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Um mundo em busca do desenvolvimento sustentável

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Publicado em:15/06/2012
Um mundo em busca do desenvolvimento sustentávelAs palestras do seminário de Saneamento e Saúde Ambiental: reflexões sobre a Rio+20 têm enfatizado a importância da participação popular para o desenvolvimento das ações de saneamento, e as mesas apresentadas durante a quarta-feira (13/6) não foram diferentes. A parte da manhã debateu a economia verde e destacou que este conceito atualmente é visto como uma manobra para promover o crescimento da demanda mundial por tecnologias ambientais e não enfrenta a lógica de produção capitalista. Já a mesa da tarde, Cidade e Habitação Saudável, contou com apresentações de quatro palestrantes que se complementaram ao destacar a importância do papel dos indivíduos na construção de um ambiente saudável e a necessidade de a habitação atuar como um agente da saúde de seus moradores e usuários.

Economia Verde: um conceito controverso


Paulo Buss comentou que, segundo muitos acordos internacionais, o desenvolvimento sustentável é formado por três pilares: econômico, ambiental e social. Mas envolve também o pilar político, que é o responsável pela articulação dessas esferas. “O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações de atender às suas próprias. A questão é que hoje existem múltiplas crises mundiais decorrentes do modo estrutural de produção e consumo ecoagressivo, desigual e excludente do capitalismo global.


Para Buss, em apresentação baseada no documento Saúde Rio+20: Desenvolvimento sustentável, ambiente e saúde – Documento para discussão, não se trata de uma crise conjuntural euro-americana. Essa crise estrutural se expressa em subcrises econômicas, sociais, alimentares, de emprego, energéticas e também, ambiental, sanitária e, em especial, ética. “O conceito e as práticas da economia verde foram apropriados pelos interesses do capital. O ‘esverdeamento’ das estratégias do capital não enfrenta o modelo vigente. É preciso ressaltar que outra economia é possível, desde que países ricos e desenvolvidos reduzam padrões de consumo, e países em desenvolvimento tenham metas também sustentáveis e responsabilidades diferenciadas”, apontou ele.


O documento desenvolvido pelo grupo de trabalho liderado por Paulo Buss está disponível no site sauderio20.fiocruz.br e ainda aceita contribuições. Ele já foi apresentado de forma preliminar em uma apresentação na ENSP e agora neste seminário, mas a ideia é que, assim como os documentos criados para a Eco-92, ele seja transformado em uma publicação.


Experiências de sucesso são apresentadas durante seminário


A palestrante Luciana Stocco Betiol, coordenadora do programa de consumo sustentável do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP/FGV), falou sobre o poder público como fomentador de fornecedores sustentáveis e contou sua experiência na área. Ela apresentou o caso de sucesso dos bikeboys, pessoas contratadas para fazer pequenas entregas no centro da cidade de São Paulo utilizando bicicletas, em substituição aos motoboys.
 
Um mundo em busca do desenvolvimento sustentável

"Com isso, a Prefeitura articulou a necessidade de um transporte mais sustentável com a demanda pela distribuição dos documentos.  Essa solução foi bem aceita e onerou menos recursos que a contratação dos motoboys. Hoje, este projeto já integra o sistema de compras da Prefeitura e qualquer secretaria pode implementar essa forma de contratação”, ressaltou Luciana, dizendo que os processos de compra sustentáveis enfrentam muitos obstáculos e ainda são um desafio para o país, pois requerem, em especial, a dedicação dos envolvidos na elaboração dos editais de licitações de compra e contratação.


O palestrante Renato Cader apresentou o tema das Compras públicas sustentáveis no contexto da economia verde e afirmou que historicamente os processos de tomada de decisão e formulação de políticas públicas ambientais envolvem apenas atores desta área. “Sentimos muita necessidade de uma transversalidade maior, de uma capilaridade com áreas como gestão, saúde, economia, entre outros. Mobilizar esses outros atores é o nosso grande atual desafio”, disse ele.


Assim como Paulo Buss, Renato também concorda que as pessoas estão dando um tratamento equivocado ao conceito de economia verde. “Minha principal inquietação com a questão da economia verde é que estão relegando ao segundo plano a sua principal lógica, que é a produção e o consumo sustentável. Devemos ter foco na transformação da matriz produtiva”, comentou ele preocupado. O foco de sua apresentação foi o projeto exitoso de compra compartilhada de produtos sustentáveis da administração pública federal, que foi premiado e envolveu diversas instituições, entre elas a Fiocruz.


