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Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticas

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Publicado em:18/06/2012

Tatiane Vargas

 

Debatendo dois temas que estão diretamente relacionados – mudanças climáticas e desastres –, o último dia de atividades do seminário Saneamento e Saúde Ambiental: reflexões para a Rio+20 promoveu ampla discussão sobre mudanças do clima e cidades saudáveis; saúde ambiental e os desafios das megacidades; indicadores de vulnerabilidade e os impactos das mudanças climáticas; medidas de mitigação da mudança do clima nas cidades e seu impacto para saúde; estratégias de mobilização comunitária para chuvas fortes; e desastres e sustentabilidade. A atividade, realizada durante toda a quinta-feira (14/6), contou com a participação de diversos especialistas nos temas debatidos, além de dois colaboradores do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU.

 

Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticas

 

A primeira mesa do dia, Mudanças Climáticas, realizada na parte da manhã, contou com a participação da pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, a economista Martha Barata, que, além de ter sido palestrante, atuou em sua coordenação. Também estavam presentes à mesa, o pesquisador do Centro de Pesquisa René Rachou (Fiocruz) e colaborador do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC), Ulisses Confalonieri,  pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Andrea Young, e do integrante do ICPP, o engenheiro e especialista em energia e meio ambiente, Emílio Lèbre La Rovere. A pesquisadora Martha Barata, que iniciou as apresentações da mesa, abordou conhecimento científico sobre mudanças do clima em cidades, os desafios para integrar o conhecimento científico no planejamento e gestão urbana, e o aspecto da saúde na palestra Mudança do clima e cidades sustentáveis.

 

Pesquisas afirmam que até o ano de 2011 mais de 3,5 bilhões de pessoas (pouco mais da metade da população mundial) vivem em áreas urbanas, e, em um período de 20 anos, a população mundial cresceu 26%, ao passo que a população de áreas urbanas cresceu 45%. A economista citou também a prevenção e o controle da mudança do clima. Para ela, a demora em mitigar a mudança do clima pode ser muito danosa. Investir em ações locais foi uma das formas de prevenção pontuadas por Martha. Segundo ela, as cidades geram mais de 40% das emissões globais de gases contribuintes para o efeito estufa e são extremamente vulneráveis aos impactos do clima.

 

Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticasA pesquisadora falou sobre a criação do Assessment Report on Climate Change and Cities (ARC3) e ressaltou a importância da construção da base científica para as ações locais. O ARC3 tem por objetivo estabelecer relatórios de pesquisas científicas relacionando mudança do clima e cidade, de modo a apoiar políticas públicas locais e conhecimento para incrementar a capacidade para ação. “Se cada cidade fizesse o seu dever de casa, com certeza nós conseguiríamos alcançar a sustentabilidade”. De acordo com a economista, a alta densidade populacional das cidades amplifica o potencial negativo da mudança do clima, que por sua vez aumenta os problemas de saúde nas cidades, além de criar novos. Doenças como infecções, doenças de veiculação hídrica e alimentar, doenças provenientes de expansão de vetores, doenças respiratórias, desnutrição e outras foram descritas por Martha.

 

Mudanças climáticas, saúde ambiental e os desafios das megacidades: São Paulo e Rio de Janeiro foi o tema apresentado pela pesquisadora da USP, Andrea Young. O trabalho coordenado pela Fiocruz, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e Faculdade de Medicina da USP destaca o cenário das mudanças climáticas e megacidades. Ela apontou que, no Estado de São Paulo, atualmente, residem 20 milhões de pessoas na região metropolitana e, em um mundo onde existem mais de 7 milhões de pessoas, e muitas ainda irão nascer, pela primeira vez em toda a história do mundo, a grande maioria vai nascer no meio urbano, nas cidades.

 

Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticas“Com todas essas pessoas nascendo e sendo cidadãos, todos eles têm direitos igualitários como: moradia, saúde, educação, segurança, justiça social e ambiental. Em nossa lógica de construir cidades, que reflete consequentemente em nossos direitos ou na falta deles, principalmente diante da mudança do clima, há muita coisa errada em nossos cálculos”, afirmou Andrea. Para a pesquisadora, nossas cidades retratam muito claramente as desigualdades sociais e não estão preparadas para a mudança do clima. De acordo com ela, a devastação ambiental tem agravado a crise social e nossas cidades são mais insalubres, inseguras e estressantes. “Nosso maior desafio não é construir cidades cada vez mais extensas, com edifícios cada vez mais sofisticados e fora da realidade, do contexto e da natureza. Nosso maior desafio é mudar nossa lógica e refazer os cálculos”, aconselhou.

 

Indicadores de Vulnerabilidade e medidas de mitigação da mudança do clima

 

Para falar sobre a vulnerabilidade, o pesquisador do Centro de Pesquisa René Rachou (Fiocruz) e colaborador do IPCC, Ulisses Confalonieri, apresentou a palestra Indicadores de vulnerabilidade socioambiental e de saúde dos municípios do Rio de Janeiro aos impactos da mudança climática. Ulisses ressaltou que vulnerabilidade consiste em características de pessoas ou grupos em termos de sua capacidade para antecipar, resistir, manejar e recuperar-se dos impactos causados por desastres. “Quando se estuda vulnerabilidade é importante levar sempre em consideração o fator físico, geográfico”, alertou. O pesquisador apresentou a pesquisa Avaliação da vulnerabilidade municipal no Estado do Rio de Janeiro a mudanças climáticas, que teve por objetivo obter indicadores quantitativos de vulnerabilidade socioambiental e de saúde para cada município do Estado do Rio de Janeiro frente aos cenários projetados de mudanças climáticas.

