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Incentivo do passado dificulta banimento do agrotóxico

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Publicado em:06/06/2012
 
'Agrotóxicos e modelo de desenvolvimento' foi o tema da primeira mesa do Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana e no Ambiente, realizado pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, na ENSP, na segunda-feira (4/6). Coordenada pelo pesquisador Marcelo Firpo, a atividade discutiu o modelo do agronegócio brasileiro e as dificuldades de combatê-lo. “O agronegócio foi introduzido como um diferencial do projeto militar da década de 1970, porque ele conquistou a academia, a mídia, o Congresso e se apresentou como solução para a pátria; por isso ele é mais difícil de ser combatido”, admitiu o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Guilherme Delgado.
 
Incentivo do passado dificulta banimento do agrotóxico
 
O pesquisador revelou que as discussões travadas no seminário correspondem a uma tentativa de construção ideológica de um pensamento contra-hegemônico, já que a cadeia produtiva agrícola estabelecida pelo país não atende às necessidades básicas da população em todos os sentidos. O pesquisador enumerou três principais dificuldades do enfrentamento.
 
Incentivo do passado dificulta banimento do agrotóxico“O agronegócio emergiu como uma resposta da economia brasileira aos mais de vinte anos de estagnação e dificuldade nas relações externas, tendo início após a crise cambial de 1999. Ingressamos, portanto, como novo produtor de bens primários no mercado mundial e, economicamente, essa teria sido uma intervenção virtuosa, pois o Brasil conseguiu, nessa conjuntura de vigorosa expansão do comércio de commodities, abocanhar uma grande parcela do mercado mundial. Isso foi apresentado como a salvação da pátria”, revelou.
 
Outro aspecto mencionado pelo palestrante foi em relação à superexploração dos recursos naturais e o seu custo social. “Se a economia vai se guiar pela exportação a qualquer custo para suprir o déficit das outras indústrias, só há como fazê-lo a partir de uma superexploração dos recursos naturais. De 2003 a 2009 houve um crescimento de mais de 140% da venda de agrotóxicos e esse crescimento implica uma desmesurada concentração de custos sociais. Custos que não têm expressão monetária, que não trazem prejuízo ao empresário, mas, sim, o assoreamento de rios, a perda de solos, a degradação de vertentes hídricas, e que só a sociedade sente. Só ela absorve esse custo. Enquanto for economicamente viável, esse padrão vai persistir”.
 
Na palestra seguinte, Horácio Martins, da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), questionou o que levou o país a se tornar o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, afirmando que “vivemos no contexto de um Estado máximo para o capital e um Estado mínimo para a população. A população não reage ou reage pouco. As políticas públicas compensatórias levam a uma desmobilização pública”.
 
Agronegócio mata
 
Incentivo do passado dificulta banimento do agrotóxicoAo falar sobre a agroecologia como uma alternativa de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável, afirmou que a proposta passa por uma nova leitura do camponês. “O enfrentamento dos agrotóxicos passa por uma reconsideração do campesinato. Isso está ligado à autonomia e à modernidade camponesa, a uma outra forma de cooperação e uma outra cultura, que proponha a expansão das formas de trabalho do camponês. A agroecologia tem que ter uma base social”, finalizou.
 
Na última palestra da mesa, o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Vicente Almeida, não tem dúvidas de que o agronegócio mata: “O agrotóxico é um processo inerente, está dentro dessa relação comercial de forma indissociável. Ele alimenta o capital e, por trás dele, há uma série de atos de violência”.
 
Vicente apontou alguns casos de contradição em relação ao agrotóxico. “Por mais que haja todo um discurso de alimentação saudável com elevação do consumo de frutas e verduras, a presença dos agrotóxicos nesses alimentos não garante o benefício desse hábito. Se analisarmos os transgênicos, só em relação à soja, de 2004 para 2008 a área plantada diminuiu 2,55%. Por outro lado, o consumo de agrotóxico aumentou 32%. Se a área plantada diminuiu, como houve aumento do consumo de agrotóxico? Há um estímulo desarticulado”.
 
Incentivo do passado dificulta banimento do agrotóxicoO presidente da Sinpaf comentou a mobilização da população na cidade e no campo e deixou uma mensagem à população. “Já passamos do tempo de banir o agrotóxico e ninguém mais questiona isso. É preciso falar que sua expansão mata, expulsa comunidades de suas terras, corrompe. O momento da dúvida passou, cabe a nós, agora, transformá-lo”.

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