Finalizando a mesa, o professor da UFRRJ e ex-secretário de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca de Itaguaí, Rio de Janeiro, Jailson Barboza Coelho, surpreendeu a todos apresentando os projetos e ações sustentáveis que foram implantados neste município. Realizando trabalhos desde 2005, Jailson conseguiu transformar a Secretaria de Meio Ambiente em um centro didático produtivo com projetos pilotos de sustentabilidade, como a casa de pneu, casa de pet, horta orgânica, uso de energia eólica e solar, cultivo de alimentos biofortificados, oficina de artesanato com produtos reciclados.


O papel do homem no ambiente saudável

Na mesa da tarde a atividade reuniu os palestrantes Simone Cynamon Cohen, da ENSP/Fiocruz; o pesquisador Miguel Sattler, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Muriam Burd, presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática; e Carlos Barceló, do Instituto Nacional de Higiene, Epidemiologia y Microbiologia (Inhem/Cuba) para o debate sobre o papel dos indivíduos na construção de um ambiente saudável e a necessidade de a habitação atuar como um agente da saúde de seus moradores e usuários.
 
Um mundo em busca do desenvolvimento sustentável

Primeira conferencista da mesa, Simone Cynamon abordou o conceito, a prática e a utilização da habitação saudável como um instrumento de promoção da saúde e suas dimensões culturais, econômicas e sociais. Ela descreveu o processo de criação da Rede Brasileira de Habitação Saudável - estratégia socioambiental, multidisciplinar e intersetorial com o propósito de identificar, avaliar e manejar a problemática da habitação saudável no nível local, tendo na participação comunitária a sua grande aliada.


Cidade saudável: estratégia de qualidade de vida


“Trabalhamos com uma visão de promoção da saúde nos ambientes e com o princípio da participação, da representatividade da população. A habitação se relaciona com os determinantes sociais da saúde, e devemos empoderar a população para que tenham noção da sua importância. É a concepção da habitação como agente da saúde de seus moradores.”


A construção de uma cidade saudável, segundo Simone, consiste no entendimento de uma estratégia principal: a qualidade de vida. “A cidade saudável é um processo, não um produto dado. Para isso precisamos modificar hábitos e com o desafio da intersetorialidade, ou seja, de articular as áreas da saúde, educação, ambiente, planejamento, economia e diversas outras para criarmos um novo saber promovendo a participação social.”


Um homem saudável para um espaço saudável


Na mesa seguinte, a presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, Miriam Burd, apresentou conceitos sobre os espaços que o ser humano ocupa destacando o lugar e papel do ser humano na sua criação. “Para construir uma cidade saudável, temos de construir um homem saudável.  “O homem é capaz de construir ou destruir. Ele ajuda ou aniquila o meio ambiente”, observou.


O engenheiro agrônomo Miguel Sattler, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, demonstrou o projeto das casas sustentáveis, construídas a baixo custo, com o objetivo de dar moradia digna às populações mais carentes. Sua apresentação demonstrou como é possível aliar os setores da arquitetura e urbanismo aos campos da saúde, meio ambiente e educação. “É possível termos edificações com fins educacionais. Queremos um planeta saudável, sustentável, mas junto com isso as regiões e as cidades. Tem de ser dessa forma, assim como o ser humano. Não conseguiremos nada disso se não tivermos um ser humano saudável também. Para isso, é preciso que o homem esteja bem mentalmente, fisicamente e espiritualmente.”


Carlos Barceló Perez abordou conceitos de saúde e o seu papel na habitação, discorrendo sobre as muitas definições de saúde existentes. “Habitação é o cenário no qual funções básicas para a vida humana devem ser desenvolvidas, como proteções biológicas e sociais da natureza dos indivíduos, produção e reprodução da vida material e imaterial dos indivíduos.” O  cubano ainda classificou o saneamento e a qualidade de vida como as duas principais vertentes da área de saúde ambiental e disse que a dimensão econômica mundial pode ser determinante para a deterioração do ambiente.


Economia verde se tornou questão de negócio


Economia verde já é um conceito controverso para muitos estudiosos do campo da sustentabilidade. Segundo o coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fiocruz, Paulo Buss, durante a mesa Economia Verde?, este conceito é visto como uma manobra para promover o crescimento da demanda mundial por tecnologias ambientais. “O atual definição não enfrenta o modelo vigente e já é uma questão de economia e negócio”, revelou ele, que coordena o Grupo de Trabalho sobre Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 da Fiocruz, responsável pela construção do documento Saúde Rio+20: Desenvolvimento sustentável, ambiente e saúde – Documento para discussão, que ainda não foi finalizado e aceita contribuições.


A quinta mesa do evento Economia Verde?, realizada no dia 13 de junho pela manhã, também contou com a participação de Luciana Stocco Betiol, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de Renato Cader, da Agencia Nacional do Cinema (Ancine), e Jailson Barboza Coelho, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O debate foi mediado pelo gestor de Infraestrutura e Meio Ambiente da Diretoria de Administração do Campus (Dirac/Fiocruz), Tatsuo Shubo.

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