 

Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticasOs indicadores da pesquisa apontam os componentes de vulnerabilidade mais importantes em cada município e macrorregião, e o fato de estar referenciado aos municípios lhe confere grande aplicabilidade na orientação de políticas públicas. Os resultados do estudo comprovam que, para o cenário climático mais pessimista, ou seja, com maiores emissões de gases de efeito estufa, o índice sintético de vulnerabilidade municipal apontou um conjunto de municípios da macrorregião metropolitana e seu entorno como o mais suscetível de sofrer maiores impactos do clima no futuro, e os indicadores parciais encontrados na pesquisa também podem ser utilizados para a orientação de políticas setoriais, sejam de saúde, socioeconômicas ou de proteção ambiental.

 

Encerrando a primeira mesa do dia, o integrante do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, o engenheiro e especialista em energia e meio ambiente, Emílio Lèbre La Rovere falou sobre Mitigação das mudanças climáticas em cidades. Ele destacou que as mudanças climáticas têm se constituído em uma das principais ameaças ao ambiente global. Essas mudanças são em parte atribuídas, direta ou indiretamente, às atividades humanas que modificam a composição da atmosfera global. Sobre mitigação, ele explicou que o principal objetivo é reduzir a taxa ou magnitude de alterações climáticas através da redução das emissões antropogênicas de gases do efeito estufa (GEEs), e se concentra em cinco setores-chaves para alcançar a redução, sendo eles: desenvolvimento e desenho urbano; ambiente construído; infraestruturas urbanas; transporte; e sequestro de carbono.

 

Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticasEmilio Rovere descreveu a situação da cidade do Rio de Janeiro no âmbito das mudanças climáticas em relação ao inventário de emissões gases - dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). O estudo apontou que, em 2005, a queima de combustíveis fósseis (setores de transportes, residencial, comercial, industrial e público) foi responsável por 71%; o transporte rodoviário, subsetor que mais emitiu, por 37%, e o setor de resíduos sólidos urbanos emitiu 16%. Por fim, o integrante do IPCC destacou que “as cidades precisam identificar e avaliar as consequências dos possíveis impactos causados pelas mudanças climáticas e combater as causas por meio de estratégias a serem integradas ou implementadas com outros planos setoriais locais, envolvendo diferentes stakeholders”.

 

Estratégias de mobilização comunitária desastres e sustentabilidade

 

Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticas

 

Dando início à segunda parte do evento, foi realizada à tarde a mesa Desastres, coordenada pela pesquisadora da ENSP Simone Cynamon Conhen. A atividade contou com a participação do representante da Cruz Vermelha, Fernando da Costa, e do coronel da Defesa Civil do Rio de Janeiro, Márcio Moura Motta. Apresentando a palestra Desastres e sustentabilidade: um paradigma a ser vencido, Fernando afirmou que as alterações no clima ameaçam todos os países, e os países em desenvolvimento são os mais vulneráveis. Segundo estimativas, de 75 a 80% dos custos de prejuízos causados pelas mudanças climáticas recaem sobre eles. “Desta forma, a política climática não pode ser concebida como a escolha entre o crescimento e a mudança climática. Políticas inteligentes são aquelas que melhoram o desenvolvimento e reduzem a vulnerabilidade”, expôs.

 

Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticasFernando citou diversos fatores como desafios para o desenvolvimento, dentre eles: alimentação, transporte, água, população, saúde, energia, pobreza, espaço urbano, áreas de risco e comunicação. Relacionando população e risco, o representante da Cruz Vermelha afirmou que a população não é estática e os efeitos das mudanças climáticas amplificam muitas formas de fraqueza humana. Em seguida, ele abordou o desastre e explicou que ele é o resultado de ruptura ecológica importante da relação entre humanos e seus ambientes. Atualmente, os desastres não são simples fenômenos meteorológicos, mas o produto de processos sociais que não garantem uma adequada relação com o ambiente - natural e construído - que dá sustentação à vida em comum”.

 

Por fim, Fernando apontou que se estima que, como efeito das mudanças climáticas, 300.000 mil pessoas de países muito pobres morrem a cada ano. Essas pessoas não têm recursos para se adaptarem às mudanças climáticas e não são responsáveis por isso. Finalizando a tarde de apresentações, o coronel da Defesa Civil do Rio de Janeiro, Márcio Moura Motta, apresentou a Estratégia de mobilização comunitária para implementação do sistema de alerta e alarme comunitário para chuvas fortes. Márcio definiu o georeferenciamento dos núcleos comunitários de Defesa Civil no Rio de Janeiro apontando os locais com suscetibilidade de risco. Em seguida, o coronel explicou o funcionamento da Estratégia de Mobilização Comunitária. Segundo ele, na primeira fase, 67 comunidades tiveram sirenes e pontos de apoio instalados e, na segunda fase, 35 comunidades.

 

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Rio+20: impactos e desafios das mudanças climáticasMárcio citou ainda a importância do trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Atualmente, o Rio de Janeiro conta com 3.500 agentes capacitados em Defesa Civil. O coronel apresentou a campanha sobre o alerta de chuvas fortes nas comunidades do Maciço da Tijuca – todas as comunidades que compõem o Maciço estão equipadas com sirenes e possuem pontos de apoio. Márcio destacou que a “Defesa Civil é uma instituição criada por militares e sua missão é não deixar a população exposta à água, atuando na prevenção e capacitação comunitária”. Concluindo, o coronel alertou para a importância e utilidade do serviço de alertas por mensagem de texto, via celular, que a Defesa Civil disponibiliza gratuitamente para a população.


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