internação por causa de algum tipo de violência”. Em seguida, a violência intrafamiliar, entendida como violência doméstica, também foi abordada pela pesquisadora. De acordo com ela, esse tipo de prática dentro do lar, nas interações entre pai, mãe, filhos e parentes não deve ser considerada natural. “Cerca de 90% dos casos de violência ocorrem no seio da família e 2/3 dos agressores envolvidos nesses casos são cônjuges e filhos. Há forte associação nos casos em que o agressor físico e emocional usa drogas, aumentando em três vezes a incidência de violência”, observou.

 

Por fim, a pesquisadora descreveu alguns fatores de risco da violência contra a pessoa idosa, como problemas de saúde, relação com a família e o cuidador, além de questões sociais e ambientais. Falta de esperança, alienação, desordem pós-traumática, sentimentos de culpa e negação da violência foram definidos como consequência dos maus-tratos. “Cuidar é mais que um ato de atenção, é zelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação e responsabilidade, e de envolvimento afetivo com o outro”, destacou. No âmbito da saúde, o cuidado está relacionado à prática humanizada e integral, articulada com um conjunto de princípios e estratégias que devem nortear a relação entre o paciente e o profissional de saúde. 

 

Capacitação de profissionais para cuidado com pessoas em situação de violência

 

Para falar sobre a parte prática da situação de violência, ou seja, como os profissionais devem atuar no trabalho destinado a pessoas que sofrem maus-tratos, a representante da Área Técnica de Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde, Gilvani Pereira Granjeiro, apresentou o projeto de capacitação de profissionais de saúde para implementar a linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças e adolescentes e suas famílias em situação de violência. A capacitação ocorreu de setembro de 2011 a abril de 2012 e contou com cerca de 950 facilitadores e multiplicadores. O objetivo da ação foi capacitar profissionais de saúde e áreas afins na estratégia da linha do cuidado. 

 

Gilvani destacou que, tanto na capacitação realizada com facilitadores, quanto na realizada com multiplicadores, a maior parte do grupo é do sexo feminino e atua nas áreas de assistência social e enfermagem. “Os resultados colhidos nas avaliações deixam visível o processo de amadurecimento dos estados e municípios no âmbito da temática da gestão da violência, bem como o desejo de ver a linha do cuidado implantada de maneira a garantir a atenção integral da criança, adolescente e suas famílias sem situação de violência.” Por fim a representante afirmou que, embora os resultados das avaliações realizadas durante a capacitação tenham sido positivos, não se trata de um processo conclusivo, pelo contrário, inicia a necessidade da remodelagem de práticas no atendimento e a mudança de atitude na gestão dos processos de trabalho.

 

Mulheres idosas são as principais vítimas de violência

 

Encerrando a atividade, a médica sanitarista e professora da graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Stela Meneguel, relatou sua experiência de trabalho com os Grupos. Trata-se de espaços de conversa entre pessoas que vivem a mesma situação. Stela trabalha com diversos Grupos, mas priorizou em sua apresentação o Grupo de Mulheres que enfrentam situação de violência. De acordo com ela, os Grupos trabalham de maneira simples, organizando encontros e utilizando técnicas básicas para que os participantes sintam-se à vontade para expor seus traumas. 

 

Contando histórias que as mulheres relataram durante os Grupos, Stela apontou que o cabelo é visto como um indicador de saúde das mulheres, pois foi observado em diversos Grupos que, à medida que as mulheres iam se sentindo mais confiantes e melhor, a primeira coisa que elas mudavam eram os cabelos. Outro ponto abordado pela professora é a questão do estigma nos grupos, como algo que não pode existir para que as pessoas frequentem as atividades. “Os Grupos tem uma potencialidade muito grande, não são a solução de todos os problemas, mas, na coletividade, é possível se construir a resistência”, finalizou.

 


(Fotos: Tatiane Vargas - CCI/ENSP)


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