INFORME ENSP

‘Alto Rio Negro’ é o tema da exposição que comemora a edição 80 da revista Radis (Reunião, Análise e Difusão de Informações sobre Saúde), publicada pela ENSP/Fiocruz, cuja matéria de capa é Agentes Indígenas de Saúde. As fotografias são do jornalista Rogério Lannes, coordenador do Programa Radis e ex-diretor da Asfoc, e ficarão em exposição na sede da Asfoc Sindicato Nacional dos servidores da Fiocruz, dentro da campus da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. A inauguração acontece nesta quarta-feira (1/04), às 16h.

A matéria principal da revista Radis é sobre a primeira turma do curso técnico de Agente Comunitário Indígena de Saúde: ensino médio indígena integrado à educação profissional técnica de nível médio. Os jornalistas Adriano DeLavor (repórter) e Rogério Lannes (fotógrafo) acompanharam as aulas do primeiro módulo, na aldeia de Vila Nova, às margens do rio Xié, afluente do Rio Negro, distante cinco horas de barco da sede do município de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas.

“Como a matéria de capa da Radis está focada no curso dos agentes de saúde, a seleção de fotos da exposição, que teve a curadoria da experiente fotógrafa Marian Starosta, privilegia as paisagens, as crianças e as cenas cotidianas das comunidades indígenas ribeirinhas dos rios Negro e Xié. Tanto a matéria quanto a exposição estão marcadas pela experiência de viajar pelo rio durante quatro, cinco horas em barcos de alumínio e motor de popa, as voadeiras, debaixo de horas tempestades. De repente, o tempo abria completamente e deixava a água espelhar o céu e a floresta. A matéria tem objetividade e as fotos, alguma técnica, mas ambas principalmente muita emoção”, descreve Rogério Lannes.

O objetivo do curso técnico de Agente Comunitário Indígena de Saúde é elevar a escolaridade dos 250 profissionais que atuam na área do Distrito Especial Indígena do Rio Negro (DSEI/RN). “Ficamos lá, eu e Rogério, por dez dias — cinco deles na própria aldeia — e acompanhamos as aulas e a vida que eles levam, as dificuldades que enfrentam etc. Tudo sobre o curso, as aulas, a vida dos agentes na aldeia, problemas de saúde estão retratados na matéria”, descreve Adriano DeLavor, autor da matéria de capa.

Para Rogério Lannes, além da aventura rio abaixo, ‘Alto Rio Negro’ é sua primeira exposição em 28 anos de jornalismo. “Sempre fui repórter de texto, deixando a fotografia para o lazer. No ano passado, fiz a cobertura fotográfica do congresso de Epidemiologia da Abrasco, para o Radis para substituir um membro da minha equipe, e acabei gostando da experiência. Em janeiro, com mais tempo, por não estar mais à frente da Asfoc, me escalei para a reportagem no Alto Rio Negro e trouxe um material interessante demais para usar apenas na revista”, destacou.



Edição especial da viagem explora educação e cultura

Como a revista número 80 da Radis é uma edição especial da viagem, as demais matérias também foram feitas por lá. Uma delas é sobre as três línguas oficiais, além do português, do município São Gabriel da Cachoeira: nhengatu, baré e tukano. A reportagem aborda a realidade local e sua interferência na educação e na vida cotidiana. Outra matéria faz o relato do resgate de um doente na fronteira do Brasil com a Venezuela e a Colômbia. “Além de narrarmos a aventura (de voadeira, pelo rio Negro), aproveitamos para falar sobre as condições de trabalho dos profissionais de saúde que atuam na região, onde tudo é longe, faltam alimentos básicos e as locomoções são feitas pelos rios”, destaca Adriano.

A revista também publica duas entrevistas: uma delas com Luiza Garnelo, coordenadora do curso e pesquisadora da Fiocruz Manaus; e a outra com o índio baniwa Gersem dos Santos Luciano, nascido na região de São Gabriel da Cachoeira e hoje filósofo, doutorando da UnB em Antropologia Social e representante dos indígenas no Conselho Nacional de Educação. Ele fala da região, dos desafios e dos planos para a I Conferência Nacional de Educação Indígena, prevista para este ano.