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Alternativas para destino de efluentes das cidades

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Publicado em:17/07/2012

Filipe Leonel

 
"Os emissários submarinos de esgotos sanitários se apresentam como uma importante solução para a falta de planejamento em cidades como o Rio de Janeiro". A afirmativa do pesquisador do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA/ENSP) Renato Castiglia Feitosa é uma resposta ao processo de degradação das águas costeiras, provocado muitas vezes pela ligação com sistemas lacunares poluídos e pela ineficiência de redes coletoras e de tratamento de esgotos. Para ele, a ocupação litorânea das principais cidades brasileiras tem se intensificado continuamente nos últimos anos sem o aprimoramento e a adequação das instalações de esgotamento sanitário.
 
O pesquisador comenta que a opção pelo uso de emissários provoca discussões no país desde a construção, na década de 1970, do emissário de Ipanema, e se estende pelas décadas seguintes, como pôde ser observado na relativamente recente instalação do emissário da Barra da Tijuca. “Durante a década de 1980 havia o consenso, por parte de ambientalistas, de que o emissário submarino poluiria o oceano e houve um movimento contra sua construção. Se tivesse sido instalado há vinte anos, a situação estaria um pouco melhor”, admitiu.
 
Alternativas para destino de efluentes das cidades
 
Os emissários submarinos são apontados como uma eficiente alternativa para o destino final de efluentes sanitários previamente tratados em virtude da elevada capacidade de dispersão e depuração da matéria orgânica no ambiente marinho. Essa capacidade, segundo Renato, reside na intensa energia disponível no ambiente marinho, em função da ação das correntes na dispersão do efluente, na disponibilidade suficiente de oxigênio dissolvido e na hostilidade desse ambiente à sobrevivência de microrganismos.
 
“No caso específico da cidade do Rio de Janeiro, os emissários da Barra de Tijuca e Ipanema lançam o esgoto a mais de quatro quilômetros da praia e os principais fatores influentes na degradação bacteriana são as variações de temperatura, salinidade e radiação solar. Portanto, o oceano tem condição de depurar a matéria orgânica lançada. Não são os emissários que poluem a praia, mas sim a ligação das águas dos sistemas lacunares com elevados índices de poluição com a costa”, enfatizou.
 
"Intensa ocupação do solo nas regiões costeiras dificulta tratamento do próprio esgoto gerado"
 
Renato afirma haver um impacto nas regiões adjacentes à tubulação difusora, mas em relação ao lixo encontrado na praia a população tem sua parcela de responsabilidade. “Se realizarmos um mapeamento nos 500 metros do entorno do ponto de lançamento do efluente verificaremos que há lodo no fundo do oceano, por exemplo. Mas, em função das escalas de comprimento envolvidas, esse impacto não é de grande relevância. Criou-se um grande mito sobre os emissários, principalmente no caso específico do emissário de Ipanema, onde o esgoto é lançado bruto, com apenas um gradeamento grosseiro”.
 
Na época de sua concepção, ainda de acordo com o pesquisador, não havia legislação especifica como a que existe atualmente, que preconiza o lançamento de esgoto no mar após tratamento primário. “Nesse caso, de fato é desejável um sistema de pré-condicionamento decente, com peneiramento progressivo, mas sua execução pode esbarrar na falta de espaço. Cabe ressaltar que a falta de informação e compromisso da população é responsável pela poluição provocada pelo referido emissário. É inaceitável que as pessoas joguem todo tipo de lixo no vaso sanitário, tais como absorventes femininos, cotonetes, preservativos, fio dental etc. Coisas desse tipo são lixo e não esgoto. Jogar lixo no esgoto não tem cabimento!”.
 
Uma alternativa aos emissários são os sistemas de esgotamento sanitário, que objetivam minimizar os impactos decorrentes da poluição dos cursos d’água no que diz respeito tanto à preservação do meio ambiente quanto à promoção de melhores condições de saúde pública, mas também significam grandes despesas para sua implantação, operação e manutenção e vêm acompanhados de um grande problema no caso da Zona Sul do Rio de Janeiro: a especulação imobiliária. 
 
Alternativas para destino de efluentes das cidades“A intensa ocupação do solo nas regiões costeiras não disponibiliza espaço nem sequer para o tratamento do próprio esgoto gerado. Há falta de comprometimento com a questão ambiental. Critica-se o emissário, mas como fazer o tratamento do esgoto sem áreas disponíveis para tal? Na teoria, não poderíamos construir tão perto da orla em regiões costeiras. A dinâmica do transporte de sedimentos, tanto pela ação dos ventos quanto pela ação das águas, é extremamente importante na estabilidade da faixa litorânea. Mais uma vez, porém, a especulação imobiliária se sobrepõe a qualquer coisa”, revelou.

 

(Fotos: arquivo pessoal)



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