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Crack: seminário propõe estratégias de enfrentamento

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Publicado em:07/11/2012

“Este seminário promove um casamento entre academia e gestão. A aliança que sacramenta este casamento é o viés metodológico, ou seja, a metodologia como reflexão sobre o método. Essa é uma das chaves para o entendimento desta problemática, englobando todos os aspectos clínicos e epidemiológicos existentes nela”, destacou o mediador da terceira mesa do seminário Juventude, Crack e outras Drogas: Polêmicas, Alternativas e Políticas Públicas, Fernando Bessa, pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da ENSP. Além da terceira mesa, intitulada Abordagens clínicas e epidemiológicas, a parte da tarde do seminário contou com mais um debate, Desafios para a saúde pública e para o SUS, que teve por objetivo discutir os principais problemas enfrentados pelo setor saúde na problemática das drogas.

 

Crack: seminário propõe estratégias de enfrentamento

 

Esta mesa contou com exposições de três palestrantes: o pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Francisco Inácio Bastos, o professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ipub/UFRJ), Marcelo Cruz, e o coordenador adjunto da Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde (Dapes/SAS/MS), Leon Garcia. A terceira mesa do seminário foi mediada pelo pesquisador do DCS/ENSP, Fernando Bessa. Entre os temas expostos pelos palestrantes foram abordados: a caracterização dos riscos aos quais os usuários de crack estão sujeitos, do ponto de vista epidemiológico; as relações estabelecidas entre os riscos gerados pelo crack e os riscos gerados por outras drogas lícitas ou ilícitas; e quais os aspectos e elementos precisam ser enfrentados para que os riscos sejam significativamente reduzidos.

 

Crack: seminário propõe estratégias de enfrentamentoDando início à mesa, Francisco Inácio Bastos destacou que o fenômeno do crack é urbano e visível, com características diferentes do que se havia antes. Em seguida, entrou na contextualização da pesquisa nacional sobre crack, cujo principal objetivo é conhecer o perfil dos usuários da droga no Brasil. O estudo, do qual ele é integrante, é desenvolvido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) em parceria com a Fiocruz. A pesquisa está analisando os 26 estados do país e o Distrito Federal para traçar o perfil dos usuários e a situação de disseminação da droga nas cidades de médio e pequeno porte e na zona rural.

 

A pesquisa, que já está em fase final, será apresentada à sociedade, por meio de coletiva de imprensa, até dezembro deste ano. A divisão dos dados será realizada de acordo com as cinco macrorregiões existentes no país (Sul, Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste), analisando mais de 10 mil usuários de drogas encontrados nas cenas de uso. Francisco Inácio destacou que, por se tratar de uma pesquisa encomendada, os dados finais serão divulgados amplamente para a sociedade. “Posso adiantar que os dados que vamos apresentar estão bem balanceados na Região Nordeste, não balanceados na Norte. Já na Região Centro-Oeste, relativamente bem balanceados, e fortemente desbalanceados nas regiões Sul e Sudeste”, afirmou.

 

Crack: seminário propõe estratégias de enfrentamentoO professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ipub/UFRJ) Marcelo Cruz abordou em sua apresentação três aspectos principais: a questão da legalização das drogas, o acesso ao tratamento e uma política que o estruture, e a questão da internação. Segundo ele, “o consumo de crack, atualmente, está em sua maioria localizado na população mais pobre, e estes usuários estão expostos a mais riscos pelo fato de estarem muitos mais vulneráveis que qualquer outro tipo de usuário”. Em seguida, Marcelo fez uma breve contextualização sobre as drogas lícitas e ilícitas e apresentou o estudo que está sendo desenvolvido com usuários de crack do Rio de Janeiro e de Salvador, abordados nas ruas. Francisco Inácio também participa desta pesquisa.

 

A pesquisa aborda, entre outras características, a forma de uso do crack. No Rio de Janeiro, por exemplo, foi constatado que a maioria dos dependentes utiliza copos de plástico para uso da droga, e a usam em seu estado puro. Já em Salvador, a maior parte mistura o crack com outras drogas, como maconha e cocaína, e fazem uso de cachimbos para fumar a droga. De acordo com o professor, outra questão levada em consideração pela pesquisa foi o acesso aos serviços de saúde e a internação. Marcelo concluiu destacando a indefinição de alternativas de internação. Finalizando a mesa Abordagens clínicas e epidemiológicas, o coordenador adjunto da Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde (Dapes/SAS/MS), Leon Garcia, sinalizou a parte da gestão no enfrentamento ao crack e outras drogas.

