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ENSP organiza e disponibiliza coleção única de paleoparasitologia no Brasil

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Publicado em:23/07/2010

Há muitos anos, pesquisadores da ENSP desenvolvem pesquisas na área de paleoparasitologia divulgando trabalhos e agregando materiais em seus acervos. Com o objetivo de organizar e tornar esse material disponível, a ENSP acaba de criar a curadoria para a Coleção de Fezes Recentes de Animais Brasileiros e para a Coleção de Paleoparasitologia, única no Brasil. A pesquisadora do Departamento de Endemias Samuel Pessoa e responsável pelas coleções, Marcia Chame, falou, em entrevista ao Informe ENSP, das novas possibilidades de estudo e acesso ao material, que somam cerca de 4 mil amostras.

Informe ENSP: De onde surgiu o incentivo para a organização dessas coleções que são utilizadas há tanto tempo?

Marcia Chame:
Estudamos o tema na ENSP há cerca de trinta anos, e o trabalho aqui na Escola começou com o doutor Luis Fernando Ferreira, ex-presidente da Fundaçào Oswaldo Cruz e fundador do termo paleoparasitologia. Durante todos esses anos, profissionais da área vêm trabalhando em diversas pesquisas, coletando materiais e também recebendo amostras de outros grupos de pesquisa do Brasil e do mundo. Recebemos amostras de coprólitos – fezes naturalmente mumificadas e fossilizadas –, humanas e de animais. A curadoria das coleções já existe há muito tempo, mas só recentemente, com um movimento da própria Fundação por meio da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência, que instituiu a Câmara Técnica das Coleções Biológicas da Fiocruz, cujo objetivo é gerenciar todas as coleções biológicas da Fundação, elas foram institucionalizadas.

Estamos no processo de formalização efetiva. Todas as unidades da Fundação que tiverem coleções terão de seguir o mesmo padrão; teremos de nos adequar às normas e diretrizes estabelecidas pela Fiocruz. Isso é um grande avanço na medida em que seguir um padrão de informatização e organização permitirá o melhor acesso aos dados, informações, remessas e todos os outros detalhes de cada peça da coleção. Como fruto desse processo maior, em julho de 2010, foram institucionalizadas, na ENSP, a curadoria para Coleção de Fezes Recentes de Animais Brasileiros e a curadoria para Coleção de Paleoparasitologia.

Dessa forma, as coleções se organizam e passam a ter uma estrutura específica responsável por todo o acervo, pelo tombamento das amostras, sua identificação, os registros de análises, entre outros. O material deixa de ser do pesquisador para se tornar acervo institucional. Na verdade, todas as amostras biológicas que todos os pesquisadores coletam são patrimônio do país. Junto comigo nesse trabalho está o também pesquisador do Densp/ENSP, Adauto Araújo, como vice-curador das coleções.

Informe ENSP: Qual é a importância de melhorar a gestão e o acesso de outros pesquisadores e instituições a essas coleções?

Marcia Chame:
As coleções guardam a maior riqueza biológica cientificamente conhecida do Brasil. A Fiocruz, em especial, é uma das instituições mais importantes do país no que se refere a coleções biológicas. Evidentemente existem outras instituições também importantes, como o Museu Nacional, os Museus da USP, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, entre outras. Contudo, nós temos grandes e significativas coleções em relação às questões da saúde.

Informe ENSP: O que encontramos nessas coleções e qual o objetivo de estudá-las?

Marcia Chame:
A Coleção de Paleoparasitologia e a Coleção de Fezes Recentes de Animais Brasileiros são únicas no Brasil e estão nos nossos laboratórios. Temos cerca de 4 mil amostras. Iniciamos os estudos com os coprólitos, mas, com o decorrer das pesquisas, passamos também a estudar parasitos em fezes recentes de animais da fauna brasileira e de animais domésticos, uma vez que as relações entre os homens e os animais são muito próximas. Esta relação se dá pelo convívio, a alimentação e proximidade e uso dos ecossistemas naturais. As amostras de fezes recentes podem ter mais de duas décadas, mas são chamadas de ‘recentes’ quando comparadas aos materiais de mais de 300 mil anos que manipulamos.

Fazemos essas pesquisas não apenas para identificar e analisar quais são os parasitas antigos e os que temos hoje, mas também para entender as suas relações com as populações humanas e as doenças atuais. Com isso, conseguimos dar suporte aos estudos da paleoparasitologia e podemos confrontar achados recentes com aqueles do passado.

Existe uma grande gama de estudos que podem ser feitos com essas duas coleções. E essas pesquisas nos abrem muitas possibilidades. Com elas, podemos avaliar mudanças de cenários climáticos, culturais, as relações do uso da biodiversidade etc.

Informe ENSP: Como e onde as coleções serão organizadas?

Marcia Chame:
Antigamente, e ainda hoje, os registros eram todos feitos em ‘livro tombo’, e as amostras guardadas em prateleiras. A partir da institucionalização das coleções, passaremos por um processo de informatização e digitalização das informações, que já vem ocorrendo por iniciativa própria. Estamos buscando também um espaço físico adequado e novas condições de armazenamento. Esse será um processo longo, e precisaremos de todo apoio possível.

Informe ENSP: Depois de tudo organizado, como pesquisadores de outros grupos e instituições terão acesso às coleções?

Marcia Chame:
A curadoria, na verdade, é a gestão desse enorme patrimônio. Uma coleção biológica tem a guarda de sua instituição e de seu curador, mas ela é de acesso público. Havendo interesse, um pesquisador poderá ter acesso aos dados, utilizar uma sub-amostra do material que possuímos etc. Porém, existe todo um protocolo de pesquisa que deve ser cumprido para essas solicitações. Preenchendo os requisitos e normas necessários, todos os interessados poderão utilizá-las. Queremos manter as informações e os dados disponíveis. É isso que se espera de uma coleção biológica pública.

Trabalhamos diretamente com arqueólogos e outros pesquisadores que fazem coletas de material no campo, como, por exemplo, nas escavações arqueológicas, e frequentemente nos remetem esse material para nossa coleção.

Informe ENSP: Essa nova organização vai gerar um interesse diferente na comunidade científica?

Marcia Chame:
Esse interesse já vem sendo constituído e a cada dia ganha mais amplitude. A equipe de Paleoparasitologia tem trabalhos conjuntos com diversas instituições, dentre elas as universidades de Nebraska, França, Argentina e outras.

Para o ano que vem, já estamos elaborando um seminário de paleoparasitologia em conjunto com a arqueologia. Queremos justamente aproximar a discussão das doenças dos homens antigos com um processo cultural do homem na pré-história. E assim saber das modificações ocorridas no mundo de hoje. O interessante é que, em muitos lugares, ainda encontramos pessoas que podem ser a ponte de ligação entre algumas culturas da pré-história com culturas do presente. Esse seminário faz parte das atividades do Instituto Nacional de Arqueologia, Paleontologia e Ambiente, que integra o grupo dos institutos nacionais de ciência e tecnologia em que a Fiocruz também está inserida. Nesse grupo, o nosso foco está nas relações entre a doença pré-histórica do semiárido brasileiro e as questões da arqueologia, paleontologia e ambiente.


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