 

Crack: seminário propõe estratégias de enfrentamentoLeon Garcia abordou o Programa de Enfrentamento ao Crack, lançado em dezembro de 2011 pelo governo Dilma. Para ele, é fundamental ressaltar os impactos existentes na tentativa de construção desta política sobre drogas. Em seguida, Leon suscitou um questionamento: Há ou não há uma epidemia de crack? Para ele, existe uma epidemia de preocupação com o crack. Em relação à internação, o coordenador citou que “o debate do tratamento é voltado muito mais para internação, e ela é apenas um capítulo deste debate, não a solução. Basta mostrar que 90% das pessoas são favoráveis à internação involuntária de usuários de crack, mesmo essa não sendo a melhor maneira de resolver os problemas”, afirmou. Por fim, Leon Garcia lamentou que a desigualdade social seja a maior explicação para a tragédia do crack atualmente.

 

Mesa encerra seminário debatendo desafios das drogas

 

Encerrando as atividades do seminário, a mesa Desafios para saúde pública e para o SUS contou com a participação do pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da ENSP, Paulo Fagundes, da gestora do Território Escola Manguinhos, Elyne Engstron, e do representante da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), Ekke Bingerman. A mesa foi mediada pela também pesquisadora do DCS/ENSP, Aline Inglez. Na mesa, foram abordados quais desafios a relação entre juventude, crack e outras drogas trazem para a saúde pública e para o SUS; que esforços governamentais devem ser adotados para tornar o sistema efetivo e resolutivo na promoção da saúde e no enfrentamento dos problemas de saúde gerados por essa tríade; e quais as implicações da articulação das comunidades terapêuticas (CT) com a rede pública de saúde frente ao que preconizam as diretrizes do Ministério da Saúde.

 

Crack: seminário propõe estratégias de enfrentamentoPaulo Fagundes fez comentários sobre a Política de Enfrentamento às Drogas do Ministério da Saúde e destacou a questão das internações. Segundo ele, a composição de leitos de internação é muito mais favorável em hospitais psiquiátricos. Paulo partilhou da afirmação de Leon Garcia que a internação não é a melhor opção. Porém, defende também que a oferta do Ministério da Saúde não é suficiente em nível de resolutividade. O pesquisador citou também a questão dos usuários e do serviço. Ele destacou que os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CapsAd) são estruturas mais fortes voltadas para estes atendimentos por possuírem enorme gama de atividades. Por fim, Paulo expôs a questão do estigma aos dependentes químicos e concluiu afirmando que “o estigma é o que mais discrimina os usuários de crack”.

 

Crack: seminário propõe estratégias de enfrentamentoA gestora do Território Escola Manguinhos, Elyne Engstron, falou sobre a iniciativa Teias e ressaltou que é fundamental falar da Atenção Primária (AP) como possibilidade de contribuir dentro do cenário de Manguinhos. Segundo ela, o que se vê atualmente é uma universalização da AP. Elyne destacou também a atuação e apoio dos Núcleos de Atenção à Saúde da Família (Nasfs), especialmente no território de Manguinhos, onde se atua com o modelo de Saúde da Família coordenando o cuidado. “Atualmente, temos 14 equipes de Saúde da Família. A 14ª equipe funciona há um ano como Consultório na Rua. No começo, essa experiência era uma necessidade do território, não havia normatização e a ideia surgiu das experiências de Consultórios de Rua. O Ministério da Saúde avançou muito na flexibilidade da Saúde da Família. Hoje, temos cerca de 400 usuários cadastrados, é preciso construir vínculos para isso. Nossa experiência é exitosa, porém, é apenas mais uma no enfrentamento ao crack e outras drogas”.

 

Crack: seminário propõe estratégias de enfrentamentoEncerrando o seminário, a última mesa da atividade contou com a participação do membro da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), Ekke Bingerman, representando a sociedade civil. Ekke atua diretamente com populações vulneráveis e erradicação da violência por meio de uma fundação Holandesa. Ele destacou a forma como a violência é capaz de mudar qualquer cenário e afirmou que é um engano dizer que a questão das drogas está diretamente relacionada apenas aos jovens, pois ela atinge boa parte da população. “Para enfrentar o problema das drogas, é necessária uma abordagem múltipla de tratamentos, e todos eles devem estar inteiramente à disposição dos usuários”, finalizou.


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